Francisco Galindo fala sobre as contas do município, ações realizadas e desafios do próximo prefeito
DA REDAÇÃO
O prefeito Chico Galindo (PTB) acredita que seu sucessor, o empresário Mauro Mendes (PSB), eleito neste domingo (28) terá condições de fazer uma gestão melhor que a sua. E o aconselhou a “não fazer política” no cargo.“O Mauro tem tudo para ser melhor. Ele vai receber uma casa moderna, e terá condições de ser um prefeito muito melhor do que eu. Eu tive que arrumar as coisas. Eu perdi tempo em arrumar. Mas, espero, torço e rezo para que ele seja o melhor prefeito da história”, disse.
“O Mauro Mendes tem tudo para ser melhor do que eu. Ele vai receber uma casa moderna, em ordem. Mas rezo para ele ser o melhor da história”
Mesmo com a alta rejeição, que lhe impediu, por exemplo, de tentar a reeleição, Galindo conseguiu avançar e tocar programas importantes, como o Poeira Zero, de asfaltamento de bairros da periferia, a reforma de escolas municipais, e o aumento sifnificativo da arrecadação.
Nesta entrevista ao MidiaNews, Galindo afirma que o próximo prefeito vai encontrar as contas do Palácio Alencastro em dia – e uma cidade com capacidade de investimento, diferentemente de quando ele assumiu o cargo.
Galindo aconselhou Mendes a “não fazer política”, focar na gestão da cidade e voltar os olhos à área social.
Ele também admitiu se candidatar a deputado estadual, em 2014, mas não descartou a possibilidade de abandonar a vida pública.
Confira os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – Se o senhor puder dar um conselho ao prefeito eleito Mauro Mendes, com base em sua atual administração, qual seria?
Galindo – O primeiro seria não fazer política no cargo. E não nomear secretários políticos. Tem que ser técnicos. A maioria dos meus secretários eu não conhecia. A maioria, e estão aí até hoje. Eu tenho 40% do secretariado de mulheres e a maioria eu não conhecia. Nunca tinha visto. Tenho quatro secretários de carreira. E tem tantos funcionários exemplos, de carreira, que são muito pouco valorizados. O próximo prefeito tem que valorizar. Eu aumentei a minha folha de pagamento nesses dois anos e meio em 70% e diminuí o número de servidores.
MidiaNews – Quantos eram?
Galindo – Eram 16 mil, aproximadamente, hoje são 14,5 mil. Ainda é muito, dá pra fazer um corte. Mas eu aumentei o salário de todas as categorias, todas foram contempladas. Eu gostaria de deixar com uns 13 mil. Tem que ir informatizando. É por isso que eu falo que é um grande desafio. E tem que ter coragem. Qual prefeito quer mandar embora o cidadão? Politicamente, qual? Só louco (risos). Ou quem está pensando na cidade. Porque essa família passa a não gostar de você.
Thiago Bergamasco
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Galindo
– Isso, e esquecer da vida privada. Ele tem que imaginar que a Prefeitura é dele, como empresa dele, se dedicar de segunda a segunda. Tem quem se dedicar muito, indo muito à rua, e tem quem se dedicar internamente. Eu sou muito interno. Então, a população não vê, e pensa que eu não trabalho, que eu não ficava aqui. Quantos finais de semana eu estava fazendo fluxo de caixa… A Prefeitura não tinha fluxo de caixa. Hoje, eu sei que pagou ontem.
MidiaNews – O senhor acredita que próximo prefeito tem condições ser melhor?
Galindo – Tem tudo para ser. Ele vai receber uma casa moderna, em condições de ser um prefeito muito melhor do que eu. Eu tive que arrumar. Eu perdi tempo em arrumar.
MidiaNews – E o senhor espera que ele seja melhor?
Galindo – Espero, torço e rezo para que ele seja o melhor prefeito da história. A Prefeitura indo bem, Cuiabá vai bem e eu vou bem, vou feliz.
