O abuso e a violência sexual infantil não são questões novas ou produtos do século XX. Trata-se de ocorrências tão antigas quanto a própria história da humanidade. A violência sexual e as graves negligências praticadas contra as crianças permanecem, às vezes, encobertas pelo silêncio que as cercam ou a surdez dos adultos frente à denúncia.
Trata-se de um assunto delicado e perturbador para a família quando os envolvidos são parentes ou amigos de confiança, pois implica na violação de um tabu social - o incesto. Em geral, a violência sexual na infância acarreta em sérias sequelas para a vida adulta da vítima. Principalmente, quando é guardado em segredo pela criança, o que a leva a vivenciar angústia, culpa, depressão, dificuldades no relacionamento interpessoal e afetivo, dentre outros. A partir de uma análise de literatura, este artigo teve por objetivo estudar os principais fatores que levaram a criança vítima de violência sexual a silenciar-se, bem como descrever as possíveis alterações comportamentais e emocionais apresentadas pela criança vitimada.
Entende-se por abuso sexual a prática com o objetivo de obter satisfação sexual, de caráter heterossexual ou homossexual, pela sedução ou mesmo pelo uso da força, o que se caracteriza abuso com violência. A prática incluiu atos sem contatos sexuais, exibicionismo do tipo masturbação na presença da criança, coitos incompletos, carícias nos genitais infantis, contato da boca com os órgãos genitais, penetração anal e vaginal. A violência sexual implica o uso de força física ou psicológica, enquanto o abuso sexual implica, ao contrário, na ausência de utilização da força, sendo a satisfação sexual obtida pela sedução. A literatura mostra que, na maioria dos casos, o termo abuso sexual torna-se sinônimo de violência sexual, haja vista que a vítima é
forçada, fisicamente, coagida verbalmente e emocionalmente. Adota-se, então, no transcorrer do artigo como sendo termos sinônimos.
Dentre os vários cenários para a violência sexual infantil, a casa das vítimas é onde ocorre a maioria dos casos. Os agressores são pessoas que convivem diariamente com os menores, geralmente, os pais, irmãos, primos, tios, avôs e vizinhos. Com relação às consequências psicológicas desse tipo de violência foram constatadas dificuldades de relacionamento interpessoal, ansiedade, alterações comportamentais como vergonha excessiva de mudar a roupa na frente de outras pessoas, medo de ficar sozinha ou com alguém em determinado local, regressão a um comportamento
muito infantil, Enurese Noturna, fugas constantes de casa, distúrbios de sono, aprendizagem, uso de álcool e/ou tóxicos, masturbação visível e freqüente ou conhecimento sexual inapropriado para a idade.
A omissão da criança frente à violência sexual surge de fortes influências externas e internas. Dentre as causas externas estão as ameaças constantes por parte do agressor, envolvendo chantagem emocional como ser mandada embora diante da revelação, perder o amor dos familiares ou que ninguém acreditará nelas. Enquanto fatores internos, podem surgir sentimentos de medo ou punição pela revelação, culpa e vergonha por ter-se deixado abusar por um longo tempo, de serem ignoradas e chamadas de mentirosas. A criança erroneamente pode entender esta violência como um ato de amor por parte desse adulto ou como forma de demonstração que “é especial” na vida do mesmo.
Para as vítimas do sexo masculino um dos aspectos mais problemáticos da revelação é que esta o coloca em posição “feminina”. Se ele sofreu a violência, é como “uma mulher” em termos de objeto sexual. Obviamente, isto desencadeia a ansiedade de ter participado de uma relação homossexual. Por conta disso, muitas vítimas do sexo masculino não revelam seu segredo.
Em suma, a violência sexual atinge crianças de ambos os sexos, todas as idades e independe de classe social. Além de refletir uma conduta desviante, atípica ou psiquicamente anormal, insere-se como um padrão de comportamento social e cultural, dentro de dinâmicas familiares adoecidas. Diante das alterações emocionais emergidas, as vítimas passam a agir com obediência e, mecanicamente, pois já não conseguem entender as razões dessa atitude. restando-lhes aceitar a situação vivenciada e sobreviver, ao preço de prejuízos no seu desenvolvimento biopsicossocial.
As conseqüências da violência sexual infantil podem ser minimizadas, através de um
acompanhamento psicológico com a família e a criança vitimada. Tendo em vista,
que a família, na maioria dos casos, mostra-se conivente com a violência ou, então,
ausente do desenvolvimento da criança. Assim, o acompanhamento psicológico
pode permitir que a palavra da vítima, tão abafada e desacreditada, torne-se uma
palavra valorizada.
Trecho transcrito do artigo “VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL: UM GRITO SEM SOCORRO”
Helena Bandeira de Melo Rio Branco
Lorena Alessandra Aires de Oliveira
Luciana Adalgiza Pita da Mota
Ulisses Costa Simão
Ana Cláudia Santos