Falha em raios X motiva pedido de exumação em mortos no Rola

Tiro que acertou o peito de Ewerton não teve orifício de saída Foto: Ilustração
Herculano Barreto Filho
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O pedido de exumação dos corpos de Ewerton Luiz da Cruz Neves e Douglas Vinicius da Silva foi solicitado por causa de uma falha técnica. O equipamento de raios X, que auxilia na localização de projéteis, não estava funcionando durante o exame de necrópsia. Os dois estavam entre os cinco mortos na ação de policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e do Serviço Aeropolicial (SAer) na Favela do Rola, em Santa Cruz, em 16 de agosto do ano passado.
A falha no aparelho foi relatada nos exames feitos nos corpos de Ewerton e Douglas. “Após exaustivas buscas e pela inoperância do aparelho de RX, não foi encontrado o projétil”, escreveu a legista Áurea Torres, que assinou os laudos.
Um dos corpos é removido de um local para outro pelos policiais na operação
Um dos corpos é removido de um local para outro pelos policiais na operação Foto: Reprodução de vídeo
O pedido de exumação foi feito pela Corregedoria Interna da Polícia Civil (Coinpol), que investiga o caso, e teve parecer favorável do promotor Luiz Antonio Ayres. O objetivo da investigação é encontrar projéteis nos corpos, para confronto balístico. O inquérito foi enviado nesta quarta-feira para a 1ª Vara Criminal da Capital e será apreciado na próxima terça-feira.
O laudo apontou que Ewerton tinha marcas de tiros em três partes do corpo. Além disso, o rapaz também sofreu fraturas em dois pontos — bacia e joelho direito.
Tiros no peito
O laudo de necrópsia feito em Douglas apontou uma lesão provocada por um tiro, que atravessou o seu peito. O exame ainda cita outro ferimento, também no peito, sem marca de saída.
A operação em que Ewerton e Douglas morreram tinha como objetivo combater o tráfico. A filmagem da ação foi feita por duas câmeras que estavam em helicópteros que sobrevoavam a comunidade — uma era acoplada no Águia 3 e outra foi fixada na cabeça de um policial, tripulante do Águia 2.
O vídeo, com 91 minutos e 15 segundos de duração, foi divulgado pelo EXTRA em 11 de maio. Ele mostra policiais modificando a cena do crime ao carregarem um corpo por 70 metros até um bar. Ao todo, 28 agentes participaram da operação.
Foto: Reprodução de vídeo
Especialistas criticam falta de exame
Dois especialistas consultados pelo EXTRA analisaram os exames de necrópsia de Ewerton e Douglas. O perito criminal Mauro Ricart disse estar “envergonhado” com as condições em que a perícia foi realizada.
— Em alguns casos, fica difícil para localizar o projétil. Com os raios X, o legista consegue isso. O projétil não foi localizado por falta de equipamento adequado. Mas estamos no Rio de Janeiro e nem sempre isso acontece. Me sinto triste e envergonhado como perito — criticou.
Ricart, diretor do Instituto de Criminalística e da Polícia Técnica do Rio nas décadas de 80 e 90, isentou a legista responsável pelo laudo:
— Ela se viu privada de uma ferramenta de trabalho importante e ficou de mãos atadas. Se houve essa falha, é uma falha lamentável.
O médico legista Talvane de Moraes, que também teve acesso aos laudos cadavéricos, disse que o pedido de exumação por determinação judicial está previsto em lei, mas é incomum.
E, segundo ele, pode ser prejudicado pelo estado avançado de decomposição dos corpos, nove meses depois das mortes. Talvane disse ainda que as lesões nos ossos podem ajudar o trabalho dos peritos, caso haja uma exumação.



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