MidiaNews – Como o próximo gestor de Cuiabá vai encontrar a Prefeitura?
Francisco Galindo – O próximo prefeito terá grandes desafios pela frente. Muitos mesmo. Cuiabá precisará muito dele, e tem muito o que fazer. Eu vou deixar uma Prefeitura com um fluxo de caixa bom, com uma receita para os próximos quatro anos de aproximadamente R$ 350 milhões, acima do que eu recebi. Isso foi também graças ao aumento do IPTU e as correções do ISSQN. Nós começamos a cobrar o ISSQN em instituições que não pagavam. A criação da Secretaria de Fazenda deu uma receita muito boa para o município.
MidiaNews – Qual é a expectativa orçamentária para o ano que vem?
Galindo – No ano que vem nós vamos ter um orçamento como um todo, a LOA [Lei Orçamentária Anual], de R$ 1.570 bilhão. Um bilhão, arredondando, será para os repasses constitucionais, do Governo Federal e estadual, e receita própria. Depois, temos o SUS e o Fundeb. Para ter uma idéia do que o próximo prefeito vai receber, no ano que vem ele vai receber R$ 60 milhões a mais do SUS, que foi uma conquista que nós tivemos, que teve a parceria com o governo do Estado também, que nos ajudou, são R$ 5 milhões a mais por mês para o SUS. Fazia 13 anos que o teto de Cuiabá não aumentava. Então, o próximo prefeito também vai ter mais dinheiro para a Saúde. Este ano, nós investimos, com o repasse do SUS e mais a Fonte 100, R$ 360 milhões na Saúde. Para o ano que vem, está no orçamento R$ 480 milhões, R$ 120 milhões a mais. Então, quer dizer, vai ter condição de melhorar ainda mais a Saúde, porque ainda tem muito o que fazer. Por isso que digo que é um desafio. Se eu falar de Saúde, nesses meus dois anos e meio, há duas UPAs [Unidades de Pronto-Atendimento], uma entregue. Será inaugurada em dezembro e já vai estar em funcionamento. A outra deve ser entregue em abril. O próximo prefeito vai ter uma UPA pronta e uma sendo construída.
“Se nós tivéssemos o orçamento de 2010, hoje não estaríamos pagando folha de pagamento. Tinha problema de coleta de lixo pra pagar”
MidiaNews – O orçamento de Cuiabá era de quanto quando o senhor assumiu?
Galindo
– Era de R$ 1,2 bilhão, mas ali tinha recurso do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], tinha outras coisas. A receita da Prefeitura era de meio bilhão. Então nós vamos chegar a praticamente R$ 1 bilhão. Praticamente, a receita do Estado e Federal só subiu a inflação. Então, foi trabalho e recurso próprio, e a Fonte 100, a famosa Fonte 100. O IPTU: de R$ 20 milhões aumentou pra R$ 70 milhões. E tem os que não pagam, que o próximo vai poder cobrar. Eu acabo de criar um fundo, aprovado essa semana, que é para o próximo prefeito. Eu não tenho tempo, então vai ficar para o próximo prefeito. Com o fundo, ele vai poder resgatar toda a dívida, o ativo que nós temos para receber que dá mais de meio bilhão de reais. Ele vai poder negociar com as instituições financeiras.
MidiaNews – Então, o senhor entrega para o próximo prefeito um orçamento maior?
Galindo – Se nós tivéssemos o orçamento de 2010, hoje não estaríamos pagando folha de pagamento. Tinha problema de coleta de lixo pra pagar. E atrasava. Se você não tem dinheiro, você não paga. Você vai deixar os seus fornecedores sem receber. Então hoje, nós não temos um centavo atrasado de coleta de lixo. É só pegar os jornais, sites do passado. A empresa não queria trabalhar porque não recebia, teve período de folha de pagamento atrasado.
MidiaNews – Quais outros setores a prefeitura devia?
