- Marcelo Fonseca/Brazil Photo Press/Estadão ConteúdoUerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) abriu sindicância nesta quinta-feira (23) para apurar o estupro sofrido por uma aluna, durante festa
A proibição de festas e bebidas alcoólicas dentro da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) desagradou alunos, que reclamam que a falta de segurança no campus Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro, é o que causa problemas aos estudantes. O veto do reitor Ricardo Vieiralves aconteceu após uma aluna ser estuprada no estacionamento da unidade durante uma festa realizada pelo DCE (Diretório Central dos Estudantes) no último dia 11. O suspeito foi linchado por outros alunos que participavam da festa.
Universitários ouvidos pelo UOLatribuem o caso à falta de segurança no campus e não ao abuso de bebidas em festas. Ataques contra mulheres, roubos e furtos são frequentes nos departamentos, segundo universitários. Estudantes do primeiro ano de nutrição Larissa Almenara, 21, Beatriz Antunes, 19, Bianca Boeltz, 20 e Marcella Kalil, 20, dizem que o prédio onde estudam não é seguro. Elas dizem que, quando estudam à noite na biblioteca, têm de ir juntas ao banheiro pois já ouviram relatos de tentativas de estupro.
"Acontece isso em horário de aula. E aí, vão proibir as aulas também? Aconteceu [o estupro] na festa, mas poderia acontecer em qualquer hora", disse Bianca.
De acordo com as estudantes, a proibição é ruim porque, para elas, as festas dentro do campus são mais seguras, inclusive para ir ao banheiro, por causa da grande circulação de pessoas. "É mais tranquilo [festa no campus], podemos usar o celular sem ficar com medo de alguém nos roubar, podemos ir no banheiro sozinhas. Eles tem é que colocar segurança, aqui no portão mesmo sempre tem roubo e ninguém faz nada", disse Larissa.
Eduardo César da Costa, 19, estudante de administração, apesar de estar no primeiro período já foi em três festas dentro do campus. Já seus colegas Lucas Nocera, 18, e Ana Carolina Peixoto, 19, do mesmo curso, não terão a oportunidade. "As festas são iguais a outras festas. Não acho justo proibir. Agora vai ter que ser feito em outro lugar", disse Costa.
"Todo lugar está sujeito a problemas, imprevistos. A questão não é a festa, é a conduta. A questão é segurança também, a faculdade é muito grande. O problema [o caso de estupro] não foi no espaço da festa. Aqui é muito grande e não tem segurança", disse o estudante de engenharia civil Rokilane Ramos de Rezende, 18.
A bebida nas festas deixa os rapazes mais "aproveitadores" na opinião da estudante de economia Natália Alberti, 23. Para ela, a universidade está certa em impor limites, mas não precisa "ser radical". "Se tivesse segurança resolveria. Vim em uma festa, se pudesse viria mais. Mas, hoje ouço coisas que são diferentes, que não aconteciam antes, como o abuso de bebidas", disse a universitária.
Para Israel Neves, 21, estudante de física, faltou comunicação entre os organizadores das festas e a universade para poder organizar melhor a segurança. "Quem faz as chopadas poderia pedir a segurança. Mas, o que aconteceu aqui poderia acontecer em qualquer lugar".
Em nota divulgada na última quinta-feira (23), o reitor da Uerj informou que abriu sindicância para apurar o estupro e o linchamento que o suspeito sofreu por outros estudantes. Na nota, Vieiralves também anunciou as proibições.
A sindicância, que será feita por uma comissão formada por mulheres, terá 30 dias para apurar tanto o estupro quanto o espancamento. O estudante suspeito afastado das atividades acadêmicas. "Caso seja comprovada a sua responsabilidade, ele será desligado sumariamente dos quadros da Uerj, resguardado o seu direito de defesa e contraprova", diz o reitor por meio da nota.
Vieiralves também informou que vai apresentar ainda resolução no Conselho Universitário para que atos de violência contra a mulher, homofobia, racismo e antissemitismo possam ser punidos.
O estupro da jovem foi registrado na 18ª Delegacia de Polícia (Praça da Bandeira), responsável pelo inquérito. Como o estacionamento do campus Maracanã não possui sistema de câmeras, a investigação será fundamentada em depoimentos. Segundo a Polícia Civil, o suspeito foi identificado por foto pela estudante, e será convocado para prestar depoimento na semana que vem, assim como o segurança que teria visto o ataque.





