Latas velhas


Mesmo com a tarifa mais barata, o transporte de Cuiabá é péssimo

As manifestações que iniciaram em São Paulo pela redução da tarifa do transporte tornaram-se um embrião de protestos generalizados, mostrando que a nova geração recuperou a capacidade de se indignar.

Como efeito direto, o prefeito de Cuiabá antecipou e abaixou em dez centavos o preço da passagem, de 2,95 para 2,85. Ainda assim, ficou entre as três mais caras do Brasil com um serviço de transporte coletivo entre os piores do país.

Todos sabem que os empresários do ramo dos transportes e combustíveis são generosos doadores de campanha e a cada eleição o usuário paga a conta.
"Todos sabem que os empresários do ramo dos transportes e combustíveis são generosos doadores de campanha e a cada eleição o usuário paga a conta"

Em Cuiabá as rotas são definidas pelos empresários, pelo critério único e exclusivo do mais lucrativo. O sistema alternativo que foi criado para suprir a deficiência das empresas regulares perdeu o foco e se tornou um balaio de gato.

A frota não atende à demanda e a maioria dos ônibus já estão velhos. Não existe o mínimo de organização, ônibus param no meio das avenidas para embarque e desembarque de passageiros, atrapalhando o trânsito e colocando a vida dos usuários em risco. Os pontos, que existem são um lixo, sem coberturas numa cidade que faz em média 38 graus.

Fazendo uma comparação superficial, em Juiz de Fora, cidade com o mesmo número de habitantes que Cuiabá, que ontem reuniu doze mil pessoas em um manifesto, o preço da passagem é 2,05 e tem um dos melhores sistemas do Brasil, com faixas exclusivas, e o ano da carroceria é obrigatoriamente estampado em letras garrafais atrás, na frente e nas laterais dos veículos.

A indignação não se resume ao preço das passagens, mas na qualidade e na falta de respeito ao usuário. O que começou por dez centavos, rapidamente, se estendeu aos bilhões que vão pelo ralo da corrupção, das licitações direcionadas aos amigos, da lentidão da justiça, dos recursos mal gastos na saúde e a péssima educação de base.

Há alguns anos atrás uma liderança do Partido da Mobilização Nacional disse que eleição estava virando um hobby de milionário, sua profecia se tornou realidade. Os altos custos de uma eleição inviabilizam o acesso da grande maioria dos brasileiros, e os compromissos com os generosos doadores comprometem e limitam os gestores, e aí de quem não cumprir, que o diga o ex-prefeito Celso Daniel.

Para se ter uma ideia do atraso que o transporte urbano de Cuiabá e região se encontram, a última vez que se discutiu o aglomerado urbano de forma séria foi na gestão de Roberto França. Para avançarmos de forma concreta é preciso urgente consolidar o aglomerado, obviamente de forma transparente e com participação do toda sociedade, priorizando a população e não os lucros dos patrões.

Que não se enganem os prefeitos e governadores, não serão dez centavos que ira aplacar a fúria dessa juventude.

RODRIGO RODRIGUES é jornalista e analista político