Juiz mostra-se disposto a construir o perfil de político
Não resta a menor dúvida de que Riva detém boa liderança no interior do Estado e pode ser o anfitrião do juiz Julier em muitos setores. É essa a principal contribuição que Riva pode dar à candidatura de Julier. Após a visita, os comentários de Riva sobre Julier foram magnânimos e mostram bem que o deputado já perdoou o juiz por ter determinado a prisão da esposa dele Janete Riva, na operação conhecida como Jurupari. Lembro-me bem de que na época tive oportunidade de me manifestar considerando a prisão um equívoco, pois na verdade Julier queria era prender o Riva e como não podia violou o princípio da intranscendência criminosa e prendeu a Janete.
Nada disso parece preocupar nem Riva, nem Julier. Ambos resolveram se autoelogiar. Um, procurando pelo deputado para tentar viabilizar a sua gestão e outro com a convicção que conseguirá agora demonstrar aos eleitores que Julier é um homem bom e justo. Não se sabe apenas se será Riva quem fará o mea culpa e admitirá que Janete estava errada e Julier certo em determinar a prisão dela, ou se Julier é quem terá a humildade de dizer que errou como juiz ao determinar a prisão da dona Janete, atual secretária de Cultura.
"O juiz Julier, com mais essa visita política, mostra-se disposto a semanalmente ir destruindo a toga de magistrado e construindo o perfil de político"
O juiz Julier, com mais essa visita política, mostra-se disposto a semanalmente ir destruindo a toga de magistrado e construindo o perfil de político. O que ele aposta é nesse perfil de um político confiável aos políticos, aos piores políticos.
Para traduzir as incursões de Julier é possível afirmar que ele não se importa em ser o candidato de Silval, do Éder Moraes e do deputado Riva. Pretende demonstrar com isso que é um homem aberto ao diálogo e como político sabe fazer os temperos desejados por aqueles que, ao longo dos anos, fizeram negócios com a política e se enriqueceram às custas do erário, pois não se tem notícia de que qualquer deles tivesse recebido salários com dinheiro fêmea.
A forma como Julier se movimenta na política é desrespeitosa com a magistratura e macula a toga que ainda ostenta e deveria honrar. Recentemente, tomou decisões políticas na Justiça, em desfavor de Blairo Maggi esteve viajando com e na condição de convidado de Mauro Savi para a Exposul em Rondonópolis, e agora vem reunir-se com o deputado Riva, de forma a desafiar o Conselho Nacional de Justiça, que não permite atuação político-partidária pelos integrantes da magistratura. Depois de desincompatibilizar-se desse mister, poderá como qualquer cidadão fazer a militância política, mas a verdade é que Julier vem se movimentando como político de carreira e continua sendo juiz.
Para a política é muito saudável que Julier exiba seu perfil verdadeiro antecipadamente. Ele não tem nenhum escrúpulo em buscar a filiação no PT, o partido que acaba de ser condenado pelo Supremo no caso Mensalão, de ser simpático e admitir filiação ao PMDB que faz uma gestão pra lá de temerária e contestada no governo do Estado e agora busca a benção, o aval e a proteção do deputado Riva, o parlamentar que reúne em sua atuação todos os símbolos negativos do parlamento.
Antes de começar a sua carreira política, Julier já destruiu a biografia que imaginava ter. Pessoalmente tive oportunidade de demonstrar, quando no Senado, que não é a primeira vez que ele usa a toga politicamente. Pra quem se enganou, ou se deixou iludir pelo marketing do magistrado, foi bom perceber que são mínimas as diferenças entre Riva e Julier e enormes as semelhanças. Sinceramente, se merecem!
ANTERO PAES DE BARROS é radialista, jornalista, advogado, ex-vereador, deputado constituinte e senador da República.
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