A verde e rosa neste ano se rende ao enredo patrocinado. Como as escolas se dividem entre os temas que atraem verba e as homenagens a quem faz parte da sua história
Cartola, Dona Zica e Dona Neuma. Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça. Delegado. O bumbo e o tamborim. O verde e o rosa. Todos esses elementos deram cara, personalidade, samba e cores para a Estação Primeira de Mangueira, uma das escolas de samba mais conhecidas do país.
Mas quem deu a voz à escola foi um sujeito meio ranzinza de nome José Bispo Clementino dos Santos, ou Jamelão, como ficou conhecido. Foi ele que durante quase 60 anos (de 1949 a 2006) esteve à frente dos sambas enredo da agremiação. Imortalizou muito deles, como Um cântico à natureza (1970), Yes, nós temos Braguinha (1987), Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm (1986), Dessa fruta eu como até o caroço (1993), Atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu (1994),Chico Buarque da Mangueira (1998), entre outros.
Jamelão morreu em 2008, aos 95 anos. Na época, recebeu uma justa homenagem: um carro de bombeiro levou seu caixão para um último desfile na Marquês de Sapucaí. Mais tarde, virou nome do recuo de bateria da passarela do samba carioca. Neste ano, o intérprete (e ele não gostava de ser chamado de ‘puxador’) completaria 100 anos de idade. Fãs e familiares de Jamelão esperavam por um enredo dedicado ao cantor. Mas não deu. A Sapucaí vai ouvir na noite de segunda-feira (11) o puxador abrir o desfile da verde e rosa: “Dai-me inspiração, oh Pai!”. E entoar o refrão:
“Mangueira...O trem da emoção
Viaja na imaginação
Meu samba é madeira, é jequitibá
É poesia dedicada a Cuiabá”
Viaja na imaginação
Meu samba é madeira, é jequitibá
É poesia dedicada a Cuiabá”
A Mangueira optou por contar a história de Cuiabá, capital de Mato Grosso.
Quem falará sobre Jamelão na avenida, por sugestão da própria Mangueira, será a Unidos de Jacarezinho, vencedora da quarta divisão do Carnaval carioca e que, neste ano, vai desfilar pelo Grupo de Acesso. A escola, que é afilhada da verde e rosa, desfila nesta sexta-feira (8).
Em seu blog, Ivo Meirelles, que há três anos é presidente da Mangueira, disse que a escola vinha de três enredos não patrocinados (sobre música brasileira, os 100 anos de nascimento de Nelson Cavaquinho e os 50 anos do bloco carnavalesco Cacique de Ramos) e que, neste ano, precisava de um patrocínio para o desfile. “Um quarto seria completo suicídio”, escreveu. Meirelles também, em diversos posts, fala sobre as dificuldades financeiras da escola e das dívidas que, segundo ele, precisou acertar quando assumiu o posto de presidente. ÉPOCA entrou em contato com Meirelles, por e-mail, conforme sugestão de sua produção, mas não obteve resposta.
Pra desenvolver o enredo, a Mangueira recebeu, segunda a prefeitura de Cuiabá, R$ 2 milhões de reais da iniciativa privada, além de R$1,6 milhão da própria prefeitura. A parceria com a escola foi feita no ano passado, na gestão de Chico Galindo (PTB). O atual prefeito da cidade, Mauro Mendes (PSB), não irá ao desfile. Será representado pelo secretário de Cultura, Marcus Fabrício Nunes dos Santos.
Além do patrocínio de Cuiabá, a Mangueira também tem direito a R$ 4 milhões que são repassados pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) a todas as escolas do Grupo Especial. A RioTur, Empresa de Turismo do Rio de Janeiro, repassa mais R$ 1 milhão para as agremiações.
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Para o escritor Alberto Mussa, autor do livroSamba de Enredo - História e Arte(Ed.Civilização Brasileira, de 2010), o enredo é uma escolha estratégica para uma escola de samba e, quando submetido a um patrocinador, perde em qualidade. “Não tenho nada contra Cuiabá. Mas o enredo da Mangueira é péssimo”, afirma. “As escolas querem luxo, carros alegóricos grandiosos e se esquecem de que o mais importante é emocionar o público”, diz Mussa, que cita os enredos da Beija-Flor (Cavalo Mangalarga) e do Salgueiro (Fama) como outros dois exemplos de sambas ruins deste ano.
