Em Recife, PSB elege prefeito e PT perde espaço


Com apenas 17,43% dos votos, o antes favorito senador Humberto Costa (PT) terminou a disputa em terceiro

O prefeito eleito de Recife, Geraldo Júlio (PSB), nunca havia disputado uma eleição. A indicação partiu do governador Eduardo Campos, que pode tentar se cacifar a disputar a Presidência do Brasil FOTO: CLÁUDIO TOMAZ / FRAME / AGÊNCIA O GLOBO

Recife. O administrador de empresas Geraldo Júlio, de 41 anos, elegeu-se ontem prefeito do Recife, em primeiro turno, com 51,15% dos votos (com 99,08% dos votos apurados).


Filiado ao PSB desde 2002, ele jamais disputara uma eleição antes. A escolha do eleitorado recifense fortalece a condição de personagem nacional do governador Eduardo Campos, presidente nacional do PSB e mentor político de Júlio.

Um dia antes do prazo final para a apresentação de candidaturas, Campos escolheu um auxiliar novato que derrotou outros experimentados políticos de Pernambuco.

O segundo lugar (27,65%) ficou com o ex-vereador e deputado estadual Daniel Coelho (PSDB), de 33, que cresceu na reta final, mas não conseguiu evitar a eleição em só um turno. Bem atrás, com 17,43% dos votos, o antes favorito Humberto Costa (PT), de 55, senador e ex-ministro. O fracasso da candidatura do petista pôs fim à hegemonia do partido de 12 anos na Prefeitura do Recife.

De olho nas disputas de segundo turno e nas eleições de 2014, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a crise gerada entre o PSB e o PT no primeiro turno não vai abalar a relação dos dois partidos, especialmente numa eventual candidatura à reeleição de Dilma Rousseff.

PT e PSB, partido do governador pernambucano Eduardo Campos, racharam em três capitais, sendo que Recife foi o símbolo da discórdia. Nos últimos dias, Lula intensificou os movimentos de aproximação de Eduardo Campos.

O governador declarou sua independência do PT e entrou para a seleta lista de presidenciáveis. Até mesmo Dilma já avalia nos bastidores as chances da candidatura do aliado em 2014.

Com cuidado para não antecipar em dois anos a disputa nacional, o socialista não fala de seu futuro. Mas lançou, ontem, um enigma fácil de decifrar. "Nestas eleições, o PSB deixa a infância para entrar na idade adulta", declarou o governador.

Embutida na frase está uma avaliação feita pelo próprio governador em rodas reservadas: não é possível levantar voos altos com uma legenda pouco estruturada.

Em 2008, com 306 vitórias, o PSB era um partido satélite do PT, e foi se avolumando como força eleitoral debaixo das barbas petistas, inclusive da do ex-presidente Lula. Um dirigente completa a metáfora do governador pernambucano: o partido está deixando a órbita do PT; está virando planeta.

Até bem pouco tempo, Campos alimentava a esperança de ser o vice de Dilma Rousseff ou de Lula daqui a dois anos para se projetar como sucessor somente em 2018. Os planos deram errado justamente quando os petistas se convenceram, a partir desta eleição em Recife, das ambições do aliado.

Queda

Humberto Costa, candidato derrotado do PT, que largou na dianteira, com 40% e findou com 17,43%, disse que o partido vai agora discutir se vai fazer oposição ao governo Eduardo Campos, onde petistas ocupam duas secretarias.

Ele informou que na próxima quarta-feira, haverá uma reunião da direção nacional do partido para fazer uma avaliação para além do âmbito regional.

Ungido pelo PT nacional para disputar a prefeitura depois de um racha interno no partido, o senador Humberto Costa afirmou ter cumprido sua missão.

Graças à intervenção do partido de Lula houve um consequente rompimento com o PSB, que decidiu então lançar candidato.

"A derrota não me diminui", frisou ele, ao avaliar que o resultado da eleição no Recife destoou do desempenho do PT nacionalmente. "O PT teve resultados muito bons", avaliou.

