ONG contra a pedofilia


Rio Mais Feliz Sem Pedofilia. Este é o nome da ONG que está sendo criada em Barra Mansa para lutar contra um dos maiores males da sociedade em todos os tempos: a violência sexual contra crianças, uma prática que sempre existiu, mas que jamais foi tão denunciada como nos últimos anos. A iniciativa é do taxista Moacir Luiz de Souza Filho, conhecido como Moacir Pernambuco, que não esconde: nasceu do trauma vivido por ele e sua família a partir de um suposto abuso sexual sofrido por seu filho, no ano passado, numa escolinha de futebol de Barra Mansa.
A ideia é que a ONG tenha atuação em todo o Sul do estado. Para o dia 11 de maio já está prevista uma manifestação, saindo da Avenida Domingos Mariano e percorrendo até a Igreja Matriz de São Sebastião, no Centro de Barra Mansa. Uma semana depois, deverá ser feito o lançamento do estatuto da organização, que está sendo preparado pelo escritório do advogado Pedro Parente. Será na subsede do Sindicato dos Metalúrgicos, na Estamparia, também em Barra Mansa.
- Nosso objetivo é fiscalizar todas as atividades que têm a presença de crianças, como as escolinhas de futebol. Mas não vamos fazer acusações sem provas. Queremos atuar em auxílio ao Ministério Público e à polícia, além de prestar assistência jurídica e psicológica às vítimas e também esclarecer a população que um ato libidinoso contra um menor de 14 anos caracteriza estupro – disse Moacir ao FOCO REGIONAL.
O idealizador da ONG diz que já conta com o apoio de entidades como o grupo Abadá e o Sest/Senat. Ele deseja que estas instituições tenham representação na diretoria. Entre os planos, estão também a instalação, na Câmara de Barra Mansa, de uma CPI da Pedofilia e a coleta de assinaturas para tentar mudar a legislação e acabar com a necessidade de flagrante para a prisão dos suspeitos de crimes sexuais contra menores.
- Muitas das vítimas levam anos para revelar que foram abusadas. E isso cria uma imensa dificuldade para se lutar por justiça – frisa Moacir, que ainda sente na pele as consequências do fato ocorrido com o filho, então com 11 anos, numa escolinha de futebol. "Não tive apoio de nenhum órgão do governo municipal da época, apenas das polícias Civil e Militar. Todo o apoio que tivemos foi de Volta Redonda", afirma o taxista, que ainda hoje se submete a um tratamento com psicólogo. O filho dele foi quem criou a marca que a ONG vai apresentar.
Segundo o taxista, a polícia de Barra Mansa pediu a prisão preventiva do suspeito de abuso – o caso foi registrado como estupro de vulnerável – que foi negada pela Justiça. O pedido de prisão, ainda assim, só ocorreu depois que o pai de outro aluno da escolinha prestou depoimento levantando suspeitas também em relação ao filho. "Mas o Dr. Ronaldo (Aparecido, titular da delegacia de Barra Mansa) se esforçou no caso. Mas o suspeito não ficou preso porque não houve flagrante", lamenta.

Vivendo um drama pessoal

Moacir cita sua própria experiência para relatar o drama que envolve não só as vítimas como seus familiares: "Meu filho só contou sobre o abuso no dia seguinte ao fato, mesmo assim para a mãe. Eu estava em Porto Real quando tomei conhecimento e fiquei sem chão". Na ocasião, ele era pré-candidato a vereador e se revolta até hoje com as insinuações de que estava usando o caso para se promover politicamente. "Imagina que tipo de pessoas são estas. Você acha que eu seria capaz de explorar meu próprio filho numa situação destas? Mesmo assim, decidi nunca mais ser candidato". O que também impressionou o taxista foi a quantidade de políticos locais que interferiram a favor do suspeito, na delegacia de Barra Mansa: "Até hoje não consigo ter uma vida normal. O psicólogo diz que fiquei tão abalado quanto meu filho. Não desejo isso nem para a pior pessoa que possa existir na Terra".
O suspeito, segundo o idealizador da ONG, continua à frente da escolinha de futebol e ele, que mora numa comunidade próxima, evita até usar ônibus para não encontrar com ele, como ocorreu com sua mulher.
Moacir adianta também que um dos objetivos da ONG será criar um cadastro nacional de pessoas acusadas de pedofilia, a exemplo do que existe nos Estados Unidos. A organização também pretende esclarecer que nem sempre os exames de corpo de delito disponíveis na região são suficientes para comprovar uma denúncia: "Só recentemente fiquei sabendo disso, através de um policial. Os exames mais complexos têm que ser feitos no Rio de Janeiro. As pessoas não são informadas a respeito nem pela promotoria nem pelas delegacias. E isso pode ser determinante na conclusão de um inquérito".
Desde que conversou com várias pessoas sobre a ideia de criar a ONG, diz Moacir, foram várias palavras de incentivo e, para sua surpresa, diversas pessoas se abriram com ele sobre abusos sofridos. Um deles foi de uma mulher de 60 anos, que sofreu este tipo de violência na infância. "Eu me emocionei com o relato dela", afirma o taxista, que diz ter a intenção de criar representações em todas as cidades da região. "Um casal de Paraty se disse disposto a integrar a associação, pois tem conhecimento de algo abominável envolvendo estabelecimentos de hotelaria. É contra tudo isso que queremos lutar", declarou.
Foco Regional
O taxista Moacir, idealizador da ONG Rio Mais Feliz Sem Pedofilia: ‘O objetivo é também esclarecer a população’