Membros do grupo intitulado 'Frente de Luta Contra o Aumento', cerca de 100 manifestantes organizaram um protesto em Goiânia contra a repressão da Polícia Militar Foto: Mirelle Irene / Especial para Terra
Membros do grupo intitulado 'Frente de Luta Contra o Aumento', cerca de 100 manifestantes organizaram um protesto em Goiânia contra a repressão da Polícia Militar
Foto: Mirelle Irene / Especial para Terra
  • Direto de Goiânia
Membros do grupo intitulado “Frente de Luta Contra o Aumento”, cerca de 100 manifestantes organizaram um protesto em Goiânia contra a repressão da Polícia Militar (PM) ao movimento nas ruas em Goiânia e região metropolitana, além das reivindicações pela melhoria do transporte público e da educação. 
Segundo a estudante Geovana Silva Rosa, 16 anos, uma das coordenadoras da ação - mobilizada pelas redes sociais - a principal bandeira desta quinta-feira foi mesmo protestar contra a criminalização dos protestos, expresso na prisão de manifestantes. “Na última manifestação foram nove militantes presos. A gente já conseguiu liberar todos eles, mas quatro deles ainda estão respondendo processo”, explicou.
Segundo Geovana, a atuação da PM de Goiás tem sido exagerada e pautada nas agressões contra manifestantes que, segundo ela, nada fizeram de mais. Por causa do medo de represálias na manifestação de hoje, muitos participantes cobriram os rostos ou não quiseram divulgar os nomes.  “Realmente está perigoso, está todo mundo com medo”, admite Geovana.
Crescimento de protestos dificulta controle
Sobre a atitude violenta que acontece nos protestos por parte de alguns grupos minoritários, a estudante disse que o crescimento dos protestos aumenta a dificuldade de certas situações.
“Somos compostos de várias pessoas, de várias ideologias. Eu, por exemplo, não posso responder por 60 pessoas que podem não ter a mesma ideologia que a minha. O movimento é pacífico, mas reconheço que tem gente que exagera, é inconsequente”, disse. “Mas a partir do momento que a polícia começa um confronto, a gente está exercendo um direito nosso,  a gente não vai ficar quieto, sem fazer nada”, completou. Segundo ela, os manifestantes estão sendo monitorados via redes sociais, celulares e outros meios.
Caio (que prefere não declarar o sobrenome, alegando medo de ser identificado), 17 anos, estudante de Matemática da Universidade Federal de Goiás (UFGO), acrescenta que o protesto pede também o arquivamento dos inquéritos contra manifestantes que foram presos pela polícia.
“Eles são indiciados por coisas que não fizeram, por portar coisas que não eram deles”, acredita. Ele diz que foi agredido fisicamente pela PM, e mostra marcas perto do olho que seriam as provas da agressão. “A gente tem vários casos de agressão e também de abuso sexual”, denuncia. Geovana Silva completa dizendo que o alegado abuso teria sido cometido por um PM contra uma moça que participava de manifestações anteriores, e consistiu em toques e palavras de baixo calão. A vítima não teria denunciado o crime por medo de perseguição. 
Questionado sobre a presença de vândalos infiltrados nos protestos, o estudante mostra uma visão pessoal sobre a atuação dos manifestantes nos protestos. “A gente não chamaria de vândalos, porque o pessoal da periferia é violentado todos os dias. As pessoas pagarem R$ 2,70 para andar num transporte coletivo nesta qualidade é uma violência. É uma série de violências que as pessoas não percebem e que, sim, eclodem nesta depredação. E a gente compreende. A gente trabalha com a semanticidade. A gente não está quebrando um ônibus, a gente está, de certa forma, quebrando o sistema”, disse.
Partindo da praça Universitária, a manifestação foi até a sede do Ministério Público de Goiás (MP-GO), onde a Polícia Militar chegou a fazer um cordão de isolamento ao redor do prédio.
O protesto conseguiu bloquear o trânsito em frente ao prédio. Uma comissão dos manifestantes foi recebida pelo procurador-geral de Justiça, Lauro Machado. Os estudantes entregaram a ele uma carta em que pedem melhorias no sistema de transporte coletivo, como a revogação do contrato de concessão do transporte coletivo e publicação das planilhas de custos e lucros das empresas, e denúncia - acompanhada de um vídeo em DVD - mostrando a  violência da polícia durante as manifestações.
Ao saírem do MP, os manifestantes foram para a praça Cívica e atearam fogo em pneus nas imediações do Palácio Pedro Ludovico Teixeira, sede do governo estadual, obrigando o desvio do tráfego.
Polícia nega abusos
Em resposta às alegações dos manifestantes da Frente, o assessor de comunicação da PM de Goiás, tenente-coronel Walter Caetano, afirmou que as acusações de repressão exagerada não tem fundamento. “A PM está a favor das manifestações, e estamos presentes nas manifestações até para dar proteção para os manifestantes que se manifestam de forma pacífica, ordeiros, pessoas de bem”, garante. 
Segundo o tenente-coronel, porém, a PM tem atuado contra “baderneiros” que se infiltram nos protestos, mas sem abusos ou exageros. De acordo com o militar, pessoas só foram presas nos últimos protestos por praticar vandalismo contra, por exemplo, ônibus e prédios públicos, além de carros e sedes de veículos de imprensa, e outras condutas semelhantes.
Sobre a acusação de que policiais estariam cometendo abuso sexual em manifestantes, o assessor da PM nega. “Isso nunca chegou a nosso conhecimento, é preciso que seja denunciado, se aconteceu. Aí, você pode ter certeza que, se comprovado, tomaremos medidas a altura contra quem fez isso”, disse.
O coronel ressaltou que, até agora, nenhum manifestante foi ferido nas manifestações em Goiânia, e lembrou que, ao contrário, PMs foram feridos. “Seis policiais foram gravemente machucados e nenhum manifestante foi ferido”, afirmou. 
Segundo o delegado Isaías Pinheiro, do 1º Distrito Policial de Goiânia, para onde a maioria dos manifestantes presos foi encaminhada, dentre os oito detidos durante os últimos protestos, além de vândalos, há assaltantes  e bandidos acusados de outros crimes. “Eles são os mesmos que se infiltram em torcidas organizadas”, disse.
Protestos criticam a Copa e pedem melhores condições de vida pelo País
Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
O grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.
Especial para Terra