SARITA BARACAT | Anterior | Índice | Próxima |
Professora, política e cidadã
Primeira deputada de Mato Grosso e única prefeita que Várzea Grande teve, ela é uma referência
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Da Reportagem
Não é difícil encontrar a casa da “Professora Sarita Baracat”, em Várzea Grande. Basta ir ao centro da cidade e perguntar. O velho, a dona de casa, o dono de bar e a estudante, todos, sem exceção, sabem onde ela mora. Poucos sabem dizer o nome da rua, mas todos podem dizer como chegar à casa de portas sempre abertas e de pátio sempre cheio de gente. É que ali não é simplesmente a casa da ex-professora, mas da primeira vereadora e da única prefeita que o município já teve, da primeira deputada estadual de Mato Grosso e da presidente do PMDB local. Ali funciona uma sociedade beneficente que administra nove escolas no município. Todos sabem que ali mora alguém que cultiva o respeito pela tradição e trava uma luta a favor da cidadania.
Filha de pais sírios, Sarita Baracat de Arruda nasceu em Várzea Grande no dia 29 de dezembro de 1930. Seu pai, Miguel Baracat, nasceu em Damasco, capital da Síria, mas aos 4 anos de idade perdeu os pais e teve que vir com uma irmã para a América do Sul. “Aqui, como todo árabe, virou vendedor ambulante”, lembra Sarita. Sua mãe, Warda Zain Baracat, nasceu em uma pequena cidade perto de Damasco, chamada Sidanaia. Devido às constantes guerras na região, fugiu com a família para Buenos Aires, na Argentina. Foi lá que Warda Zain e Miguel Baracat se conheceram e se casaram. A vida do casal ficava entre Buenos Aires, onde eram sócios de uma fábrica de tecelagem, e Várzea Grande, onde abriram o primeiro bar, a primeira padaria mecanizada e a primeira farmácia da cidade e tiveram oito filhos. “Nós tivemos também o primeiro automóvel de Várzea Grande. Um Ford Modelo A, que batizamos de ‘fubica’”, conta Sarita Baracat. O carro, ou parte dele, ainda pode ser encontrado no quintal da casa dela. Poder-se-ia dizer que está abandonado, não fosse pelas boas recordações que vez em quando suscita em Sarita Baracat.
“Meu pai era um homem muito culto”, diz ela, “escrevia e falava cinco idiomas. E fez questão que todos os filhos estudassem até o nível superior. A minha mãe, por outro lado, não pôde estudar por causa das guerras. Até hoje tenho saudade deles, que me ensinavam de tudo. Inclusive a ser honesta e responsável”. Diz Sarita Baracat que as brincadeiras de sua infância eram muito ingênuas: “fazer quitutes, brincar de boneca, etc. Apesar de morrermos de vontade, só íamos a festas depois dos 18 anos”, diz ela. “Os árabes sempre tiveram muito controle sobre a vida das mulheres. E com meu pai não foi muito diferente”.
Sarita Baracat estudou o primário no “Grupo Escolar Pedro Gardez”, em Várzea Grande, e o Ginasial no “Colégio Estadual de Mato Grosso”, hoje Liceu Cuiabano. “Eu morava em Várzea Grande e todos os dias ia a pé até o colégio, em Cuiabá. Acordava, tomava leite de cabra e saía, às 3 horas da manhã, para só voltar às 3h da tarde. Acho que é por causa dessas caminhadas que nunca tive sequer uma dor de cabeça”. Ia a pé porque na época não havia transporte, não que seu pai não pudesse pagar. Pelo contrário. “Meu pai sempre me dava um bom dinheiro para a merenda. Eu fazia pequenos serviços para ele, como pagar as contas nos bancos de Cuiabá. Daí, ganhava dinheiro o suficiente para pagar até a merenda dos meus colegas”.
O interesse de Sarita Baracat pela política nasceu ainda nos bancos escolares. Na 7a Série, foi suspensa do colégio porque subiu na mesa do professor e proferiu um discurso. Como militava pela UDN, aos 20 anos, em 1950, teve o seu primeiro emprego: tesoureira da Prefeitura de Várzea Grande na gestão udenista de Gonçalo Botelho. “Foi ele quem me ensinou os caminhos da política”, conta Sarita Baracat. Sua vida, então, passou a ser dividida entre o partido e o magistério, porque logo que saiu de seu cargo na Prefeitura, começou a dar aulas nos mesmos colégios onde havia estudado. No G.E. Pedro Gardez, deu aula no Curso de Admissão. No Colégio Estadual, aulas de Sociologia, História e Geografia.
Quando a UDN se transformou em Arena, Sarita Baracat foi eleita a presidente do partido em Várzea Grande. Em 1957, os correligionários pediram que ela ocupasse uma das vagas do partido para a eleição de vereador. “Eu sempre quis me candidatar a alguma coisa. Mas, por timidez, disfarçava essa minha enorme vontade. É claro que antes que eu pudesse aceitar eles tiveram que convencer o meu pai, que não se interessava muito por política e sequer tinha título de eleitor”.
A campanha eleitoral teve que ser feita às pressas, sem dinheiro e sem cartazes. “Meu irmão me levava de bicicleta até o Distrito Industrial, onde havia mais casas, e lá eu percorria uma a uma, tentando convencer as pessoas. Almoçava com uma família e jantava com outra”. O resultado foi que Sarita Baracat não só foi eleita a primeira vereadora do município, como foi, dentre todos os candidatos, quem mais recebeu votos. Para se ter uma idéia, o segundo colocado não obteve nem metade de sua votação. Daí por diante, não parou mais de fazer política.
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