Tucano

Segundo colocado na disputa pela prefeitura do Recife, o tucano Daniel Coelho disse que o PSDB e a oposição saem fortalecidos da eleição cuja disputa ele começou com 4% e conseguiu 27,65% dos votos válidos.

"Conseguimos uma vitória que não estava na conta de ninguém: sem dinheiro, enfrentando os donos do poder, as máquinas, calúnias", disse.

"Não saio de cabeça baixa nem derrotado", reforçou, ao falar à militância, no seu comitê, no bairro de Boa Viagem, na zona sul, depois de apuradas as urnas que deram a vitória ao candidato do PSB, Geraldo Julio.

Hoje Daniel Coelho vai retomar sua cadeira de deputado estadual na Assembleia Legislativa, para continuar "lutando pelo Recife e por Pernambuco, fiscalizando o governo estadual e o novo prefeito".
Em Teresina, PSDB e PTB disputam

Teresina. O candidato do PSDB, Firmino Filho, vai disputar o segundo turno das eleições em Teresina contra o atual prefeito, Elmano Férrer (PTB).

O tucano teve 38,84% dos votos válidos. Em terceiro lugar, ficou o senador e ex-governador Wellington Dias (PT), com 33,24% dos votos válidos.

A disputa em Teresina foi marcada pela ruptura da aliança entre o PTB e o PT. Após a intervenção da direção nacional petista, o partido decidiu lançar Dias como candidato.

O senador não conseguiu deslanchar na campanha mesmo recebendo o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gravou participações para seu programa eleitoral.

Na reta final da campanha, Firmino também ganhou reforço, com a ida do senador mineiro Aécio Neves (PSDB) à Teresina.

Juntos, eles visitaram o governador Wilson Martins (PSB) para pedir apoio num eventual segundo turno.

Na ocasião, Martins reafirmou seu apoio ao candidato de seu partido, Beto Rego, que ficou em quarto lugar, com 10% dos votos válidos.

Economista e professor universitário, Firmino foi eleito prefeito de Teresina em 1996 e reeleito em 2000. Hoje, exerce o cargo de deputado estadual.

Já Elmano foi secretário de Estado do Planejamento entre 1991 e 1995 e assumiu a Secretaria de Estado do Trabalho e Desenvolvimento Econômico no primeiro governo de Wellington Dias (2003-2006).

Em 2004, foi eleito vice-prefeito na chapa de Silvio Mendes (PSDB). Reeleito, assumiu o cargo de prefeito em março de 2010, quando Mendes renunciou para disputar o governo do Estado.
Natal tem 2º turno entre PMDB e PDT

Natal. Foi confirmada a realização de segundo turno com Carlos Eduardo Alves (PDT) e Hermano Moraes (PMDB) na disputa pela Prefeitura de Natal, rio Grande do Norte. Carlos Eduardo obteve 40,41% dos votos válidos, contra 23,02% conquistados por Hermano.

O novo prefeito terá problemas nas áreas de transporte e de saúde - a prefeitura é acusada de atrasar pagamentos de terceirizados da saúde e enfrenta protestos da população contra o aumento da passagem de ônibus na capital potiguar.

A atual prefeita, Micarla de Souza (PV), que desistiu em junho da reeleição, sairá com uma desaprovação recorde: 92% dos natalenses consideram sua administração ruim ou péssima, segundo a pesquisa Ibope.

Na campanha, Alves contrapôs sua gestão à administração de Micarla e se propôs a "tirar a cidade do caos". A prefeita chegou a declarar apoio ao pedetista, que rechaçou o gesto.

Na ocasião, Moraes afirmou que respeitava a decisão da prefeita em apoiar seu adversário e também prometeu fazer, caso eleito, uma gestão diferente da dela, "que se encerra em caos administrativo". "A gestão dela não fez nada pela cidade. O lixo tomou conta de tudo. Só está um pouco melhor agora porque ela mandou limpar para as eleições", afirmou Eduardo Alves.