Chuva de visitas em Cuiabá

Já choveu dinheiro. Também calúnia. Ainda pesquisa eleitoral para todos os gostos e, para fechar o mês, uma torrencial chuva de visitas que nem sabem que Cuiabá é a capital ‘de’, e não, ‘do’ Mato Grosso. 

Alguns representantes de interesses que não são os nossos já apareceram por mais de uma vez para aquela conversinha ao pé do ouvido. 

A tese defendida por esses invasores autoritários do nosso espaço democrático é ranço da ditadura militar: alinhamento do governo federal, estadual e municipal. 


Diante da reclamação de um pedaço da base aliada, já que neste Estado todos são aliados do governo federal, o último visitante, antes de ir para o jantar de captação de dinheiro para a campanha do candidato da estrela, telefonou pedindo permissão ao senador mais votado nas últimas eleições e grande financiador da campanha da presidente Dilma - com direito a uma hipercolaboração em dinheiro para cobrir os famosos restos a pagar de campanha. 

Pois bem, este ilustre visitante demonstrou uma forte revolta contra o tipo de campanha que está sendo desenvolvido por aqui. E, numa atitude infantilizada, prometeu à militância que, assim que retornar a Brasília, relatará tudo à presidente para que sejam tomadas as providências necessárias. 

Outro dia desembarcou em Cuiabá outra visita ilustre. O porta-voz da presidente - considerado o grande vitorioso dessas eleições municipais. Emplacou no primeiro turno os seus candidatos à prefeitura de Belo Horizonte e Recife, derrotando os ministros da presidente e do ‘ex’. 

O presidente do PSB, e governador reeleito de Pernambuco, que apoia o governo federal, simplesmente repudiou a tese do alinhamento, pois o acha ditatorial e antidemocrático. 

A lista de visitantes exóticos foi enorme. Até a ministra do Planejamento, que nestes dois anos tem funcionado como uma verdadeira açougueira cortando todos os benefícios a que nosso Estado tem direito, apareceu com esta pérola para impressionar os esquecidos e desinformados: 

“O prefeito anterior queimou trezentos milhões de reais que viriam pelo Sedex para obras essenciais para Cuiabá”. 

Não entrarei em detalhes, pois a senhora ministra entende mais de queimar, tocar fogo e destruir do que eu. 

O famoso aviãozinho não-tripulável – que estava abandonado em um hangar no interior do Paraná, segundo denúncia da imprensa – sofreu umas pequenas reformas e foi exibido no puxadinho do Aeroporto de Várzea Grande. Fez um voo a Cáceres com enorme comitiva chefiada pelo próprio vice-presidente do Brasil e um monte de ministros, funcionários, seguranças e soldados para o espetáculo do horário político eleitoral gratuito. 

Com as despesas dessa empreitada eleitoreira, o governo alinhado do Estado poderia pagar as despesas do MTSaúde com os fornecedores, e ainda acertar os repasses de dinheiro para os hospitais 

Fato mais curioso ficou por conta do ministro-campineiro da Saúde. Ele confessou que o seu ministério possui recursos. Que a situação da saúde pública de Cuiabá é desumana, com morte de inocentes. Mas, os recursos para salvar vidas, só após as eleições. 

Até o bispo ministro da Pesca não sai da telinha da televisão - propondo um negócio (alinhamento político) que não é o seu forte - que é vender milagres. 

Será que a nossa gente ainda se ilude com esses shows de coreografia eleitoral? 

Se bem conheço o Lúdio, ele preferirá perder as eleições a vender sua alma ao diabo. 

Ele sabe que se assumir a prefeitura com esses apoiadores correrá o risco de terminar a sua carreira política sendo julgado pelo independente Supremo Tribunal Federal (STF). 

Lúdio poderá ganhar as eleições, mas não levará o poder, que será administrado por um montão de ‘voluntários’ apoiadores. 

Após a chuva de dinheiro e de visitas, só resta a mais importante de todas: que é a do voto. 



*GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT