Parentes de vítimas da Kiss cobram ação do MP sobre soltura de réus

Objetivo é definir como agir para reverter decisão do TJ-RS.
Promotores Joel Dutra e Maurício Trevisan participam da reunião.

Bernardo BortolottoDa RBS TV
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Boate Kiss Santa Maria (Foto: Bernardo Bortolotto )Parentes de vítimas estão reunidos com promotores (Foto: Bernardo Bortolotto/RBS TV)
Familiares de vítimas do incêndio da boate Kiss se reuniram na tarde desta segunda-feira (3) com os promotores Joel Dutra e Maurício Trevisan, de Santa Maria, de Santa Maria para cobrar explicações sobre a soltura de quatro réus. O objetivo é definir com o Ministério Público como agir para reverter a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A tragédia, ocorrida em 27 de janeiro, causou a morte de 242 jovens. Os sócios da boate Kiss Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo dos Santos e o produtor Luciano Bonilha Leão, foram soltos na noite da última quarta-feira (29) após um pedido de liberdade provisória ter sido julgado em Porto Alegre.
Liberdade provisória para réus foi concedida por unanimidade
O pedido de liberdade provisória ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul partiu do advogado Omar Obregon, que representa o vocalista do grupo que tocava na boate Kiss no momento em que iniciou o incêndio. A decisão de conceder a eles liberdade provisória foi tomada por unanimidade entre os desembargadores da 1ª Câmara Criminal do TJ-RS, por três votos a zero. Os desembargadores acreditarem que os quatro réus não representam riscos para o processo e para as vítimas e que não há mais o clamor social que justifique a prisão preventiva. Na mesma seção, eles negaram o pedido de anulação de recebimento da denúncia.
O Ministério Público já confirmou que vai entrar com um recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) nos próximos dias para tentar reverter a liberdade provisória. Segundo os promotores Joel Dutra e Maurício Trevisan, de Santa Maria, o prazo para recorrer é de cinco dias. A data que o MP deve formalizar o recurso não foi divulgada.
Sócios da boate Kiss e músicos são solto (Foto: Editoria de Arte / G1)Sócios da boate Kiss e músicos foram soltos
na noite de quarta (Foto: Editoria de Arte / G1)
Os sócios da casa noturna Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo dos Santos e o produtor Luciano Bonilha Leão, deixaram a prisão em Santa Maria ainda na noite de quarta.
Além de justificar a soltura dos réus, principalmente de seu cliente, Jader Marques reforçou que continua trabalhando pela responsabilização do prefeito Cezar Schirmer na tragédia. "Levei todas as provas que eu pude, estou fazendo todo o esforço que eu posso em relação ao Schirmer. Se nada disso der certo, já tenho todos eles como testemunhas do Kiko", disse o advogado, se referindo também a outras autoridades, como bombeiros. "Ele não fez a obra sozinho", completou.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, resultou em 242 mortes. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco.
O inquérito policial indiciou 16 pessoas criminalmente e responsabilizou outras 12. Já o MP denunciou oito pessoas, sendo quatro por homicídio, duas por fraude processual e duas por falso testemunho. A Justiça aceitou a denúncia. Com isso, os envolvidos no caso viram réus e serão julgados. Dois proprietários da casa noturna e dois integrantes da banda foram presos nos dias seguintes à tragédia, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro em 29 de maio.
De acordo com o juiz Ulysses Louzada, de Santa Maria, a primeira audiência relativa ao processo criminal deve ser marcada na próxima semana. Paralelamente, outras investigações apuram o caso. Um inquérito Policial Militar analisa o papel dos bombeiros no caso, desde a concessão de alvarás e a fiscalização do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) até o atendimento aos feridos na tragédia. A investigação deve ser concluída nos próximos dias, segundo a Brigada Militar.
Na Câmara dos Vereadores da Santa Maria, uma CPI analisa o papel da prefeitura e tem prazo para ser concluída até 1º de julho. O Ministério Público ainda realiza um inquérito civil para verificar se houve improbidade administrativa na concessão de alvará e na fiscalização da boate Kiss.
Veja as conclusões da investigação
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso no palco
- As faíscas atingiram a espuma do teto e deram início ao fogo
- O extintor de incêndio do lado do palco não funcionou
- A Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás
- Havia superlotação no dia da tragédia, com no mínimo 864 pessoas
- A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular
- As grades de contenção (guarda-corpos) obstruíram a saída de vítimas
- A casa noturna tinha apenas uma porta de entrada e saída
- Não havia rotas adequadas e sinalizadas de saída em casos de emergência
- As portas tinham menos unidades de passagem do que o necessário
- Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas

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