Galindo – Saúde! Era déficit grande, de R$ 20, R$ 30 milhões todos os anos que ficava pra trás. Esse ano é zero. Tem um pouquinho de 2011, 2010, do passado. Esse ano é zero. Então, o próximo prefeito terá esse legado também.
MidiaNews – O senhor considera que recuperou a capacidade de investimento da Prefeitura?
Galindo – Com certeza. O maior exemplo é que nós compramos 50 caminhões e pagamos. Nós compramos 23 máquinas e pagamos. Foram R$ 15 milhões, só de equipamentos, 100% pagos.
MidiaNews – E fazia quanto tempo que a Prefeitura não fazia uma compra dessas de caminhões, por exemplo?
Galindo – Segundo os antigos da Prefeitura, e aí eu não posso afirmar, era que nos últimos 20 anos não tinha uma máquina comprada. Isso eles falam, eu não tenho esse histórico.
Thiago Bergamasco
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Galindo
– O Poeira Zero, a primeira fase realizada: estávamos com uma programação de entre R$ 90 milhões e R$ 100 milhões. Nós vamos conseguir realizar só entre R$ 75 milhões e R$ 80 milhões, realizar e pagar. O próximo prefeito tem que ter também características de empreendedor. Não tem que ser empresário, não é isso. Estou dizendo que ele tem que vir aqui, e não precisa ter título, tem que ter a vontade e o desejo de realizar. O próximo vai ter que ter ações como eu. Eu estou apanhando novamente porque estou vendendo quatro terrenos. Pra que quatro terrenos? Nós temos uma obrigação com a Fifa, pra Copa do Mundo, de termos que ter o abastecimento, temos que ter um Ceasa [Central de Abastecimento]. Não temos R$ 20 milhões, R$ 25 milhões para fazer isso. Nós temos um terreno que hoje usa o Ceasa. Arcaico, velho, feio. Eu estou vendendo isso aí. Houve uma falha da Policlínica que já corrigiu. Então, eu estou sendo criticado.
MidiaNews – O objetivo é vender os terrenos?
Galindo – Sim. Pra quê que serve aquilo pra Prefeitura?
MidiaNews – Está avaliado em quanto ali?
Galindo – R$ 12 milhões, R$ 13 milhões, mas como é leilão, com certeza vai ser mais que isso aí. Eu tenho as avaliações oficiais, então eu tenho que respeitar a avaliação, mas acredito que vai ser vendido por um valor maior do que está avaliado.
“O próximo prefeito tem que ter também características de empreendedor. Não tem que ser empresário, não é isso, mas tem que ter desejo de realizar”
Galindo – Sim, vai tudo para investimento. O próximo prefeito tem que fazer isso. Nós temos mil terrenos. Ou vai pra doação para entidades, maçonaria, igreja católica, evangélica, associação de bairros, ou para invasão – e aí tem que ficar brigando na Justiça e gastando dinheiro – e esse patrimônio parado. A Prefeitura não é imobiliária. É? Não é. Então tem que respeitar área verde, tem que respeitar praça, tem que deixar terreno para construir creche. Aí, normal. Isso nós estamos respeitando. Mas o próximo prefeito tem que ir atrás de recursos, porque com recursos você faz o bem da sociedade e sem recurso você não faz.
MidiaNews – O senhor considera, nessa linha, que o maior legado que vai deixar pro próximo prefeito seja essa questão de gestão mesmo?
Galindo – Foi o que eu tive tempo de fazer.
MidiaNews – Mas já era sua prioridade?
Galindo – Já era minha prioridade. Tenho certeza do desafio a discutir ontem, hoje e amanhã. O que eu fiz está documentado. Como estava e como eu vou entregar.
MidiaNews – O senhor acha que colocou ordem na casa?
