As eleições municipais deste ano devem deixar mais áspero o desafio do PT de cultivar um projeto de hegemonia nacional com uma mão e, com a outra, regar um jardim de legendas fiéis. Em todas as 16 capitais onde tentará eleger um prefeito, o partido bate de frente com uma ou mais legendas aliadas de Dilma Rousseff. Até agora, a presidente se permitiu participar apenas de evento de campanha junto ao peemedebista Eduardo Paes, que tenta reeleição no Rio de Janeiro, onde grande parte dos governistas conseguiram se entender.
A situação, que se repete mesmo nas capitais em que o PT não lidera uma chapa majoritária, é sintoma não apenas de uma base numerosa - PMDB, PC do B, PRB, PSB, PR, PTB, PV, PDT, PP PDB, PT do B, PRTB, PRP, PMN, PHS, PTN, PSC, PTC, PSD, PSDC e PSL -, passando também por uma mudança de conduta: mais ambiciosos, partidos como PSB e PCdoB têm demonstrado menos contentamento com a condição de coadjuvantes.
A tentativa mais evidente de se emancipar do campo gravitacional petista vem sendo articulada pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, que deve enfrentar o PT em seis capitais, tendo rompido alianças em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza. A motivação?
"É uma boa pergunta, que está na cabeça de todo mundo. Há uma movimentação do PSB por uma posição mais independente, de mostrar serviço nesta eleição, onde esse partido pode avançar bastante, já se posicionando para 2014. Ao mesmo tempo, o PMDB está preocupado que essa iniciativa afete seu desempenho, e nas próximas eleições, pode ser que o PSB pressione a Dilma para trocar de parceiro e deixar o PMDB de lado, pegar o Eduardo Campos como seu vice", afirma o professor David Fleischer, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.
Outra resposta estaria em Minas Gerais, onde os socialistas teriam cedido a pressões do PSDB e retirado a coligação proporcional com o PT, que reagiu com uma massiva evasão do governo de Márcio Lacerda (PSB) e lançando Patrus Ananias em chapa própria, escolha que teria passado por Dilma. "É possível que Campos forme aliança com o (senador) Aécio Neves (em 2014), mas acho essa possibilidade um pouco mais remota que a primeira", avaliou Fleischer.
O racha no Recife veio com o anúncio da pré-candidatura de Geraldo Julio (PSB), que, junto ao PCdoB e ao PMDB, disputará contra o senador Humberto Costa (PT). Já a ratificação da candidatura de Roberto Cláudio (PSB) selou o rompimento em Fortaleza, onde o PT concorrerá com Elmano de Freitas também contra Heitor Férrer (PDT) e Inácio Arruda (PCdoB), todos de legendas amigas do governo federal. "Tudo indica que o PSB vai dar o troco em Recife e Fortaleza. Isso seria outra novidade dolorida para o PT, porque o PT nessas cidades se dividiu em brigas internas e não seguiu o PT nacional", afirma Fleischer.
O cenário recifense se inverte em Cuiabá, onde Mauro Mendes (PSB) enfrenta aliança de Lúdio Cabral (PT) com o PMDB e o PCdoB. Em Porto Velho, Mauro Nazif (PSB) medirá forças com a petista Fátima Cleide e o peemedebista José Augusto. Em Teresina, Beto Rego (PSB) vai contra Wellington Dias (PT) e Elmano Férrer (PTB), que conta com as bandeiras peemedebistas. Os petistas de João Pessoa quebraram a resolução nacional do partido e vão com o oposicionista PPS de vice na chapa de Luciano Cartaxo, que vai disputar com José Maranhão (PMDB) e Estelizabel Bezerra (PSB). Manaus terá o socialista Serafim Corrêa contra a aliança de PT e PMDB em torno de Vanessa Grazziotin (PCdoB).
Entrevistado pelo jornal Folha de S.Paulo, Eduardo Campos rechaçou nacionalizar a disputa municipal. "Não vamos fazer o jogo de alguns, que querem afastar de Dilma aqueles que têm mais identidade com o governo dela (...). Temos debates muito mais importantes do que 'quem será prefeito desta ou daquela cidade'. O que está em jogo é o ciclo de expansão econômica com inclusão social. Essa que é a pauta brasileira, não essa futrica", sustentou.
