ENTREVISTA: Fora da prisão, professor diz que trabalharia menos e daria mais atenção à família que perdeu após ser acusado de pedofilia pela ex-mulher

Em liberdade, professor espera pela absolvição

Fora da prisão, professor diz que trabalharia menos e daria mais atenção à família que perdeu após ser acusado de pedofilia
Nicanor Coelho, Free Lancer para o Diário MS

O professor André Luis de Oliveira saiu da prisão depois de120 dias por ter sido denunciado por sua ex-mulher de ter filmado e fotografado alunas nuas e também de ter feito imagens de sua filha de 12 anos através do MSN.

André foi acusado no dia 14 de março pela ex-mulher e até agora não entende o que a motivou a fazer tal acusação. Desde que surgiu a denúncia, o professor sempre alegou que não era ele o autor das gravações da filha através do MSN. A perícia técnica comprovou que o autor do MSN identificado como ‘Pipoca’ era um adolescente amigo do primo da filha do professor. 

Agora vivendo em “liberdade provisória”, o professor não pode se aproximar dos filhos e da ex-esposa e nem pode ficar na rua depois das 20h. Nesta entrevista ele afirma que deveria ter controlado melhor o tempo em que sua filha ficava na internet. “Era preciso mais vigilância”, disse ele ao acrescentar que a falta de diálogo entre ele e a ex-mulher pode ser um dos motivos que gerou a denúncia. 

Se pudesse voltar no tempo, o professor diz que trabalharia menos e daria mais atenção à família. “Eu achava que o dinheiro era tudo, então trabalha cada vez mais pra poder oferecer mais e mais, agora eu sei que perdi a minha maior riqueza que era a minha família”, ressaltou.

Quando o processo for encerrado e caso não consiga garantir os empregos em duas escolas particulares e uma da Rede Estadual no município, o professor pretende retornar para Ribeirão Preto (SP), onde mora sua mãe, ou seguir para o Paraná onde já tem proposta de trabalho.

Por fim, ele dá um conselho para os pais: “Devemos dar mais atenção para nossas famílias e nunca colocar o trabalho e o dinheiro acima de tudo e de todos”. 

DIÁRIO MS: Depois de quatro meses preso na Penitenciária Harry Amorim Costa, que lição o senhor tirou da acusação de “pedofilia” feita por sua ex-mulher?

PROFESSOR ANDRÉ: Este tempo na prisão a gente pensa muitas coisas, mas tentava não pensar no mundo aqui fora porque senão a gente acaba enlouquecendo, só agora que estou em liberdade é que estou pensando melhor.

DIÁRIO MS: O senhor se considera um “pedófilo”?

PROFESSOR ANDRÉ: Não. 

DIÁRIO MS: Ficou provado na perícia feita pela Polícia Civil no pen drive e no notebook que não foi o senhor que filmou a sua filha e sim o adolescente ‘Pipoca’. Como o senhor analisa esta situação? 

PROFESSOR ANDRÉ: Complicada. Deveríamos ter controlado melhor o tempo que ela ficava na internet.

DIÁRIO MS: O senhor acredita que vai ser absolvido de todas as acusações feitas por sua ex-mulher? 

PROFESSOR ANDRÉ: Tenho certeza que sim, acredito na Justiça.

DIÁRIO MS: Em sua opinião quais os reais motivos que levou a sua ex-mulher a querer vê-lo na cadeia?

PROFESSOR ANDRÉ: Não sei. É até difícil chegar a qualquer conclusão.

DIÁRIO MS: O senhor acha que a denúncia de pedofilia feita por sua ex-mulher seria uma vingança?

PROFESSOR ANDRÉ: Gostaria de acreditar que não.

DIÁRIO MS: Se absolvido de todas as acusações, o senhor pretende processá-la?

PROFESSOR ANDRÉ: Não quero processar ela porque meus filhos com certeza iriam sofrer novamente.

DIÁRIO MS: Como será daqui para frente a sua relação com a sua filha “adotiva” e com o seu filho biológico? 

PROFESSOR ANDRÉ: Um pouco complicado. Fiquei muito abalado quando ela disse em seu depoimento que gostaria que eu morresse na cadeia. A partir daí decidi não ler mais nada do processo, meu filho é muito novo para entender tudo o que está acontecendo. Penso muito neles e fico muito preocupado, mas infelizmente eu tenho que manter distância e não entrar em contato com eles neste momento.

DIÁRIO MS: Como o senhor acha que vai ser sua vida pessoal e familiar a partir de agora?

