Juventude e eleições

Por Heber Silveira Rocha*
A juventude brasileira, em termos absolutos, constitui um dos maiores segmentos da população. Há em torno de 51 milhões de jovens entre 15 e 29 anos no Brasil segundo o censo do IBGE (2010), isto é, um quarto da população. Na última década o Estado brasileiro passou a ter um olhar diferenciado sobre este segmento por entender que era necessário constituir políticas públicas que reconhecessem as especificidades de suas demandas. Em 2005 por meio da Lei n° 11.129 foi criada a Política Nacional de Juventude, a saber: Secretaria Nacional de Juventude, Conselho Nacional de Juventude; e o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM).
Mas o que este tema tem a ver com a eleição? Pode perguntar algum leitor desavisado. Tem tudo a ver. Os jovens constituem uma grande camada de eleitores que podem decidir uma eleição. Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral – TSE (abril de 2012) a população entre 16 e 17 anos, ou seja, a parcela dos jovens que tem a opção de votar constitui em termos proporcionais 1,77% da população. A primeira vista aparenta um percentual baixo, no entanto se observarmos em termos absolutos o número corresponde a 2.447.126 jovens que tem a opção de votar. Se ampliarmos esta análise para os jovens entre 18 a 24 anos, que tem, em tese, a obrigação do voto, esta margem amplia significativamente, atingindo 15,62% do eleitorado, representando em termos absolutos 21.599.644 eleitores. Esta massa de jovens constitui um número decisivo nos municípios e pode decidir uma eleição.

A cidade de São Paulo é um exemplo da força potencial do eleitorado jovem. Os jovens de 16 e 17 anos, isto é, que tem título de eleitor e podem votar, representam 0,9% do eleitorado, ou seja, 77.414 eleitores, número mais que suficiente para eleger um vereador do Partido dos Trabalhadores – PT (o último a ser eleito teve em torno de 30 mil votos em 2008). Considerando os jovens de 18 a 24 anos a proporção salta para 13,5%, ou um número total surpreendente de 1.156.553 eleitores jovens que tem, em tese, a obrigação de comparecer as urnas (TSE, 2012).
Diante deste quadro, marketeiros políticos, agências de publicidade, núcleos de inteligência de partidos políticos formulam estratégias e planos para conseguir o voto deste contingente. Uma tarefa árdua e difícil, pois não existe uma juventude homogênea. A característica central deste segmento é sua múltipla identidade e diferentes recortes, seja de gênero, cultural, religioso, classe social, etc. O que os jovens das diferentes origens sociais, tribos culturais e de gênero compartilham é um mesmo momento histórico. Portanto formular discursos para este segmento demanda entender a complexidade da juventude.
Para tanto, a maior parte dos partidos políticos brasileiros já constitui instâncias de juventude, responsáveis por aglutinar os filiados jovens e formular propostas na época de eleição, um dos resultados visíveis disso é o aumento de propostas deste segmento nos programas de governo. Além dos jovens partidários, existe uma gama de organizações e movimentos juvenis no seio da sociedade civil, que discutem propostas junto ao Poder Público e a candidatos em eleições, sendo influentes agentes neste cenário.
Para muitos jovens esta será a primeira eleição, para outros será a segunda. Portanto, querem votar olhando para frente, querem saber o que os candidatos têm a oferecer em termos de melhoria da qualidade de vida. O debate comparativo que se faz entre os governos anteriores perde força para este segmento, pois muitos eram crianças há 8 anos. Voltando ao exemplo da capital paulista, um jovem de 18 anos, qual será o parâmetro para ele escolher seu candidato a prefeito? O Haddad (PT) que usará o governo da Marta Suplicy como exemplo? Mas se isto ocorrer terá pouco apelo a este jovem, que em 2004 (último ano de mandato da petista) era uma criança de 10 anos. Ou este jovem escolherá Serra (PSDB) que, tradicionalmente, tem pouco diálogo com o segmento juvenil? Ou ainda Chalita (PMDB) que não tem expressão com as camadas populares de jovens?
A proposição de políticas públicas capazes de efetivar direitos constitui a tônica para este segmento ávido por novas ações do Poder Público que dialogue com sua realidade. Os candidatos terão que se desdobrar, pois além de comparar governos terão que apresentar propostas que tenham relação com os anseios das diferentes juventudes. As próximas pesquisas de intenção de voto ajudarão a compreender melhor o posicionamento desta faixa do eleitorado e, com isto, teremos mais elementos para avaliar o seu comportamento.
*Heber Silveira Rocha é Bacharel em Gestão de Políticas Públicas (EACH-USP) e Mestre em Administração Pública e Governo (EAESP-FGV).
Fonte:  Site Luis Nassif Online

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