Para o professor Fleischer, o PSB está mais disposto a alegar em Brasília a sua força municipal do que Campos gostaria de admitir. "O PSB não quer mais ser o coadjuvante obediente do PT. Há uma preocupação com a eleição dos novos presidentes do Senado e da Câmara. O PMDB acha que tem acordo com o PSB, que pode lançar candidato com apoio de vários outros partidos, inclusive da oposição."
Outro eixo de turbulência vem do PCdoB, que alterou o cenário eleitoral rotineiro de Porto Alegre ao apostar na deputada federal Manuela D'Ávila. Os comunistas chegaram a oferecer apoio a Fernando Haddad em São Paulo, desistindo da candidatura do vereador Netinho de Paula, para que o PT apoiasse Manuela na capital gaúcha. Pesou o histórico petista na cidade, gerida pelo partido da estrela por 16 anos consecutivos, e o deputado estadual Adão Villaverde foi lançado candidato, embora se junte a Manuela para criticar o prefeito José Fortunati (PDT), também da base de Dilma.
No primeiro debate entre os prefeituráveis, Roberto Robaina (Psol) não deixou passar batido: "Tanto Manuela quanto Villaverde quanto Fortunati defendem esse modelo levado adiante, que privilegia as grandes empresas. A pergunta que se tem que fazer é, afinal, por que disputam em Porto Alegre, se defendem o mesmo projeto no Estado e no País?"
Outra sigla aliada de Dilma, o PP, sofreu um racha por oscilar entre Fortunati e Manuela, a cuja campanha se uniu a senadora Ana Amélia Lemos, na contramão dos demais colegas. Principal aliado do governo Dilma, o PMDB é também um tradicional recordista em eleições municipais. A pretensão de repetir a performance neste ano leva o partido a concorrer em chapas majoritárias em muitas capitais, incluindo São Paulo, onde Gabriel Chalita disputará contra Haddad e representantes da base de Dilma como Celso Russomanno (PRB) e Paulinho da Força (PDT).
Deve haver confronto direto entre candidatos a prefeito do partido de Dilma e de seu vice, Michel Temer, também em Rio Branco, Salvador, Campo Grande, Belém, João Pessoa, Natal e Porto Velho.
Vitória apresenta um caso em que o PMDB, ao desistir de candidatura própria, preferiu apoiar o tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas a se unir à petista Iriny Lopes. O movimento teria sido reação ao apoio do PSB à ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres.
A situação, que se repete mesmo nas capitais em que o PT não lidera uma chapa majoritária, é sintoma não apenas de uma base numerosa - PMDB, PC do B, PRB, PSB, PR, PTB, PV, PDT, PP PDB, PT do B, PRTB, PRP, PMN, PHS, PTN, PSC, PTC, PSD, PSDC e PSL -, passando também por uma mudança de conduta: mais ambiciosos, partidos como PSB e PCdoB têm demonstrado menos contentamento com a condição de coadjuvantes.
A tentativa mais evidente de se emancipar do campo gravitacional petista vem sendo articulada pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, que deve enfrentar o PT em seis capitais, tendo rompido alianças em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza. A motivação?
"É uma boa pergunta, que está na cabeça de todo mundo. Há uma movimentação do PSB por uma posição mais independente, de mostrar serviço nesta eleição, onde esse partido pode avançar bastante, já se posicionando para 2014. Ao mesmo tempo, o PMDB está preocupado que essa iniciativa afete seu desempenho, e nas próximas eleições, pode ser que o PSB pressione a Dilma para trocar de parceiro e deixar o PMDB de lado, pegar o Eduardo Campos como seu vice", afirma o professor David Fleischer, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.
Outra resposta estaria em Minas Gerais, onde os socialistas teriam cedido a pressões do PSDB e retirado a coligação proporcional com o PT, que reagiu com uma massiva evasão do governo de Márcio Lacerda (PSB) e lançando Patrus Ananias em chapa própria, escolha que teria passado por Dilma. "É possível que Campos forme aliança com o (senador) Aécio Neves (em 2014), mas acho essa possibilidade um pouco mais remota que a primeira", avaliou Fleischer.