“Com Jamelão, a Mangueira teria uma grande chance de fazer um desfile excepcional. A escola poderia falar sobre os carnavais vitoriosos na voz dele, sobre as origens das escolas de samba e até sobre a cidade do Rio de Janeiro. Teria muito apelo. Certamente o público teria um envolvimento afetivo com o assunto”, diz Mussa. Para o escritor, as escolas de samba, ao optarem por enredos distantes de sua realidade, estão transformando seus compositores em autores “banais”. “Elas tiram a possibilidade dos compositores se envolverem afetivamente com o samba. Por isso, hoje em dia, só tem sambas ruins. Não tem identificação”, afirma.
Em sua história, a Estação Primeira de Mangueira conseguiu grandes êxitos com ‘enredos homenagens’. Muitos garantiram o primeiro lugar à escola, como O mundo encantado de Monteiro Lobato (1967), Yes, nós temos Braguinha (1984), Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm (1988) e Chico Buarque da Mangueira (1998).
A Mangueira não vence um campeonato desde 2002, quando levou para a Sapucaí o enredoBrazil com "Z" é pra cabra da peste, Brasil com "S" é a nação do Nordeste. Em 2012, a verde e rosa ficou em 7º lugar com Vou festejar! Sou Cacique, Sou Mangueira, uma homenagem ao bloco Cacique de Ramos.
Escola de São Paulo dispensou enredo patrocinado
Com orçamentos mais modestos do que as escolas de samba do Rio de Janeiro, as agremiações de São Paulo também costumam recorrer aos enredos patrocinados. A escola Tom Maior, por exemplo, terá como tema, neste ano, Parque dos desejos o seu passaporte para o prazer. Para isso, contou com o patrocínio de uma fabricante de preservativos. A marca não revela o montante investido, mas, além do valor repassado à escola mensalmente, forneceu milhares de camisinhas para a confecção de sete fantasias.
Mas nem tudo é dinheiro no Carnaval. Pelo menos para Hussein Abdo Elselam, o Seu Jamil, presidente da Acadêmicos de Tucuruvi. Para o desfile deste ano, ele abriu mão de um patrocínio de R$ 500 mil para levar ao sambódromo do Anhembi um enredo sobre o Estado de Rondônia.
O enredo já estava escrito e o carnavalesco da escola já trabalhava no tema quando, em abril de 2012, Seu Jamil passou quatro dias em Porto Velho. Ele voltou desanimado de lá. “Achei tudo muito triste. Vi estradas de ferro abandonadas, locomotivas enferrujando. Não iria ser um desfile alegre”, diz.
Por sugestão de um dos seus filhos, ele resolveu contar a história do ator e diretor Amacio Mazzaropi (1912-1981). O ‘caipira’ completaria 100 anos em 2012. “Arrisco dizer que o nosso é um dos melhores sambas deste ano”, diz Seu Jamil.
Sem o patrocínio, ele contou com os cerca de R$ 2 milhões que a Liga das Escolas de Samba de São Paulo repassa às agremiações para montar o desfile da escola. Outro ponto fundamental, segundo ele, é saber gastar o dinheiro e começar a preparação com o máximo de antecedência. “Os dois milhões viraram quase três na minha mão. Eu sei administrar muito bem”, afirma Seu Jamil, à frente da Tucuruvi desde 1992. No ano passado, a escola ficou em sexto lugar.
Outras três escolas do grupo especial de São Paulo trarão ‘enredos homenagens’ em seus desfiles. A Acadêmicos de Tatuapé fará um tributo à cantora Beth Carvalho, a Águia de Ouro falará sobre o sambista João Nogueira (1941-2000) e a Mancha Verde relembrará a trajetória do ator e compositor Mário Lago (1911-2002).
Em 2012, o desfile campeão de São Paulo, apesar da confusão que encerrou a apuração antes das notas finais serem anunciadas, foi a Mocidade Alegre, que levou ao sambódromo um enredo baseado no livro Tenda dos milagres, de Jorge Amado.
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/cultura/noticia/2013/02/no-centenario-de-jamelao-mangueira-dedica-sua-poesia-cuiaba.html
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