Galindo – É duro falar esse termo “ordem”, porque eu sei que ainda tem muita coisa pra avançar. Então eu posso dizer que deixei um rumo. Deixei um legado que, se derem continuidade, tem uma casa em ordem. Mas eu não considero hoje que está pronta [a Prefeitura]. Eu queria muito mais. Eu queria a cidade totalmente pavimentada, tratamento de esgoto 100%, um aterro sanitário moderno, que não tive tempo de fazer. Então, estou dizendo: tem muita coisa. Eu não estou dizendo que eu fiz a gestão. Em pouco tempo, eu deixei uma Prefeitura moderna. Então ele pode, com a receita que ele vai ter, maior do que eu tive, e continuar com a austeridade, ele vai ter condições de realizar muito mais e aí sim, puxa vida, teremos uma Prefeitura muito mais eficiente.
MidiaNews – Quer dizer então que o senhor fez a base?
Galindo – Em todas as áreas. Nós estamos construindo um camelódromo moderno. Vai ser um centro popular moderno para 300 famílias. Com recurso próprio. Está pronto e vamos inaugurar esse mês. Acabar com os camelôs que estão estragando a praça e que precisam daquilo. Não teve uma discussão, não teve uma briga. O Verdão a mesma coisa. Aquilo é um lugar de problema. Eles aceitaram sem briga. Eles aceitaram e encontramos um terreno em parceria. Agora, eu não tive tempo de fazer um mercado municipal. O centro da cidade. O próximo tem que fazer a mesma coisa que eu fiz, fazer um moderno ali mesmo. São poucos os concessionários ali. Então, dá pra fazer, e eu não tive tempo de fazer. Eu mostrei que dá pra fazer. Se fiz com o camelô e to fazendo com o mercado atacadista, então tem condições de fazer com aquele mercado municipal.
MidiaNews – De alguma maneira te frustra você ter feito o trabalho da maneira que você está falando, efetivo internamente, mas de alguma maneira as pessoas, ou a maior parte da população, não ter entendido isso, não ter tido a oportunidade de conhecer isso? O senhor sai da Prefeitura um pouco frustrado por conta disso?
Galindo – Sobre isso não, porque tenho certeza de que lá na frente eu vou ser compreendido.
“Não me arrependo de nenhuma medida que eu tomei; tenho a convicção de que foi bom para Cuiabá”
Galindo – Se ele for melhor que eu em comunicação, sem dúvida alguma. O legado pode ficar pra ele. Mas a população é sábia, vai entender que eu dei o primeiro passo. Disso eu não tenho dúvida. Eu dou um exemplo da coleta de lixo. Eu economizei R$ 6 milhões por ano e melhorou. O próximo pode melhorar ainda mais.
MidiaNews – Quando o senhor assumiu, se assustou com a situação da Prefeitura?
Galindo – Não. Eu tive a oportunidade, até o ex-prefeito Wilson [Santos] insistiu, de ser secretário de Planejamento. Ele já tinha um projeto para ser candidato e eu não queria nem fazer parte. Eu ainda era deputado e estava conhecendo ainda o que era política. Ele falou que era importante, que tinha um projeto e que era importante que eu já tivesse um conhecimento da Prefeitura. E pela Pasta de Planejamento, passavam todas as secretarias. Então eu passei a ter informações. Mas o legado da Prefeitura é muito antigo. Nós não podemos negar que foi o Wilson que começou a pagar a folha em dia. Isso não pode negar. Ele criou o Cuiabá Vest, o Bolsa Universitária, que construiu a avenida das Torres. Então, tem legado. E eu conhecia a Prefeitura. Então tinha um passado que era o que estava no presente ali ainda e esse presente tinha que ter solução. E eu perdi quase um ano solucionando. Esse daí vinha junto: a coleta, sem recurso pra fazer, o metro de obra. Aí teve que ampliar o valor da planta genérica, que aumentou o IPTU. E aí eu comecei a ter receita em 2011. Em 2011, o IPTU de 10 foi para 45.
MidiaNews – O fato do senhor ter tomado medidas simples, mas antipopulares, é o principal motivo que o senhor ainda tem rejeição junto à população. Você faria diferente? Teria tomado outras medidas se soubesse que trariam tanto desgaste?
