Pedofilia é tema de palestra


Promotor que atuou na CPI Contra a Pedofilia apresentou trabalhos do grupo e exemplos de crimes na Faahf
Luciano Demetrius
Integrante da CPI Contra a Pedofilia, que durou entre abril de 2008 a agosto de 2010 e é considerada a maior da história do Brasil, o promotor de justiça da Comarca de Divinópolis (MG), Carlos José e Silva Fortes, participou do evento “Todos Contra a Pedofilia e Exploração Sexual Infantil”, realizado na noite de sexta-feira, 21, no auditório da Faculdade Arnaldo Horácio Ferreira (Faahf), organizado pela Igreja O Brasil Para Cristo, de Luís Eduardo Magalhães.
Aproximadamente 50 pessoas entre estudantes, advogados e professores assistiram á palestra de cerca de duas horas, com demonstrações de exemplos de casos citados durante a CPI e explicações a respeito da pedofilia. “Até cerca de cinco anos atrás não era comum falar sobre pedofilia no Brasil. Hoje o assunto ganhou destaque na mídia, principalmente após os trabalhos da CPI que, além de denunciarem os criminosos, deram vazão ao tema”, afirmou Fortes.
Segundo o promotor, os números da pedofilia são restritos no país. “Não havia estatísticas precisas para estudarmos durante a CPI. O que encontramos foi uma das raras referências que vêm do Hospital Pérola Byington, de São Paulo, tido como o maior centro de atendimentos às vítimas de violência sexual”, disse. De acordo com o último levantamento do hospital, entre 1994 e 2008, foram registrados 11.966 atendimentos a crianças e adolescentes e, desses, 6.350 foram às vítimas com até 12 anos e 5.616 às com idade entre 13 e 18 anos. “O índice aumentou significativamente nos anos seguintes”, acentuou Fortes.
Reportagem de 13 de maio último do jornal Folha de São Paulo força a afirmação do promotor: a primeira e única delegacia dedicada ao crime de pedofilia no Brasil, em São Paulo, aponta que em 2012 houve 3.117 denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes, ante2.814 do ano anterior (aumento de 10,76%). No Brasil, segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o acréscimo foi de 20%.
A CPI, disse Fortes, atuou em três frentes durante os dois anos e quatro meses de atuação: na produção legisladora (criação de leis contra abuso e exploração infantil), conscientização da população e estudo e apuração de casos específicos. “A difusão da internet no Brasil contribuiu para a investigação e denúncia dos pedófilos”, afirmou.
O momento que causou impacto na plateia, durante a palestra, foi na demonstração de casos acompanhados pela CPI. Entre os crimes estavam o de exploração sexual e o de estupro cometido por pais e tios. Fortes disse que apesar do conhecimento público a respeito da pedofilia, ainda são insuficientes as denúncias.  “A culpa pela expansão da pedofilia é minha e de vocês. Isso porque todos nós somos da cultura de não denunciar, ficamos na zona de conforto”.
O perfil do pedófilo é indefinido e ele,na maioria das vezes, é de uma pessoa próxima ou pertencente à família da vítima. “O pedófilo pode ser religioso ou ateu, rico ou pobre, letrado ou analfabeto. O que os pedófilos têm em comum é a covardia”, afirmou Fortes. Segundo a delegacia, 40% dos pedófilos têm entre 18 e 40 anos, 25% estão acima dos 40 e 35% têm até 17 anos. O número de pedófilos com parentesco com a vítima chega a 40%. Dos outros 60%, grande parte tem alguma relação com a família da vítima. Segundo o banco de dados, das vítimas violentadas, 80% são meninas e 60% possuem de 7 a 13 anos
Atualmente, o promotor integra a campanha “Todos Contra a Pedofilia” que atua com informações via site (www.todoscontraapedofilia.ning.com) , distribuição de cartilhas e palestras pelo país. “A campanha conta com apoio de artistas, o que considero positivo pois a população presta atenção no que seus ídolos dizem. Caso recente foi da apresentadora Xuxa, que admitiu ter sido abusada sexualmente na infância. A afirmação dela causou polêmica, mas ao menos encorajou muitas pessoas a denunciar casos que ocorriam próximas a elas”.
Por fim, o promotor ressaltou cuidados a serem tomados no atendimento à vítima de abuso sexual. “A primeira reação é de capturar o criminoso. Porém, as pessoas se esquecem da vítima, que precisa ser amparada, ser levada a um médico e ter atendimento psicológico. Depois, é que é necessário apurar o delito”.
O  crime de abuso sexual contra crianças e adolescentes pode ser punido com pena de oito a 15 anos de prisão. Já os crimes virtuais, são punidos com penas de três a seis anos de reclusão.