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Um ícone pop, homossexual, apesar de não admitir, dependente de drogas para aguentar as próprias dores, acusado mais de uma vez de pedofilia, sem nunca admitir, um peter pan na ilha do nunca, mas, aparentemente, um pai amado. Quem era, afinal, Michael Jackson? Ele deu tantos sinais erráticos durante sua vida que nunca saberemos.
O que se sabe é que ele era um artista excepcional e que foi criado numa família de pai desequilibrado e violento, mãe indecifrável e conservadora, irmãos que brigavam e brigam entre si por carona no sucesso e dinheiro do mais bem sucedido dos Jacksons, e agora pelo espólio, aí incluídos os filhos, de origem biológica incerta, tentando sobreviver no meio desta enorme confusão. Katherine chegou a perder a guarda provisória dos netos para um primo de Michael, no ano passado, quando sumiu sem deixar rastro. Segundo boatos na imprensa, os filhos teriam “raptado” a mãe, o que ela negou: “Meus filhos jamais fariam isto comigo”, declarou na ocasião. Será?
Se Michael não conseguiu protegê-los de si mesmo e passou boa parte da vida se auto-desintegrando de forma sistemática, pelo menos da família ele se encarregou de “isolar” as crianças enquanto viveu. Mas também privou-os de uma vida normal. Até a morte do pai nenhum dos três filhos havia frequentado uma escola. O universo deles girava em torno de Michael, cujas esquisitices ele pode ter tentado disfarçar, mas difícil passarem despercebidas, mesmo para crianças pequenas.
Foi neste cenário hipotético que Paris, Prince e Blanket cresceram e agora entram naquela fase difícil chamada adolescência. Meninas costumam sofrer mais e mais cedo que os meninos. Pelos indícios, Paris não aceita a morte do pai nem a vida com a família dele. Da mãe, que vendeu a própria maternidade, talvez surja, depois de uma aproximação acontecida recentemente, alguma possíbilidade de convívio mais constante e, quem sabe, razoavelmente normal. Da avó, uma mulher de 84 anos, testemunha de Jeová, que obrigava os filhos e agora os netos, a pregar a palavra de Deus de porta em porta, não se pode esperar que entenda uma adolescente, apesar de amá-la. Paris e Prince, inclusive, parece que já participaram Katherine de que não vão mais se sujeitar a ficar batendo nas portas dos vizinhos. Outro boato dá conta de que Paris teria sido convidada para atuar em um filme, mas os parentes resistem à ideia de permitir. Especula-se também que a angústia provocada pelo episódio do sumiço da avó teria desencadeado a depressão da menina e o mau desempenho na escola a partir dali. Para completar o imbroglio, após a tentativa de suicídio de Paris, a Justiça quer saber se o ambiente no lar dos Jackson prejudica o estado emocional da menina. Difícil achar que não.
Família não se escolhe, mas ao nascer, a gente deveria trazer uma tabuleta de advertência: “Envolvam-me nas suas confusões com moderação”.