Jucione prestou depoimento por mais de uma hora nesta quinta-feira (13).
Ela é suspeita de participar de um esquema internacional de tráfico de órgãos.
Pollyana Araújo Do G1 MT
Jucione contou ter conhecido agenciador de esquema de tráfico de pessoas com ‘braço’ na Bahia.
(Foto: Vilson de Jesus / AL MT)
À Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas, da Câmara Federal, Jucione Santos Souza, de 29 anos, presa por suspeita de sequestrar um recém-nascido no dia 30 do mês passado, em Cuiabá, alegou nesta quinta-feira (13) que cometeu o crime porque estava sendo ameaçada pelo homem que teria encomendado o bebê à ela, mas que ainda não foi identificado pela polícia. Ela foi ouvida durante audiência realizada no auditório na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, na capital, e é suspeita de participar de um esquema internacional de tráfico de órgãos. O depoimento dela durou mais de uma hora e meia.
“Ele ameaçou matar a minha filha e fiz o que ele pediu por medo de que fizesse algo com ela. Sei que agi errado e me arrependi, mas ele me ameaçou várias vezes”, disse sobre a filha de 7 anos, que foi encaminhada ao Conselho Tutelar após a mãe ser presa em flagrante com o recém-nascido que tinha sequestrado após fazer ‘amizade’ com a mãe do bebê, de um mês e 15 dias, em um ponto de ônibus na Praça Maria Taquara, no Centro de Cuiabá. A mãe da criança é uma adolescente de 15 anos.
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Porém, ela afirmou que não denunciou o suspeito, identificado apenas como “Carlos”, bem como ‘obedeceu’ todas as ordens dadas por ele, porque teve medo. “Não denunciei porque fiquei com medo. Tive vontade de denunciar, mas ele sabia todos os locais onde poderia me encontrar”, disse, ao alegar que teria procurado o Conselho Tutelar na tentativa de obter auxílio para viajar ao nordeste onde a família dela mora. “Pedi ao Conselho Tutelar passagem para ir embora, mas falaram que ia demorar muito”, alegou.
‘Carlos’
Jucione contou ter conhecido esse homem, que na avaliação dos membros da CPI faz parte de uma rede de tráfico de pessoas que teria ‘braço’ na Bahia, após pegar carona com ele porque teria pedido o ônibus no qual embarcaria. “O conheci na hora errada, no momento errado”, disse. Ela disse que à princípio pensou que o homem quisesse lhe passar uma ‘cantada’, mas que depois confiou porque precisava ir embora e seguiu junto com a filha com o suposto desconhecido até em casa.
Jucione contou ter conhecido esse homem, que na avaliação dos membros da CPI faz parte de uma rede de tráfico de pessoas que teria ‘braço’ na Bahia, após pegar carona com ele porque teria pedido o ônibus no qual embarcaria. “O conheci na hora errada, no momento errado”, disse. Ela disse que à princípio pensou que o homem quisesse lhe passar uma ‘cantada’, mas que depois confiou porque precisava ir embora e seguiu junto com a filha com o suposto desconhecido até em casa.
Suspeita confessou crime e que bebê seria levado para o exterior (Foto: Dhiego Maia/G1)
Por conta dessas supostas ameaças que Jucione teria sofrido e ainda poderá estar recebendo, o vice-presidente da CPI, deputado federal Luiz Souto (PT-PB), pediu à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de Mato Grosso que dê a garantia de proteção à suspeita para que ela denuncie os outros prováveis integrantes do esquema criminoso, principalmente o suposto agenciador que a teria contratado para sequestrar um bebê de, no máximo, cinco meses.
No entanto, não especificou a cor, o que, segundo o parlamentar, deixa a entender que realmente se tratava de tráfico de órgãos e não de sequestro para adoção.
Quando Jucione foi presa, no bairro Jardim Industriário, na capital, após ser denunciada por uma vizinha, o bebê que estava em poder dela usava roupas de menina na tentativa de supostamente despistar a polícia. Ela disse que a criança seria levada na semana seguinte à Vitória da Conquista (BA) onde seria entregue à uma mulher e que receberia R$ 35 mil pelo sequestro da criança. Porém, ela negou que tivesse cometido o crime por dinheiro, mas sim em decorrência das ameaças. O agenciador que iria lhe dar a passagem.
Deputado federal José Augusto Maia na audiência da CPI em Cuiabá. (Foto: Vilson de Jesus / AL MT)
Crime
Para conseguir pegar a criança, após 15 tentativas frustradas com outras vítimas, a suspeita começou a conversar com a mãe do bebê no ponto de ônibus e depois pegou o mesmo veículo que ela. Durante o trajeto, as duas conversaram e Jucione alegou que precisava alugar uma criança por dois dias para apresentar ao marido que supostamente estaria no exterior e iria passar o final de semana em Cuiabá.
Para conseguir pegar a criança, após 15 tentativas frustradas com outras vítimas, a suspeita começou a conversar com a mãe do bebê no ponto de ônibus e depois pegou o mesmo veículo que ela. Durante o trajeto, as duas conversaram e Jucione alegou que precisava alugar uma criança por dois dias para apresentar ao marido que supostamente estaria no exterior e iria passar o final de semana em Cuiabá.
Para isso, ela ofereceu R$ 5 mil à adolescente. Questionada sobre o caso contado à mãe do bebê, ela disse que fez tudo sob orientação do agenciador, que seria um ageota, com idade entre 50 e 55 anos.
Depois de descerem do ônibus juntas, no bairro Pedra 90, na capital, as duas pararam porque começou a chover. “Paramos embaixo de um toldo”, contou, em depoimento. Em seguida, ela segurou o bebê e deu R$ 100 para que a adolescente fosse a uma loja comprar um guarda chuva. Nesse momento que a mãe saiu, ela fugiu com a criança e contou com a ajuda de um carro, conforme relatos de testemunhas. Ela foi presa dois dias depois e confessou o crime. Segundo a suspeita, ao perguntar para o agenciador se iria matar o bebê, ele respondeu: “mais ou menos”.
Para o deputado José Augusto Maia (PTB-PE), membro da Comissão, Jucione tenta se passar por inocente, mas que ‘a única inocente no caso é a criança’. “Ela faz parte de uma rede criminosa e está protegendo os demais integrantes dessa quadrilha. “Você está protegendo ele e com isso você está sendo prejudicada”, disse o parlamentar ao tentar convencê-la a contar tudo que sabia sobre o suposto esquema.
De acordo com o delegado Gianmarco Pacolla, da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), que apura o caso, ela deverá responder por sequestro, falsificação de documento público e furto. Ele afirmou que a intenção nesse momento é obter as imagens do suspeito captadas no momento em que foi a uma agência bancária, em março deste ano, e, com isso, localizá-lo.
Durante as investigações, a polícia encontrou na casa da suspeita uma declaração de nascido vivo em nome de uma menina e uma certidão de nascimento falsa. Os documentos seriam usados na viagem até a Bahia.
Fonte: http://g1.globo.com