Galindo – De forma alguma. Eu tomaria as medidas. Se eu tivesse sido eleito prefeito por quatro anos, eu teria discutido um pouco mais. Mas tomaria todas as medidas. Não me arrependo de nenhuma medida que eu tomei e tenho a convicção de que foi bom para Cuiabá. Ruim pra mim. Mas a opção não é o Chico Galindo, é Cuiabá. Eu sou o prefeito de Cuiabá. Eu passo, Cuiabá fica. Então eu teria um tempo para poder discutir melhor, pra explicar melhor. Eu não tive isso aí, eu tive que atropelar um pouquinho.
Thiago Bergamasco
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Galindo
– O grande erro da minha gestão foi falha na comunicação. Eu não estou dizendo os secretários. Porque, aí, é o gestor que erra. Eu errei na comunicação, e errei muito.Se você pegar o histórico de cada prefeito, que com recurso próprio equipou a Prefeitura com maquinário – nós compramos mais de mil computadores pra Prefeitura, que é interno e ninguém vê – nós temos hoje uma central de informática aqui invejável. Eu já preparei todas as unidades de saúde e educação pra ser tudo web, interagindo. Essa infraestrutura eu já consegui fazer sem endividar a Prefeitura. Eu não emprestei um centavo com terceiros. Eu deixei um legado importante.
MidiaNews – O senhor considera que conseguiu atingir seus objetivos, ou muita coisa não foi possível se fazer?
Galindo – Olha, em dois anos em meio, até avancei muito. Pelo período e pela Prefeitura que não tinha receita. Então, eu tive que me preocupar em agilizar todos os projetos, porque sem projeto você não faz nada. Então é um espaço curto de tempo. Eu recebi elogios do Tribunal de Contas do Estado já na conta de 2011. A de 2012 é muito melhor. E por quê? Porque foram percebendo que a Prefeitura era parceira. O Ministério Público, o avanço que nós tivemos nos TACs [Termo de Ajustamento de Conduta]. Porque eu vou lá ao encontro, eu não espero. O Ministério Público questiona. Se ele questiona, tem fumaça, tem que ir lá ver o que é. E quantas vezes eles estão certos e nós corrigimos? Então, tem um ambiente muito bom em todos os poderes porque eu vou. Está errado? Pare, não faça. Foi um período curto, mas acho que mesmo assim eu deixei um bom legado. Queria ter mais tempo para poder planejar melhor. Eu tive que planejar e correr e plantar. E isso é ruim.
MidiaNews – Mas, não fica nenhuma frustração?
Galindo – Nenhuma, nenhuma, nenhuma. Fica só uma de uma de comunicar mal. Se comunicar que 1/3 das escolas eu estou reformando, que 1/3 das unidades de Saúde eu estou reformando, informatizei a Prefeitura, equipei a Prefeitura, criei o Poeira Zero, pontes de concreto, recapeei 200 quilômetros, em dois anos e meio. Eu avancei muito em dois anos e meio e não endividei em um centavo a Prefeitura.
MidiaNews – Houve denúncias de corrupção em seu governo.
Galindo – Graças a Deus, não. Não houve nenhuma denúncia de corrupção. E espero que não tenha daqui para a frente.
MidiaNews – Isso se deve a qual motivo?
Galindo – Isso eu não tenho como te falar. Eu seria irresponsável em dizer que não há, porque a gente escuta tanta coisa. Quando chegam e falam pra mim eu vou lá, eu vou ao encontro. Ministério Público, Tribunal de Contas, quem for eu vou atrás, vou de encontro e não tenho medo de enfrentar. Mas a Prefeitura está caminhando para informatizar e a informatização é fundamental para qualquer empresa, porque a partir daí a Prefeitura começa a ter as informações necessárias e coibir a corrupção que tem no dia a dia, que sem dúvida alguma, tem. Eu posso dizer que tudo que chegou aqui de informações, eu denunciei. Chegaram várias ações aqui pra mim e eu não pisquei o olho, eu denunciei.
