Os abusos sexuais na Igreja. Evento marcante aponta para uma mudança de atitude. Entrevista especial com João Edênio Valle

O comportamento dos padres pedófilos representa um desafio que exige coragem, discernimento e ação, primeiro dos bispos e do próprio clero, mas também e, sobretudo, dos fiéis, mulheres e homens, e das comunidades, considera o padre e psicólogo

Confira a entrevista.

Foi realizado na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, de 6 a 9 de fevereiro, o Simpósio “Para cura e renovação”. Participaram cerca de 240 participantes, distribuídos entre bispos e superiores religiosos de todo o mundo. O evento teve como tema a crise na Igreja diante dos casos de abusos sexuais por parte do clero. Quem esteve lá, participando inclusive como um dos expositores, foi o padre e psicólogo João Edênio Valle, que aceitou conceder uma entrevista à IHU On-Line, por e-mail, sobre o que foi debatido e sobre quais os rumos da Igreja diante deste cenário. Edênio Valle comenta que no evento “era fácil observar que havia uma insistência em passar da apresentação (ver) e juízo (julgar) dos fatos para uma linha de ação mais decidida da Igreja (agir) em nível nacional e internacional, envolvendo a responsabilidade direta dos bispos. Palavras como prevenção, proteção e defesa das vítimas eram repetidamente trazidas ao plenário”. Em sua avaliação, “ficou claro que a Igreja só gozará de credibilidade na sociedade se demonstrar que os valores que ela proclama levam seus próprios filhos a viverem com integridade todas as dimensões de sua sexualidade e humanidade”. Ele continua: “o objetivo ao qual a Igreja está se propondo é o de ajudar a humanidade a se perguntar pelos verdadeiros valores humanos da sexualidade, confessando, porém, que a própria Igreja precisa tirar a trave de seu olho, antes de apontar para o cisco no olho dos que não pensam como ela”. E conclui: “com base em minha experiência de psicólogo não vejo como se possa exterminar totalmente este mal nem dentro nem fora da Igreja. Peço a Deus que a Igreja tenha a coragem de não ficar em medidas paliativas”.

João Edênio Reis Valle (foto), doutor em Pedagogia pelo Instituto de Psicologia da Pontifícia Università Salesiana de Roma, é padre da Congregação do Verbo Divino, psicólogo, assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB e professor de Psicologia da Religião no Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Que avaliação o senhor faz do simpósio “Rumo à cura e à renovação”? Qual a importância para dentro e para fora da Igreja desta iniciativa?

João Edênio Valle – Minha avaliação do simpósio é muito positiva. Foi um evento marcante que indica uma nova fase no posicionamento da Igreja Católica com relação ao abuso sexual de menores por parte de presbíteros. O simpósio reuniu especialistas nos mais variados aspectos do problema. A ele compareceram cerca de 210 bispos de mais de 100 países de todo o mundo e 30 superiores gerais, entre os quais algumas gerais de congregações femininas. O que dá ao simpósio uma autoridade mais expressiva ainda foi o fato de contar com total apoio da Santa Sé, em especial da Congregação para a Doutrina da Fé e, na retaguarda, do Santo Padre. Embora a Companhia de Jesus e a Universidade Gregoriana assumissem a condução dos trabalhos, percebia-se claramente a presença física e o interesse da alta cúpula da Igreja.

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