Investigador foi designado para centralizar e acompanhar todos os desaparecimentos; sumiços efetivos, porém, são poucos | |
Investigador é designado para acompanhar todos os casos |
Eles saem de suas casas. As horas passam e o retorno costumeiro não ocorre. Quando os familiares percebem, aumentou-se a estatística dos desaparecidos. Segundo levantamento extraoficial do JC, nos últimos 30 dias, Bauru registrou 11 famílias que passaram por esse drama. Contudo, os números, de acordo com a Polícia Civil, são mascarados pela subnotificação do encontro dessas pessoas.
Dos 11 casos noticiados, seis são jovens. “Hoje, há muitas brigas familiares e problemas envolvendo namoros”, informa o delegado seccional de Bauru, Marcos Mourão. “Além desse perfil, o maior problema é que a vítima volta e o fato não é comunicado”, complementa.
Mourão estima que a subnotificação de reencontros ocorra em 80% dos casos. Tanto que, há uma semana, instituiu um investigador em Bauru para concentrar todos os casos e acompanhá-los.
Há um ano, o JC fez amplo levantamento de todas as pessoas que, naquele momento, estavam desaparecidas em Bauru. O “mapa dos invisíveis” apontava 61 casos, sendo que a maior parte das vítimas tinha envolvimento com álcool e entorpecentes.
Muitos desses registros eram de pessoas que não desaparecem de fato, mas sim abandonaram seus lares e cortaram o convívio em sociedade.
Vale destacar que, curiosamente, nos 11 casos recentes ocorridos em Bauru, em nenhum deles há, no registro, indícios do envolvimento com drogas.
Apesar de a polícia investigar todos os registros de pessoas desaparecidas, o delegado explica que a quantidade do que é considerado “desaparecimento efetivo” é ínfima. Ínfima, porém, preocupante. Nos casos em que a causa é um total mistério, é sempre aventada a hipótese de sequestros, homicídios e o tráfico de pessoas. “Mas, na região de Bauru, esses casos são raros”, destaca Marcos Mourão.
Recentes
Dos casos noticiados pelo JC neste intervalo de 30 dias, pelo menos oito voltaram para casa ou o paradeiro foi descoberto (um deles, estava preso por furto), comprovando as considerações da polícia. Foi a história de Thaina Leandro dos Santos, de 14 anos. Ela desapareceu na noite de sexta-feira, porém, após dois dias, voltou para a casa. A informação foi confirmada pela família ontem, que preferiu não divulgar o motivo do sumiço.
Voltou para casa também Fábio Carvalho Araújo, de 36 anos, que estava desaparecido desde o último dia 28. Após sete dias sem dar informações, o enfermeiro reapareceu.
Drama semelhante, porém, mais curto, viveu a família de Fabiano Catori, 28 anos. Ele, que sofre de esquizofrenia, sumiu nesta terça-feira e foi reencontrado no dia seguinte perto de Agudos.
Mais um
Ontem, mais um desaparecimento foi registrado. De acordo com familiares, Laércio José Soares, 50 anos, sumiu na última quarta-feira da chácara Nova Morada, na zona rural de Bauru. O aposentado pode ter ido para uma feira agropecuária em Ourinhos, algo que ele já fez outras vezes. Lá, ele recolhe latas e vende sorvetes. Outra possibilidade é ele ter ido para Pederneiras, pois, nos últimos dias, falava sobre isso. No registro, familiares apontam que o homem possui crises e não levou seu remédio controlado. Ontem mesmo, no início da noite, veio o alívio: Laércio retornou.
Mito das 24 horas
É necessário esperar 24 horas para registrar um desaparecimento? “De maneira alguma”, é o que afirma o delegado seccional de Bauru, Marcos Mourão. Esse mito é senso comum na população e prejudica as investigações.
“A família é quem tem que julgar o tempo que representa um desaparecimento. Se a pessoa for registrar e o policial disser que existe este tempo mínimo, ele está errado. Ele não é orientado a fazer isso. Pode até configurar como prevaricação do funcionário público”, complementa o seccional.
Ana Paula desapareceu há 20 dias
Se a maior parte dos casos tem o desfecho desejado, o mesmo não ocorreu com Ana Paula de Oliveira dos Santos, moradora do Jardim Vitória. A adolescente de 13 anos está desaparecida desde o último dia 25. “Não tenho nem palavras mais”, desabafa a mãe da garota, Maria Luzinete de Oliveira, de 38 anos.
De acordo com ela, antes de desaparecer, a filha havia pedido permissão para namorar um homem de 30 anos. Pela diferença de idade, a mãe negou o pedido. “Acredito que pode ter relação com isso”.
Maria Luzinete, que tem outros cinco filhos, saiu para trabalhar e, quando retornou, não encontrou mais sua filha. Desde então, não tem informações sobre seu paradeiro.
Ana Paula de Oliveira dos Santos tem aproximadamente 1,50 metro de altura, é morena e tem cabelos lisos. A família pede para quem tiver informações entrar em contato no telefone 9805-1107.
Diálogo é melhor forma de prevenir
Quando se fala em desaparecimento, a grande parte dos registros envolve jovens. Desses, muitos decorrem de problemas familiares. Por conta disso, especialistas apontam que o diálogo é a melhor maneira de evitar esses “sumiços”.
“A adolescência é a fase em que os indivíduos estão experimentando uma série de situações. É nesse ponto que ocorre o conflito com os pais”, explica a psicóloga e professora do Departamento de Psicologia da Universidade Sagrado Coração (USC), Maria Ivone Marchi Costa.
Ela, que é especialista em criança, adolescente e família, destaca que, dependendo do modo como essa divergência é resolvida, podem surgir as consequências, inclusive, o desaparecimento.
“É preciso haver diálogo. E não é um diálogo impositivo. É necessária uma conversa de conscientização. Não se pode dizer ‘não e pronto’”, destaca a psicóloga. “Porém, é preciso que os pais se mantenham na posição de pais”, ressalva Maria Ivone Marchi Costa.