PROFESSOR ANDRÉ: Minha vida pessoal está um pouco arranhada, mas aos poucos eu vou recuperar a confiança das pessoas, o que me dá força para isso é o grande número de pessoas que estão me procurando para dizer que estão do meu lado e que confiam em mim. Agora, a vida familiar, não sei. É difícil qualquer previsão neste momento.

DIÁRIO MS: O senhor acredita que vai conseguir continuar lecionando para crianças nas escolas onde trabalhava?

PROFESSOR ANDRÉ: Acredito que sim. Eu sempre desenvolvi um bom trabalho, prova disso foi o abaixo-assinado que os pais e alunos fizeram em minha defesa e no dia em que fui ouvido pela juíza tinha um grande número de alunos e professores do lado de fora dando um grande apoio.

DIÁRIO MS: O senhor acredita que a sociedade vai lhe absolver também?

PROFESSOR ANDRÉ: Claro. Tive a prova hoje enquanto caminhava pela cidade e fiquei muito feliz porque as pessoas me paravam para conversar e me desejando força, dando conselhos. Foi muito legal. Alguns passavam de carro e acenavam. Fiquei feliz e confiante.

DIÁRIO MS: Como o senhor analisa o comportamento da imprensa com relação a sua prisão e a todo o caso?
PROFESSOR ANDRÉ: Principalmente o rádio, exagerou muito. Ou seja, pra eles eu já era CULPADO. 

DIÁRIO MS: O senhor acredita que sua vida vai voltar ao normal em quanto tempo?

PROFESSOR ANDRÉ: Normal não sei, é difícil ter uma previsão.

DIÁRIO MS: O que faz um homem a se casar com uma mulher, assumir a filha dela como sua e a viver um casamento cheio de contradições que culminou com a denúncia e a prisão?

PROFESSOR ANDRÉ: Amor (esta pergunta é muito difícil de responder).

DIÁRIO MS: Onde o senhor errou no relacionamento com a ex-mulher?

PROFESSOR ANDRÉ: Faltou diálogo entre eu e ela.

DIÁRIO MS: Se o tempo voltasse, o que o senhor faria para evitar esta tragédia familiar?

PROFESSOR ANDRÉ: Trabalharia menos, daria mais atenção à minha família. Eu achava que o dinheiro era tudo, então trabalhava cada vez mais para poder oferecer mais e mais. Agora eu sei que perdi a minha maior riqueza que era a minha família.

DIÁRIO MS: O senhor pretende se mudar de Dourados depois que o processo terminar?

PROFESSOR ANDRÉ: Pretendo voltar para Ribeirão Preto ou seguir para o Paraná onde já tenho proposta de trabalho

DIÁRIO MS: Acredita que a mudança de cidade pode contribuir para a retomada da sua vida pessoal e profissional?

PROFESSOR ANDRÉ: Acredito sim, seria mais fácil para recomeçar a construir uma nova vida, mas tudo isso vai depender de como ficarão os meus empregos em Dourados, gosto muito desta cidade e principalmente dos meus alunos e das pessoas que me querem muito bem. 

DIÁRIO MS: Que conselho o senhor daria para os homens sobre a experiência que viveu por causa da denúncia feita por sua ex-mulher?

PROFESSOR ANDRÉ: Dar mais atenção para suas famílias, nunca colocar o trabalho acima de tudo e de todos.

DIÁRIO MS: Quais foram os momentos mais difíceis na prisão?

PROFESSOR ANDRÉ: Dia 7 de julho acordei e sabia que meu filho estava completando quatro aninhos. Senti vontade de morrer, nunca tinha sentido nada igual. A saudade apertou.

DIÁRIO MS: Como conseguiu superar 120 dias na prisão?

PROFESSOR ANDRÉ: Lendo muito, cerca de 50 livros, conversando com os companheiros de cela, e toda tarde caminhava 3 horas sem parar.

DIÁRIO MS: A quem você agradece neste momento dão difícil em sua vida?

PROFESSOR ANDRÉ: É muita gente, mas vamos lá... Meu advogado que trabalhou muito e com certeza vai provar minha inocência, a todos os professores, alunos, pais que mesmo de longe estavam torcendo por mim, aos agentes penitenciários pelo tratamento que tive na PHAC, aos internos que me davam força e muitos conselhos, aos companheiros de cela - doutor Antonio (advogado) e o doutor Miguel (médico) e, principalmente, a Deus por estar sempre ao meu lado.