Mendes: enfim um gestor com estilo?

Jorge Maciel  
No filme “Wall Street”, de Oliver Stone, em que são retratados os bastidores do mundo dos altos negócios (a Bolsa de Nova York), o milionário (Michael Douglas) e um corretor (Charlie Sheen) ficam tão ligados ao ponto do milionário tornar-se uma espécie de “patrão” do corretor. Numa reunião, então, o corretor pergunta o que fazer para resolver uma situação. A resposta do magnata, Michael Douglas, mesmo considerando a amizade entre ambos, é concisa. E de chofre: “eu te pago para encontrar as soluções. Se não me trazes, não me serves”.
Inicialmente apreensivo com a administração pública, ou deslumbrado e inseguro como um noivo dos anos 40 na primeira noite de lua-de-mel, oriundo da iniciativa privada, onde algumas medidas vão a cabo num estalo de dedos, o prefeito Mauro Mendes (PSB), depois de perceber a estatura da responsabilidade e passar pelo regime de decantação, parece estar aprendendo o caminho das pedras, nos erros iniciais, na prática, e, muito rapidamente, a diferença entre administrar uma empresa no tamanho que seja e administrar para o bem de toda a sociedade. São pesos distintos. Nos dois modelos, cobrar resultados é regra e passa a ser prática premente, tão imprescindível, que, deixar de fazê-lo pode ser o aforismo de morte para as empresas. No setor público, de forma bem mais intensa, vacilar pode implicar no colapso das instituições e no dano geral e irrestrito a toda população. Ou, quando pouco, em prejuízo seu, tendo projetos de ascensão política para os anos próximos.
O desligamento dos secretários Rogério Varanda (Serviços Urbanos) e Clenon Borges (Comunicação, na semana passada, antes Adriana Barbosa (Gestão),representa o implícito feitio de cobrar resultados e dar sentenças, uma lição para quem jaz e um bom sinal para quem fica ou [ainda] está como auxiliar do seu governo. O prefeito deles não viu respostas às atribuições que lhe foram dadas no início do mandato, pode negar o quanto lhe convier educada ou politicamente. Não tão surpreendente, dado seu estilo já começando a ser aflorado e conhecido, Mauro Mendes deu ao PV a oportunidade de arranjar outro e, fez da sua cota pessoal, uma escolha elogiada pelo segmento da comunicação local. É... Um bom gerente é como um técnico do esporte: troca as peças ante a ineficácia, na busca de melhores resultados.
Sabe Mendes, como todos sabemos, que o único perene por quatro anos ali, salvo sobressaltos, é ele mesmo. E ele só, uma vez que o vice eleito se precipitou para as espirais do parlamento estadual. Aos secretários e auxiliares, lhes resta paródia da sábia verve de Vinicius: eles têm posto infinito, sim, mas enquanto durarem.
Há dias, fiz referência ao prefeito Mauro Mendes como um administrador de postura marcial, disposto a mostrar superioridade e relativa pose de onisciência. Hoje, caio ante o conceito de que, por trás da silhueta e tais modos, sobressai em si a decisão de cobrar ações dos auxiliares a sua forma, nos sabores e efeitos da idiossincrasia. Antes, é certo, o prefeito contribuiu para o sinônimo e concepção coletivos de pedante, parecendo agora esse predicado ter sido formado, quem sabe (?), por ingênua e tortuosa orientação de quem saiu ou dos que nem mesmo estão no governo. Talvez ainda haja nos corredores e gabinetes do palácio municipal conselheiros que também não darão as respostas exigidas por Mendes, mas ainda são parte do staff.
Considero acertada a decisão de Mendes fazer os ajustes na equipe, como o fez, sem titubear, firme e irredutível. Uma deliberação que tem a marca da personalidade ponderável, para melhor, sem dar margem a intromissões e brechas a enxeridos ou abelhudos partidários. Mas pelo que foram Clenon ou Varanda, na administração, e não pelo que são particular e pessoalmente, Mauro Mendes marcou pontos.
Aliás, muitos pontos. Daqui para frente, a torcida é para que os ajustes venham sempre que preciso e para que a máquina produza os resultados que o prefeito e todos esperam.