MidiaNews – Mas o senhor acompanhou de perto, por exemplo, o processo de concessão da Sanecap.
Galindo – Se você não acompanhar os grandes processos em cima, não sai. Eu fui e procurei 47 entidades. Eu estava à frente. É um processo antes de um processo licitatório. O que é isso, o que é aquilo, de onde veio, para onde vai, de que jeito fez. Opa, aqui está errado. Sugestões que vieram de várias entidades corrigindo. A última delas, que foi a mais importante pra mim, foi que Campo Grande recebia 5% da receita bruta. Inseri no último dia. Vamos ter uma receita fantástica. No ano que vem deve estar faturando R$ 20 milhões por mês a mais para a Prefeitura de Cuiabá, coisa que não teria. Ficamos sócios da concessionária. Mas fiquei em cima. Como o Poeira Zero, fui pra Brasília, contratei empresas para fazer projetos, porque sem projeto não sai nada. Tem um projeto lá para sair R$ 100 milhões para o Poeira Zero que não sei porque não saiu até hoje. Está lá em Brasília. Esse BRT, que é um misto que vaiter ciclovia da [avenida] Imigrantes até a Fernando Correa, do Pedra 90 até a Fernando Corrêa, onde termina o VLT, e a Trabalhadores. São três projetos, totalizando R$ 135 milhões. Estou trabalhando todos os dias neles.
MidiaNews – O senhor deve deixar quanto de volume para investimento, considerando esses projetos?
Galindo – Se saírem esses projetos, por volta de R$ 300 milhões, R$ 350 milhões contratados. Esse dá R$ 235 milhões. Aí tem o Proinfância, ônibus escolares, unidade de Saúde, tudo em fase de produção que o próximo prefeito vai ter que dar continuidade.
MidiaNews – A outorga da CAB Ambiental vai ser paga toda este ano?
Galindo – Não, vão ficar R$ 25 milhões ainda. E ainda R$ 1 milhão por mês a receber, aproximadamente.
“Mas, o que Cuiabá precisa, é de um hospital estadual. Para solucionar de vez os problemas do Pronto Socorro”
Galindo – Não, o último nós recebemos este mês.
MidiaNews – E foi de quanto?
Galindo – R$ 20 milhões. Deu R$ 135 milhões este ano e o próximo prefeito ainda vai receber mais R$ 25 milhões.
MidiaNews – Galindo, quando o senhor veio para Cuiabá passava pela sua cabeça, nem que fosse em sonho, ser prefeito de Cuiabá?
Galindo – Nem em sonho! Nunca! Nunca imaginei fazer política em Mato Grosso. Longe, nada, nada. Só virei política porque virei diretor do Hospital Geral. E lá você tem um atendimento muito grande e tinha os políticos dizendo: ‘Você tem que ser candidato, você atende muita gente’. Puxa vida, nós fizemos um avanço naquele hospital, que ia fechar.
MidiaNews – O senhor candidatou direto a deputado estadual?
Galindo – Sim, candidatei direto a deputado e venci. Isso em 2006. Eu não acreditava e fui o sétimo mais votado em Cuiabá. Tive quase oito mil votos em Cuiabá. Você precisa retribuir. Tem alguns imbecis ainda que dizem: ‘Esse prefeito não ama Cuiabá, faz o que faz , só prejudica, fica com rejeição’, sendo que estou fazendo por Cuiabá.
MidiaNews – Agora que o sonho foi realizado, qual é o seu sentimento agora nessa reta final?
