A tragédia no Rio Grande do Sul marcará tristemente nossa época. Ela é especialmente chocante porque, dos mais de 200 mortos, pelo menos 172 tinham menos de 35 anos

É uma dor que se propaga em ondas. Ao longo da semana, o país se solidarizou com os pais que viveram a provação mais terrível – enterrar seus filhos. Soa sempre absurdo quando vidas são abreviadas antes de realizar todo o seu potencial. Em parte por causa desse tipo de choque, artistas que morrem jovens – como o ator James Dean (morto aos 24 anos num desastre de carro), a cantora Amy Winehouse (aos 27, de overdose) e, no Brasil, a atriz Leila Diniz (aos 27, em desastre de avião) – se tornam mitos instantâneos. Fica a sensação de que eles teriam muito mais a criar em suas áreas. O que dizer então de jovens que ainda nem haviam iniciado sua vida profissional, aqueles que estavam na boate Kiss? Pode-se dizer que, de certa forma, seu futuro foi roubado na madrugada do dia 26 para o dia 27 de janeiro.
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O que ocorreu na boate Kiss não é uma fatalidade, como a maior parte dos desastres aéreos ou rodoviários. As primeiras investigações policiais mostram que erros, ilegalidades e negligências somaram-se para compor a grande tragédia. É importante que os responsáveis sejam punidos, depois de julgados e condenados. Mais importante, no entanto, é tirar lições do episódio para evitar tragédias semelhantes no futuro. As reportagens que começam nas páginas 56 e 62 esmiúçam o comportamento das grandes multidões e os procedimentos de segurança necessários para evitar tragédias como a de Santa Maria.
Por último, vale fazer uma reflexão sobre o Brasil. Somos um país de jovens. Cerca de 51% da população brasileira tem menos de 29 anos. Como tratamos esses jovens? O primeiro número a considerar: são justamente eles que mais morrem de causas violentas. A estatística de homicídios entre os que têm de 15 a 24 anos foi de 52,4 por 100 mil em 2010, o dobro da média nacional. Outra causa comum de morte é a imprudência no trânsito. “O ritmo de acidentes automobilísticos entre os jovens, especialmente por motocicletas, cresce a uma taxa tão alta que deve superar os homicídios daqui a uns cinco ou dez anos”, diz o pesquisador Julio Jacobo Waiselfiz. É inevitável constatar que os jovens morrem menos em culturas onde há menos violência. E também mais cuidado – e respeito – com a vida e as leis que a protegem. Enquanto o Brasil não entrar para esse time de países, o futuro roubado não será apenas de jovens como os de Santa Maria. O futuro roubado será o próprio futuro do país.
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