Depoimentos de ex-namoradas favorecem acusados de morte

Bianca Naiara recua e afirma que não reconhece atirador; ex-marido da jovem é acusado de ser o mandante

Katiana Pereira/MidiaNews

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Bianca Naiara (de costas) disse que não tem certeza se foi Evair Arantes, o "Baby", que atirou contra o ex-namorado, Auro Ida

KATIANA PEREIRA
DA REDAÇÃO

Os depoimentos das ex-namoradas de Auro Ida, Bianca Naiana e Pâmela Cristina Bastos, na 12ª Vara Criminal da Capital, pode favorecer diretamente os principais acusados de participarem da execução do jornalista, ocorrida em junho de 2011, no bairro Jardim Fortaleza, na periferia de Cuiabá.

O Ministério Público Estadual (MPE) ofereceu denúncia contra quatro suspeitos, sendo que dois deles teriam envolvimento amoroso com as testemunhas.

As oitivas foram realizadas na tarde de terça-feira (12), sob a presidência da juíza Monica Catarina Perri Siqueira. O MPE foi representado pelo promotor Antônio Sérgio Piedade.

Rubens Alves de Lima, 39, é ex-marido de Bianca e foi apontado pela Polícia Civil como o mandante do assassinato de Auro.

Bianca e Rubens moraram juntos por quatro anos. Ele teve a prisão preventiva decretada e está foragido da Justiça. Na audiência, ela disse que estavam separados há três meses, quando começou a namorar o jornalista.

Rafael Aparecido de Amorim Veiga, 18, atual namorado de Pâmela, foi apontado como um dos suspeitos de ter participado da execução o jornalista.

Por ciúmes, ele teria combinado com Rubens a morte de Auro. Por ser menor de idade, na época do crime, ele responde por ato infracional de homicídio em um processo separado, na Vara da Infância e Juventude. Rafael também esta foragido da Justiça.

Depoimento de Bianca
Bianca Naiara é a única testemunha do assassinato e mudou o depoimento que tinha prestado à Polícia Civil e ao MPE, anteriormente.

Ela disse não ter mais certeza se foi Evair Peres Madeira Arantes, o "Baby", de 19 anos, que atirou contra o jornalista.

Auro Ida foi morto na frente da casa de Bianca, na noite do dia 21 de junho de 2011.

Segundo a denúncia do MPE, a jovem reconheceu Baby como sendo o autor dos disparos. Ela o apontou em fotos, apresentadas pela Polícia e, depois, pelo MPE.

“Em depoimento na Polícia Civil, no dia 22 de junho do ano passado, você afirmou que Baby era o autor dos disparos, tendo, inclusive, reconhecido umas manchas que ele possui no rosto. Depois você confirmou o depoimento no MPE. Por que você disse que não pode mais afirmar que ele é o atirador?”, questionou o promotor.

Bianca respondeu que estava muito escuro, no dia do crime, que o atirador usava um boné, dificultando o reconhecimento. Ela também disse que foi pressionada pela Polícia Civil para apontar um suspeito.

“Eu me senti pressionada. Eles [delegados e investigadores] disseram que iam me envolver no caso de algum jeito, caso eu não revelasse o que eu sabia. Eles diziam que eu sabia quem tinha atirado e que era melhor eu contar. Lá no bairro, todos falavam que era ele que tinha matado o Auro e que o Rubens foi o mandante. Mas, eu não posso dizer que tenho 100% de certeza disso”, disse.

Depoimento de Pâmela
Pâmela Cristina namorou Auro Ida por quatro anos, era ele que provia o sustento da jovem e de sua família, inclusive, depois do término do relacionamento. Eles romperam três meses antes de o jornalista ser assassinado. Na época da morte, a estudante estava namorando Rafael Aparecido, que não escondia o ciúme que tinha da namorada com o jornalista.

O depoimento de Pâmela dá uma motivação política para o assassinado, diferente da motivação passional, apontada pela Polícia e pelo MPE.

Segundo a estudante, Auro se queixaria de supostas perseguições e ameaças, que não tinham a ver com o seu envolvimento com outras mulheres, mas seriam ligadas ao seu trabalho como jornalista.

“Ele dizia que era perseguido. Nunca revelou nomes, mas disse que havia ameaças também. Não era por causa de mulher, era pelo trabalho que ele fazia”, disse a estudante.

“Quando eu comecei a namorar o Rafael, tinha uns dois meses e pouco que havia terminado com o Auro. O Auro mesmo me falava que eu devia tocar a minha vida e que podia me envolver com outra pessoa. O Rafael teve ciúmes uma vez, porque eu encontrei o Auro, por acaso, na casa da Vânia [amiga do casal]. Mas, não fiquei lá, só disse oi e voltei pra casa”, afirmou Pâmela, no depoimento.

Para MPE, contradição é irrelevante
O promotor criminal João Augusto Gadelha, que ofereceu denúncia á Justiça nesse caso, disse ao MidiaNews ser irrelevante a contradição no depoimento de Bianca Naiara, a única testemunha do assassinato do jornalista Auro Ida.

“Havendo mais de uma versão, o caminho natural é a pronúncia (quando a Justiça determina que o réu vá a julgamento). É o Tribunal do Júri quem vai decidir”, disse.

No entendimento do promotor, o pior papel é da testemunha, principalmente em crimes como homicídios e tráfico de droga e, por isso, precisa de uma atenção especial.

A estratégia de defesa de Rubens é alegar que houve “motivação política” no assassinato do jornalista e, com isso, tentar derrubar a tese de que o crime foi passional - já que Auro mantinha uma relação com a ex-namorada dele, Bianca Naiara.

O crime
O jornalista Auro Ida, um dos fundadores do site MidiaNews, foi assassinado com seis tiros pistola, na madrugada do dia 23 de julho de 2011.

Ele foi alvejado com quatro tiros nas costas, um na nuca e um na boca. 

Ele e sua namorada, Bianca Naiara, estavam em frente à casa dela, no carro do jornalista, por volta das 23 horas, numa rua escura do bairro Jardim Fortaleza. Segundo Bianca, um rapaz apareceu de bicicleta e pediu para ela entrar na casa.

Ela obedeceu e ouviu os tiros. Ao voltar, encontrou o namorado morto.

Em outubro do ano passado, a Justiça decretou a prisão dos acusados, Rubens Alves de Lima, Evair Peres Madeira Arantes, o "Baby",  e Alessandro da Silva Paz. e a internação de
Rafael Aparecido de Amorim.

Próxima audiência
A audiência de instrução do julgamento dos envolvidos na morte do jornalista Auro Ida, deveria continuar na tarde de quarta-feira (13), mas foi prorrogada para o dia 2 de julho. Sete testemunhas de defesa não compareceram ao primeiro dia de audiência e os acusados não podem ser ouvidos antes.

Falso testemunho
Durante os depoimentos na 12º Vara Criminal, na terça-feira, Bianca e Pâmela disseram que não mantêm contato e que apenas se conheciam de “vista”.

No entanto, Bianca terminou seu depoimento por volta das 16 horas. Dispensada pela juíza e pelo promotor, ela só saiu do Fórum às 17 horas, após Pâmela ter prestado depoimento.

As duas ficaram por cerca de 30 minutos conversando e fumando na frente do Fórum. Conforme mostra o flagrante registrado pelo MidiaNews.