Testemunhas revelam que juiz de Paranatinga fazia uso de drogas e tinha envolvimento com suposta aliciadora




De Paranatinga - Dayane Pozzer

No último mês de julho algumas testemunhas foram ouvidas pela Polícia Federal em Paranatinga (a 373 km de Cuiabá) sobre as denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes que pesam sobre o juiz de Direito que atuava no município, Fernando Márcio Marques de Sales. Segundo fontes do Olhar Direto na cidade, no dia 16 de agosto as testemunhas foram ouvidas novamente, desta vez pelo juiz Alexandre Elias Filho, da Corregedoria-Geral da Justiça de Mato Grosso. Além de denúncias de que o magistrado manteve relações sexuais com meninas menores, os depoimentos revelam que Fernando também utilizou seringas para injetar droga na veia e tinha contato freqüente com uma suposta aliciadora de menores.

Uma das adolescentes, B.S.B, de 17 anos, foi ouvida pelo juiz-corregedor, em companhia de sua mãe, que também depôs, e de seu padrasto. A adolescente relatou à reportagem do Olhar o que também contou em seu depoimento para a Polícia Federal no dia 23 de julho deste ano. Para a PF, B. afirmou ter conhecido Fernando em 2008, com 15 anos de idade, em companhia de uma prima, na época com 12 anos. As duas teriam conversado com o acusado que se apresentou como juiz da cidade, recebido elogios e sido convidadas para sair com ele. “Ele falou pra nós que nunca tinha visto meninas tão bonitas. Nós ainda falamos mas você é juiz, e ele respondeu: mas pra mim não dá problema”, relatou a menina.

As adolescentes se recusaram, mas no final do mesmo dia foram novamente paradas na rua por Fernando e acabaram entrando no carro e indo para a residência do juiz, onde teriam sido acariciadas por ele. Segundo o depoimento, a adolescente de 12 anos teria dito ao juiz que era virgem, na intenção de não ter nada com ele, ao que o magistrado teria falado que era o sonho dele tirar a virgindade dela. Ele ainda teria falado, conforme o depoimento, que pagaria as duas pelo ato sexual e que as ajudaria (financeiramente e materialmente) em tudo que precisassem. Sem consumar ato sexual, as duas foram levadas para suas casas pelo juiz e teriam recebido dele R$ 100 cada uma. Na mesma ocasião, B. teria passado seu e-mail, telefone e página de relacionamento na internet, assim como sua prima também teria informado o número de celular.

Passado algum tempo, não precisado pela adolescente, o juiz teria ligado para B. na intenção de ver ela e sua prima. Sempre conforme o depoimento, as duas então concordaram com o encontro e na residência do juiz, em um dia normal da semana, mantiveram relações sexuais com ele. Questionada sobre ter recebido algum presente, a adolescente respondeu “ele não deu nada, deu promessa, tudo, estudo em boas escolas, financeiramente, materialmente, tudo que precisasse”, afirmou. De acordo com o depoimento, para tirar a virgindade de uma das adolescentes, o magistrado teria prometido a ela um computador, promessa que nunca teria sido cumprida. Uma das adolescentes contou no depoimento que voltou a manter relações sexuais com o juiz por mais três ocasiões e que, em duas delas, ele prometeu presenteá-la com um notebook e pagar um book de fotos que ela havia feito.

No depoimento, a adolescente conta ainda que viu Fernando injetar por meio de duas agulhas (uma mais grossa e outra fina) algo que ela acredita ser entorpecente e que quando isso acontecia o magistrado “ficava com o corpo tremendo parecendo estar louco”. Em uma certa ocasião, o juiz teria tentado injetar a mesma substância na adolescente, mas ela não teria deixado e depois ele teria telefonado e afirmado que aquilo “era brincadeira”.

