Explosão na venda de carros potencializa o caótico trânsito de Cuiabá

Keka Werneck | do Centro Burnier Fé e Justiça



A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) no segmento automobilístico provocou um temporal de anúncios nos meios de comunicação estimulando a compra de carros. A chuva publicitária está motivando uma corrida rumo às concessionárias de Cuiabá, que já vive o drama do excesso de veículos nas ruas. Isso quer dizer trânsito ainda mais caótico.
 
Circulam diariamente por Cuiabá 314 mil carros registrados e devidamente emplacados, de acordo com a Secretaria Municipal de Transito e Transporte Urbano (SMT). Mas, conforme pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a cidade tem capacidade só para 100 mil. Isso significa um excesso de 214 mil carros.
 
O diretor de Trânsito da SMTU, Jackson Messias, reconhece o drama. Segundo ele, a última grande obra para mudar isso realizada em Cuiabá foi a Avenida Miguel Sutil e isso já faz três décadas. Ele, que é especialista em Mobilidade Urbana, cita também, como obras importantes, a Avenida das Torres, já conclusa, e a Avenida Rodoanel, que está parada, ambas iniciadas na gestão do então prefeito Wilson Santos (PSDB). 
 
Messias também admite que o transporte coletivo, na capital, é complicado. “Três empresas têm a concessão – Pantanal, Integração eNorte e Sul – mas não temos transporte público eficiente”.
 
Segundo Messias, as obras impostas pela Copa do Mundo parecem vir para salvar Cuiabá do abandono. E agora recursos estaduais e federais apareceram. Porém, historicamente, para ele, a Prefeitura ficou sozinha na responsabilidadede cuidar disso. “Não há políticas públicas significativas para mudar a realidade local há mais de duas, três décadas, e agora o Governo Federal, ao reduzir o IPI, mais uma vez priorizou o individual ao invés do coletivo”, critica o diretor.
 
As afirmações do diretor Jackson Messias explicam bem a corrida da classe média às concessionárias, para aproveitar a baixa do IPI e escapar do martírio que é depender do transporte coletivo em Cuiabá. Além das três empresas concessionárias do transporte coletivo em Cuiabá, todas com concessões vencidas, conforme apura o Ministério Público Estadual (MPE), outras 30 empresas de micro-ônibus, circulam por Cuiabá, cheias de irregularidades. Superlotação e atrasos são só algumas das mais comuns.
 
“Isso induz as pessoas a darem um jeito de comprar carro ou moto, principalmente moto, que é mais barata, mas agora, com o IPI baixo, o pessoal está dando um jeito de comprar carro”, comenta o advogado Batista Benevides da Rocha, da Associação dos Usuários de Transporte Coletivo do Estado de Mato Grosso (Assut), o Tito. Segundo ele, o setor publicitário usa inclusive o caos do transporte público para vender mais. “As chamadas são assim: para sair desse inferno, que é inclusive caro, porque as passagens são superfaturadas, venha na concessionária tal, que o IPI está baixo, é a hora de escapar dessa rotina. Algo assim”.
 
Esse inferno que o advogado cita é a vida rotineira de 270 mil usuários do transporte coletivo em Cuiabá.  “Agora estão retirando os cobradores, vai complicar mais ainda”, destaca Tito.
 
Quem acha que esse caos é comum, talvez não tenha tido a oportunidade de conhecer outras realidades possíveis, como a engenheira florestal Lucinéia Freitas, 32 anos. “Fui para a cidade de Bilbao,  na Espanha, onde as ruas são estreitas e não há muito fluxo de veículos, porque lá tem um excelente sistema de transporte público. Além dos veículos serem bons e confortaveis são muito pontuais, e integram em três modalidades: metrô, ônibus e veículo leve sobre trilhos. Na cidade também há poucos postos de combustível”, conta.
 
Então, se o transporte coletivo funciona, há menos carros nas ruas. Quem reconhece isso é o próprio diretor regional da Federação Nacional dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Fenacodiv), Paulo Boscolo. “Em Paris não precisa de carro, em Roma não precisa de carro, porque o sistema de transporte funciona” – observa.
 
Segundo ele, o setor automobilístico sempre foi considerado um vilão que provoca o aumento do número de veículos nas pistas. “Não é verdade! O direito de comprar carro é uma conquista do povo brasileiro, já que está melhorando nosso poder de compra. O automóvel é sinônimo de soberania e da capacidade de ir e vir. Agora, claro que isso é um problema em um país em que o transporte público não é e nem nunca foi prioridade” - acrescenta. 
 
Irritado, o empresário prossegue: “Eu pergunto a você: de 1980 para cá o que mudou em Cuiabá nesse setor? Tivemos a Miguel Sutil há 30anos e o que mais? Você acha que os empresários não pagam impostos? Pagam sim, sofremos uma sobretaxa. Se eu vendo uma Mitsubishi, que é um carro caro, por R$ 100 mil, R$ 40 mil fica no imposto. Eu pergunto a você: para onde vai esse imposto? Agora que a Copa está aí vem VLT, vem viaduto, vem isso, vem aquilo, mas em cidades como Goiânia e Campo Grande não precisou de Copa  para os governos municipais criarem políticas públicas mais eficientes para o transporte. Agora aqui, a política pública é lombada e quebra-mola”, vaticina o empresário.
 
No setor dele, a coisa não é fraca, não. Mesmo com o IPI em alta e o Governo Federal debaixo de críticas, são vendidos de 28 a 30 mil veículos por ano em Cuiabá. O que já é muito. “Muito com relação ao que?”, indaga ele, rindo.
 
Boscolo admite que o segmento está satisfeito com a baixa de 3,5 a 7% do IPI para carros de mil a duas mil cilindradas, caminhonetes e flex. “Foi boa a queda sim”, avalia, reconhecendo a medida protetiva e afirmando que a Fenacodiv ainda não tem um balanço fechado sobre o boom. “A gente vem de um mês de maio fraco e, depois do anúncio da queda do IPI, passamos uma semana estranha mas entramos em um mês de junho forte”.

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