Foi apenas um samba enredo, será sempre Cuiabá!


Domingueira

Foi apenas um samba enredo, será sempre Cuiabá!

Escolhido o samba enredo, confeccionada a fantasia, ritmada a bateria. Lá vem a alegria descendo o morro. Tesouro mais do que cultural. Trombas d’água em nada acidental. Garoa fina e continuada. Abre alas em mais de uma madrugada. Estação Primeira de Mangueira mais do que arvorada. Capital de Mato Grosso homenageada.

Cuiabá letrada em cantoria nacional. Cuiabá escavada em nome da mobilidade urbana. Cuiabá republicana por natureza. Cuiabá realeza “momesca” passageira. Cuiabá definitivamente brasileira. Cuiabá da “tchapa” e da cruz. Cuiabá do Nosso Senhor Bom Jesus. Cuiabá do ouro que não mais reluz. Cuiabá da colina de uma mesma Forquilha outrora designada de arraial.

Cuiabá Centro Geodésico da América continental. Cuiabá isolada em mais de uma página mais do que virtual. Cuiabá ilhada em pleno sertão. Cuiabá sem ferrovia, sem trilho e sem estação. Cuiabá do rio agonizante. Cuiabá dos infantes traficantes e viciados. Cuiabá dos parlamentos equivocados. Cuiabá dos palácios deveras repaginados. Cuiabá dos povos miscigenados.

Cuiabá sem saúde a contento. Cuiabá sem saneamento. Cuiabá sem infra-estrutura urbana. Cuiabá apêndice da pátria republicana. Cuiabá apendicite emergencial. Cuiabá sem pronto socorro e sem hospital. Cuiabá sem creche e sem escola municipal e estadual. Cuiabá cartão postal rebocado com cal, areia e cimento. Cuiabá invento patenteado. Cuiabá lamento sonorizado além de um pandeiro. Cuiabá do povo brasileiro. Cuiabá da população refém da violência banalizada. Cuiabá da cultura ameaçada em tempo real. Cuiabá vila elevada à capital.

Capital do abandono mais do que federal. Cuiabá da ordem mais do que ambiental. Cuiabá do progresso negociado além de uma madrugada deveras festiva. Cuiabá viva e pulsante. Cuiabá altiva e promissora. Cuiabá histórica. Cuiabá retórica. Cuiabá dos cardumes que se perdem em mais de um meandro desconhecido e ignorado. Cuiabá do samba enredo mais do que musicado. Cuiabá de uma mangueira dançante. Cuiabá de uma cadeira almofadada. Cuiabá de uma sala de visita improvisada. Cuiabá de uma cozinha especializada. Cuiabá na concentração de uma avenida com hora marcada. Cuiabá na evolução de uma cadência harmoniosa. Cuiabá em verso de uma domingueira “valiosa”.

Mar sem rosa. Verde desbotado. Confetes. Serpentinas. Papel picado. Samba enredo decorado. Domingueira dançante. Domingueira em mais de uma alegoria. Domingueira da capital outrora capitania. Domingueira mais do que provinciana. Domingueira republicana. Sambe quem souber sambar. Comemore quem puder festejar. Domingueira segue até o Sol raiar. Domingueira continua quando a segunda-feira chegar. Domingueira que se finda quando as cinzas de uma quarta-feira aos quatro ventos anunciar: É manga, é mangueira. É bamba, é jequitibá. Foi apenas um samba enredo. Será sempre Cuiabá!


AIRTON REIS
 é poeta em Cuiabá.

airtonreis.poeta@gmail.com

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