Segundo a adolescente, no final do ano passado, o juiz quis conhecer sua prima, A. S.V.,na época com 9 anos. Enquanto caminhavam próximo ao bairro Cohab onde moram, o magistrado as encontrou e as duas entraram em seu veículo. Conforme o depoimento, ele as levou para próximo de um matagal no bairro Cohab Vida Nova, no local conhecido por ‘secador’ (que armazena arroz). Com o banco do motorista deitado, Fernando teria beijado na boca de A. e tentado tirar sua roupa por duas ou três vezes, enquanto B. estava sentada no banco da frente. A menina teria reagido chorando e B. pediu que Fernando parasse e levasse as duas embora.

Na versão de A., em seu depoimento e para a reportagem, sua prima teria permanecido no banco de trás sem fazer nada, enquanto o juiz tentava tirar sua roupa, beijava em sua boca e tentava tocar suas partes íntimas. Ela conta ainda que o juiz teria pedido que ela não contasse a ninguém o que ele estava fazendo e que teria oferecido R$ 200 para que ela não revelasse o episódio. Ela confirma que chorou de medo e que a pedido de sua prima ele levou-as para próximo do local chamado de ‘secador’, perto de uma casa. “Para mim é constrangedor, depois que eu fui pensar no que fiz, porque fui eu que apresentei a A., mas eu não deixei ele fazer nada com ela, porque eu me senti no lugar dela e ela começou a chorar porque era criança”, disse B.

Sobre o encontro da criança com o juiz, a adolescente relatou que achava que ele só queria conhecê-la. “Não imaginei que ele seria louco de ficar com uma menina daquele tamanho. Pensei que era só conhecer. Porque ele é um homem né, e ela é uma criança”, disse. A menor assediada ainda contou em seu depoimento que o juiz não a forçou e também não lhe machucou, mas pediu que B. a levasse durante a noite a sua residência (do juiz), a fim de ter uma noite com a menina e que pagaria R$ 200.

Em outra parte do depoimento, a adolescente afirmou que Fernando a pressionava psicologicamente para arrumar meninas para ele manter relações sexuais, preferencialmente menores e virgens e não meninas maiores e já “gastas”. No documento, há informações ainda de que a adolescente conheceria uma outra adolescente que arrumaria meninas para sair com o magistrado no município, citando três menores que teriam mantido relações com o juiz. Em outro momento do documento, a adolescente relata sobre uma mulher, moradora de Paranatinga, que ela acredita que teria algum relacionamento pessoal ou comercial com o juiz, que os viu juntos e que não sabe dizer como esta pessoa se sustenta, apenas que viaja muito.

A adolescente ainda relatou que se sentia bem ao lado do magistrado e chegou a falar para a mãe que estava namorando. “Ela me contou que estava namorando, que era um homem mais velho, eu achei bom por ser uma pessoa mais velha, mas quando ela me contou que era o juiz e que ele não poderia assumir ela, eu disse que ele não queria nada sério, que não casaria com ela como ela estava pensando”, contou a mãe da adolescente.

Durante o depoimento da adolescente para o juiz-corregedor, na última segunda-feira, ela afirma que pediu para Fernando não permanecer na sala. “Pra mim é constrangedor falar na frente dele”, ressaltou. Mas explicou que Fernando teve acesso aos depoimentos dela e de sua prima, pois segundo o juiz-corregedor ele teria que saber do que estava sendo acusado. Mesmo fora da sala, Fernando teria solicitado que o juiz perguntasse à adolescente se algum dia teria feito alguma ameaça a ela. B. respondeu ao juiz que não.

“Tenho medo. Encontro ele na rua, eu abaixo a cabeça. Eu gostava de ficar com ele, eu me sentia bem. Mas não imaginei que ele ia querer todas as meninas menor de idade. Pensei que ele fosse mais equilibrado”, disse a adolescente à reportagem.



Um comentário:

  1. Gostaria de saber se o Senador Magno Malta ja esta sabendo desse caso e se mesmo vai acompanhar os fatos, do contrario a impunidade vai operar novamente no Judiciário de Mato Grosso.

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