O racha no Recife veio com o anúncio da pré-candidatura de Geraldo Julio (PSB), que, junto ao PCdoB e ao PMDB, disputará contra o senador Humberto Costa (PT). Já a ratificação da candidatura de Roberto Cláudio (PSB) selou o rompimento em Fortaleza, onde o PT concorrerá com Elmano de Freitas também contra Heitor Férrer (PDT) e Inácio Arruda (PCdoB), todos de legendas amigas do governo federal. "Tudo indica que o PSB vai dar o troco em Recife e Fortaleza. Isso seria outra novidade dolorida para o PT, porque o PT nessas cidades se dividiu em brigas internas e não seguiu o PT nacional", afirma Fleischer.
O cenário recifense se inverte em Cuiabá, onde Mauro Mendes (PSB) enfrenta aliança de Lúdio Cabral (PT) com o PMDB e o PCdoB. Em Porto Velho, Mauro Nazif (PSB) medirá forças com a petista Fátima Cleide e o peemedebista José Augusto. Em Teresina, Beto Rego (PSB) vai contra Wellington Dias (PT) e Elmano Férrer (PTB), que conta com as bandeiras peemedebistas. Os petistas de João Pessoa quebraram a resolução nacional do partido e vão com o oposicionista PPS de vice na chapa de Luciano Cartaxo, que vai disputar com José Maranhão (PMDB) e Estelizabel Bezerra (PSB). Manaus terá o socialista Serafim Corrêa contra a aliança de PT e PMDB em torno de Vanessa Grazziotin (PCdoB).
Entrevistado pelo jornal Folha de S.Paulo, Eduardo Campos rechaçou nacionalizar a disputa municipal. "Não vamos fazer o jogo de alguns, que querem afastar de Dilma aqueles que têm mais identidade com o governo dela (...). Temos debates muito mais importantes do que 'quem será prefeito desta ou daquela cidade'. O que está em jogo é o ciclo de expansão econômica com inclusão social. Essa que é a pauta brasileira, não essa futrica", sustentou.
Para o professor Fleischer, o PSB está mais disposto a alegar em Brasília a sua força municipal do que Campos gostaria de admitir. "O PSB não quer mais ser o coadjuvante obediente do PT. Há uma preocupação com a eleição dos novos presidentes do Senado e da Câmara. O PMDB acha que tem acordo com o PSB, que pode lançar candidato com apoio de vários outros partidos, inclusive da oposição."
Outro eixo de turbulência vem do PCdoB, que alterou o cenário eleitoral rotineiro de Porto Alegre ao apostar na deputada federal Manuela D'Ávila. Os comunistas chegaram a oferecer apoio a Fernando Haddad em São Paulo, desistindo da candidatura do vereador Netinho de Paula, para que o PT apoiasse Manuela na capital gaúcha. Pesou o histórico petista na cidade, gerida pelo partido da estrela por 16 anos consecutivos, e o deputado estadual Adão Villaverde foi lançado candidato, embora se junte a Manuela para criticar o prefeito José Fortunati (PDT), também da base de Dilma.
No primeiro debate entre os prefeituráveis, Roberto Robaina (Psol) não deixou passar batido: "Tanto Manuela quanto Villaverde quanto Fortunati defendem esse modelo levado adiante, que privilegia as grandes empresas. A pergunta que se tem que fazer é, afinal, por que disputam em Porto Alegre, se defendem o mesmo projeto no Estado e no País?"
Outra sigla aliada de Dilma, o PP, sofreu um racha por oscilar entre Fortunati e Manuela, a cuja campanha se uniu a senadora Ana Amélia Lemos, na contramão dos demais colegas. Principal aliado do governo Dilma, o PMDB é também um tradicional recordista em eleições municipais. A pretensão de repetir a performance neste ano leva o partido a concorrer em chapas majoritárias em muitas capitais, incluindo São Paulo, onde Gabriel Chalita disputará contra Haddad e representantes da base de Dilma como Celso Russomanno (PRB) e Paulinho da Força (PDT).
Deve haver confronto direto entre candidatos a prefeito do partido de Dilma e de seu vice, Michel Temer, também em Rio Branco, Salvador, Campo Grande, Belém, João Pessoa, Natal e Porto Velho.
Vitória apresenta um caso em que o PMDB, ao desistir de candidatura própria, preferiu apoiar o tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas a se unir à petista Iriny Lopes. O movimento teria sido reação ao apoio do PSB à ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres.
Fonte: Terra
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