Pedofilia MT: Vaticano: conferência sobre pedofilia é marcada por diferenças

Após quatro dias de debates sem tabus, 200 líderes da Igreja católica escutaram nesta quinta-feira uma palestra sobre as diferenças culturais na Ásia diante do escândalo dos abusos sexuais de menores.

Um centro de formação "online" de padres, bispos e freiras para a proteção da infância deve ser lançado nesta quinta-feira.

Esta reunião teve um papel, segundo vários participantes, de seminário de formação de muitos bispos, que precisam trocar experiências, sobre um assunto que ainda é tabu. Muitos temas, como a violação de deficientes ou o tratamento das vítimas de abuso e de criminosos, foram abordados de maneira direta.

Desde maio do ano passado, bispos do mundo inteiro foram ordenados pela Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé a desenvolver, no período de um ano, dispositivos de luta contra a pedofilia, em conformidade com os requisitos de Roma e de colaborar com a justiça civil. Este simpósio, organizado pela Universidade Jesuíta, é uma etapa para ajudar as conferências episcopais a cumprir este prazo, fornecendo diretrizes claras e informações.

O arcebispo de Manila, Luis Chito Tagle, reconheceu nesta quinta-feira que as conferências episcopais da Ásia ainda não colocaram em ação as novas disposições, que por vezes são confrontadas com dificuldades e com a não motivação de alguns bispos.

Quando são em pequeno número, por exemplo no Laos e no Camboja, simplesmente não há condições de responder de forma rápida as recomendações do Vaticano, observou.

O jornal da Santa Sé, o Osservatore Romano, ressaltou o papel do simpósio para acabar com a cultura do silêncio.

"A justiça é sinônimo de verdade. O esclarecimento dos fatos, o reconhecimento das responsabilidades e o pedido de perdão são os fundamentos de um caminho de reconciliação que a igreja precisa percorrer com determinação", comentou o jornal.

Um especialista brasileiro e o arcebispo de Manila explicaram que as diretrizes do Vaticano podem ser mal interpretadas pelos padres e fiéis.

Segundo o professor Edenio Valle, psicólogo conselheiro dos bispos brasileiros, eles "não sabem o que devem fazer" contra a pedofilia, "tolerada culturalmente". "Nenhuma medida eficaz foi prevista pela igreja brasileira (a maior do mundo) em curto, médio ou longo prazo", explicou Valle.

O bispo Tagle observou que na Ásia em geral, uma cultura de "vergonha" impede que as vítimas e suas famílias falem sobre o abuso pedófilo.

Diante da imprensa, Tagle, nomeado no fim de 2011 arcebispo da maior diocese da Ásia explicou que uma vítima dificilmente iria expor o seu caso à justiça e procuraria de preferência a própria igreja.

Outra reação comum é a relutância: "Um pai deve entregar o seu filho?", é uma reação que se ouve entre os bispos, quando se trata de denunciar uma conduta de um padre, disse.

De acordo com Tagle, o celibato imposto aos sacerdotes da igreja católica deveria seria mais bem explicado, implicitamente reconhecendo que é um problema.

"Alguns acreditam que o celibato é apenas uma regra que uma igreja conservadora decidiu manter por causa da tradição", lamentou.

Reinhard Marx, arcebispo de Munique, admitiu que "os últimos dez anos, vários líderes da igreja passaram a considerar prioridade proteger as instituições e esconder a terrível verdade ao invés de reconhecê-la em todo o seu horror".

É precisamente a partir de Munique que deve ser gerado o centro on-line, acessível para o mundo inteiro, que o simpósio deve lançar nesta quinta-feira, incorporando os conhecimentos mais atualizados sobre as múltiplas dimensões do problema da pedofilia.

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