EDUARDO MAHON Mais responsabilidade, candidatos!

É preciso ter responsabilidade quando se trata com o Poder Judiciário. Porque, querendo ou não, é ele quem nos socorre. Com todas as suas idiossincrasias e desacertos burocráticos, são os juízes que corrigem falhas ainda maiores em nosso sistema 


EDUARDO MAHON 

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É preciso ter responsabilidade quando se trata com o Poder Judiciário. Porque, querendo ou não, é ele quem nos socorre. Com todas as suas idiossincrasias e desacertos burocráticos, são os juízes que corrigem falhas ainda maiores em nosso sistema republicano e desacreditá-los, ameaça-los, coloca-los contra a parede é temerária irresponsabilidade. Querer derrubar o Judiciário é dar um passo certo rumo à ruína.
Quando assisto a entrevistas de candidatos para presidir a Ordem dos Advogados do Brasil entendo como agressão desnecessária nesse período eleitoral a alvejar o Poder Judiciário Mato-grossense apenas para promover-se junto aos colegas, autêntica irresponsabilidade com as instituições pelas quais deve zelar a OAB. De nada adianta alinhavar artigos apenas em tempos eleitorais. O eleitor percebe que não é verossímil. Se a crítica não for coerente, contínua e propositiva, o advogado é inteligente o suficiente para perceber o factoide, a simples tentativa de conquistar mídia.

Quando somos jovens, temos o direito de errar, avançar sinais da razoabilidade e nos darmos espaço para críticas mais contundentes. Como representantes de uma classe, no entanto, devemos conter a verve para corresponder a uma imagem e posicionamento que toda a categoria espera, pautando declarações pela humildade e responsabilidade. É a maturidade que chega e não pode ser ignorada.
O Tribunal de Justiça de Mato Grosso já passou por imenso desgaste nos últimos anos. A imagem do Judiciário dispensa mais um para pregar mais um cravo nessa cruz que já está muito pesada. Jogar pedras é fácil e convém ao populismo sem ética. É necessário que a advocacia seja sensata para propor soluções, participar ativamente dos caminhos que conduzam à celeridade processual e à qualidade da prestação jurisdicional.
Temos que ter independência, é verdade. Mas independência não é sinônimo de denuncismo. Não é possível usar as falhas judiciárias como trampolim para campanhas eleitorais. Não acrescenta em nada ao trabalho dos operadores jurídicos e fecha portas ao diálogo institucional que deve ser sempre facilitado e não dificultado com declarações inconsequentes. O Presidente da OAB deve dialogar com a sociedade, ser ele mesmo um verdadeiro magistrado e não uma metralhadora de críticas.
Até mesmo em campanhas classistas é preciso ter nível. Nível e ética. Por nível, entenda-se o mínimo de compostura para não explorar defeitos alheios, agredir pessoalmente, atingir famílias e a imagem pessoal; e por ética, clama-se pela desincompatibilização do cargo, pelo não uso da máquina administrativa, pelos valores tão reclamados pela própria Ordem dos Advogados. Isso é simplesmente coerência.
O advogado, como qualquer outro eleitor, não quer na campanha um cenário tétrico de ataques pessoais, com direito a fofocas rasteiras. Não é isso que se espera do novo Presidente da Ordem dos Advogados. Já rechaça veementemente o descompromisso nas críticas irresponsáveis ao Poder Judiciário porque é com ele que dialogamos diariamente. Finalmente, não suporta a alavancagem pessoal e partidária por meio da OAB.
Se são reais os problemas com o protocolo, a autuação processual, o envio a gabinetes, a expedição de alvarás, o acúmulo de varas, falta de magistrados, enfim, questões administrativas ainda não resolvidas, é preciso propor, contribuir, somar, e não apenas criticar. Esgotar as vias do diálogo, insistir na parceria, na mútua colaboração. É o que o advogado que sofre espera: atenção, colaboração, propostas e compromisso ético e responsável com a mudança.
(*) EDUARDO MAHON é advogado em Mato Grosso.

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