Galindo – Deixa só eu completar mais um item e aconselhar o prefeito também. A área social. A minha esposa fez um trabalho espetacular no [projeto] Valorizando Vidas, mas só agora na reta final, mas está deixando um grande legado. Projetos lindos, mas só que não divulgamos. Ela está distribuindo berços, todo o enxoval para crianças, para essas mães de 12, 14 anos. Eu tenho uma neta de 12 anos e a gente vê meninas de 12 grávidas! Então é um legado que tem que fazer. Como eu tive que correr atrás de projetos, correr atrás de Câmara para aprovar o aumento do IPTU. Eu tive que organizar a casa. Então, para o próximo prefeito fica esse conselho para que cuide ainda mais da área social lá na ponta. Você não queira saber. A gente anda e vê ainda a necessidade que tem em Cuiabá e no Brasil. A [presidente] Dilma sempre fala que o Brasil sem miséria é um país maravilhoso. Uma Cuiabá sem miséria vai ser ainda mais bonita.
MidiaNews – Voltando àquela questão: o senhor vai deixar Cuiabá como um sonho realizado? O senhor sai feliz, realizado, convicto com a Prefeitura?
Galindo – A única coisa que eu saio com sentimento de tristeza é de ter um pouquinho mais de tempo. E nem precisava muito, uns seis meses já dava.
MidiaNews – Por quê?
Galindo – Porque aí eu concluiria todos os projetos. Tem projeto que vai ficar no meio do caminho. E se vai concluir ou não eu fico preocupado. Então, mais seis meses eu concluiria 100% essa primeira etapa e a Prefeitura ficaria numa situação melhor. Então, nos próximos seis meses, eu tenho só de dinheiro novo, R$ 30 milhões para aplicar na Saúde. R$ 30 milhões! Dá para fazer muita coisa, equipar melhor as policlínicas, pagar melhor o plantão. E aí eu fico triste de não ter esses seis meses. Mas, no geral, cabeça erguida. E convicto de que dei o melhor de mim para Cuiabá. Esqueci o Chico Galindo e pensei em Cuiabá. Não tenha dúvida disso, e o tempo vai mostrar. A maior crítica que tem, que é a questão da concessão [da Sanecap], que Deus ilumine a empresa, porque o próximo prefeito vai ter que cobrar. Não fui eu que escolhi a CAB, foi um processo licitatório gigante e o Brasil veio. Eram 13 empresas e no fim ficaram duas. A CAB, que Deus ilumine e, na hora que ela entregar o plano de ação agora no final do mês, o próximo prefeito tem que cobrar. Porque se a CAB foi mal, o grande projeto de Cuiabá é ruim. Se a CAB for bem, a população vai entender: ‘Puxa vida, o que ele falou lá atrás é verdade’. Então, eu tenho que torcer pro próximo prefeito ser rígido. E que Deus ilumine o Lúdio [Cabral], porque esse negócio de transformar em pública é totalmente equivocada. Por favor, pare um minuto. Isso é conselho também: não faça essa bobagem! Cobre. A coleta de lixo, ele pode, ele diz que vai transformar em pública. Eu fiz isso em Prudente [SP] e está até hoje lá implantado. Eu não tive tempo de fazer aqui, porque primeiro tem que ter um aterro adequado para tomar essa atitude. Ele vai ter tempo de fazer o aterro e vai ter tempo de poder fazer saneamento. Essa história de PAC e não sei o que Cuiabá não merece.
MidiaNews – Para concluir, qual será o seu futuro político? O caminho natural é uma disputa a deputado federal em 2014?
Galindo – A única coisa que eu penso é deputado estadual. Porque o federal tem que ir a Brasília. Eu amo aqui, o que vou querer fazer em Brasília? Não tenho essas ambições. Mas mesmo assim eu preciso rever minha vida política, se vale a pena. Eu perdi nesses dois anos, e muito, na minha vida privada. Ganhei muito em experiência e retribuir para Cuiabá tudo que ela me deu. Mas eu vou ter tempo de refletir, de analisar, de voltar ao convívio da minha família, da qual ando tão distante. Mas, se tivesse que decidir hoje, eu seria candidato a deputado estadual.
MidiaNews – A tendência é essa, mas o senhor admite a possibilidade…
Galindo – De deixar a vida pública? Eu admito, sim, essa possibilidade. E irei conversar e ouvir muito a minha família a esse respeito.
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