Crise na Câmara de Cuiabá reforça decepção com políticos, diz analista


Após semestre improdutivo, Câmara se concentrou em disputa de poder.
Análise é do professor Alfredo da Mota Menezes, PhD em História.

Renê DiózDo G1 MT
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Primeira sessão ordinária da nova Legislatura foi nesta terça (Foto: Assessoria/Walter Machado)Para professor, Câmara agrava descrédito da
classe política. (Foto: Assessoria/Walter Machado)
A crise deflagrada na última semana dentro da Câmara de Cuiabá devido à briga entre a base do prefeito e a oposição pelo controle da presidência só contribuiu para o agravamento do sentimento de decepção da população nas ruas da cidade com seus representantes políticos. Além disso, pode até engrossar eventuais novos protestos como os que tomaram as avenidas da capital mato-grossense em junho.
A crítica é do articulista político e professor Alfredo da Mota Menezes, PhD em História da América Latina, que enxerga o atual momento de tensão dentro do parlamento cuiabano como um “repeteco” das disputas por poder que tanto desmoralizaram a Câmara municipal em anos anteriores e que tanto foram repudiadas durante os históricos protestos que levaram mais de 45 mil às ruas da cidade. Para ele, mesmo com a renovação dos quadros, os vereadores só demonstram que não aprenderam a lição das ruas.
“Eles não entenderam nada. A legislatura passada foi apelidada de 'Casa dos Horrores'. Agora, é quase como aquelas sequências de filmes no cinema: 'Casa dos Horrores 2'”, resume o articulista, assombrado com os fatos da semana.
Crise
Na última quinta-feira (29), vereadores da base do prefeito resolveram declarar o afastamento o presidente da Casa, João Emanuel (PSD), devido a supostas irregularidades; entre elas, ter barrado a participação de vereadores de apoio ao prefeito Mauro Mendes (PSB) numa comissão parlamentar de inquérito (CPI) criada para investigar um contrato da prefeitura.
João Emanuel se disse vítima de um gope orquestrado pela Prefeitura; já o Palácio Alencastro respondeu que o presidente da Casa - assegurado no posto sob proteção de uma decisão judicial desde a noite de sexta-feira – só tem travado esta briga com o Poder Executivo porque nos bastidores exige mais repasse de dinheiro para a Câmara.
'Repeteco'
Na teoria, o Poder Legislativo é responsável por representar a população, debatendo e aprovando projetos de interesse público e fiscalizando os atos do Poder Executivo.
Entretanto, para Menezes, este papel tem sido cada vez mais deixado de lado; os vereadores têm se concentrado sobretudo em cobrar mais verba para conduzir os trabalhos da Casa e usar os instrumentos de investigação previstos no regimento interno mais para fazer valer seus interesses de poder que para, de fato, fiscalizar ou apurar qualquer coisa. Enquanto isso, nenhum projeto de relevância para a vida da população é discutido ou aprovado.
Vereador João Emanuel (PSD) diz não reconhecer legitimidade de afastamento assinado pelos 16 vereadores. (Foto: Gésseca Ronfim / G1)João Emanuel (PSD) se mantém presidente sob
proteção de liminar. (Foto: Gésseca Ronfim / G1)
“Tudo o que eles tentaram produzir até agora foi apenas depois das manifestações de junho. Se espremer, até agora este ano a Câmara não fez absolutamente nada para a população”, enfatiza Menezes, lembrando que a população se mostra agora mais propensa a se manifestar contra a classe política.
Se a conduta dos parlamentares prosseguir da forma como está, ele aposta que sevirá de combustível para protestos na capital em breve – assim como, em nível nacional, deve funcionar a recente votação do Congresso sobre o mandato do deputado federal Natan Donadon, do PMDB de Rondônia, preso após ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal por desvio de dinheiro.
Com ou sem protestos, Menezes finaliza apostando que o cuiabano e o brasileiro em geral tendem a espelhar o comportamento da população italiana. No país europeu, escândalos de corrupção e brigas pelo poder em detrimento do trabalho para a população também são temas frequentes no noticiário.
“Mas lá, com Berlusconi e tudo o mais, ainda é uma das principais economias do mundo. A sociedade simplesmente ignora e se vira sem depender do que a política produz, e toca em frente. Aqui no Brasil acho que vai ser a mesma coisa, vamos tocar em frente independentemente”.
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