A resposta está na ponta da língua. Estudantes da rede pública que agora experimentam o sabor da paz ao longo do ano letivo deixam claro que Educação menos violência é igual a mais aprendizagem. Em questionário aplicado por O DIA a alunos do Ensino Fundamental da rede municipal, com acompanhamento dos professores, eles revelam maior atenção, assiduidade nas aulas e melhor compreensão do conteúdo didático. É a equação da paz dando voz a uma parcela da população antes emudecida pela violência.
A pesquisa ouviu 105 alunos de escolas em áreas que antes obedeciam à cartilha imposta pelo tráfico de drogas. Dos que responderam ao breve levantamento, 71,4% já sentiram na própria pele algum tipo de violência física ou psicológica.
A terra sem lei era tudo o que conheciam. "Os alunos tinham mais exemplos de violência, de guerra. Nos restava falar que não era só assim e que poderia haver mudanças se a gente estudasse. Agora, experimentam o novo momento", diz a professora Renata Malafaia, orgulhosa de ver o desempenho dos pupilos na Escola Municipal Francisco Benjamin Gallotti, no Morro da Providência, Centro do Rio. A escola tirou 8,2 na Provinha Brasil, exame do MEC que avalia o nível de alfabetização de crianças do 2º ano - a antiga 1ª série.
O resultado ficou acima da média geral da rede, que foi de 7,5. Com a pacificação, os números se tornaram mais fáceis. A violência diminuiu para 76,2% das crianças e adolescentes entrevistados por O DIA. A maioria esmagadora (94,2%) voltou a percorrer o caminho da escola com frequência jamais vista. Mais presente à aula, o aluno enxerga chances de futuro: 88,5% declararam aprender mais agora do que na fase pré-UPP. "Era muito difícil fazer o dever direito. Se a gente estava com alguma coisa certa na cabeça, ouvia os tiros e esquecia tudo. Depois do tiroteio, não conseguia prestar atenção na aula", diz a estudante do 5º ano Maiara do Nascimento, 10 anos, do Ciep Dr. Antoine Magarinos Torres Filho, no Morro do Borel, na Tijuca.
Maiara guarda viva a lembrança do período em que as verdadeiras lições que aprendia no Ciep eram de sobrevivência: ¿Quando tinha tiroteio, a gente corria para a rampa do Ciep¿. Aprendeu cedo que as paredes de concreto eram a blindagem possível contra os horrores da guerra, do lado de fora. Após dia de intenso tiroteio, a diretorageral Lenita Vilela de Souza agia rápido a novo sinal de conflito. "Colocávamos as crianças nos corredores atrás das paredes e, por muitas vezes, deitávamos no chão. A chegada da UPP é a resposta aos nossos pedidos de oração. Antes do hino, pedíamos paz para o Borel", diz.
O sossego fez os jovens olharem de outra forma para a escola. "Antes, eu não queria vir à aula. Agora até fujo de casa para aproveitar todas as atividades. Eu amo essa escola", conta Tamires da Luz, 12 anos, aluna do 5º ano da Pedro Aleixo, na Cidade de Deus. São alunos como ela que têm ensinado aos educadores e ao governo que a equação da paz não tem limites de resultado.
Terra
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