Traição o Traira: Mauro é derrotado na Câmara pelo seu PSB; Riva sai fortalecido


Romilson Dourado

    Mauro Mendes perdeu a eleição da Mesa Diretora da Câmara de Cuiabá, com seus candidatos, por causa do seu próprio partido, o PSB. Não conseguiu contornar divergências internas. Dos três vereadores socialistas, apenas Adilson Levante, que acabou encabeçando a chapa governista à presidência da Câmara, ficou do lado do Palácio Alencastro. Onofre Júnior e Faissal Calil votaram no oposicionista João Emanuel (PSD). O novo prefeito entrou em rota de colisão com o presidente estadual, deputado federal Valtenir Pereira, que se juntou ao presidente da Assembleia, deputado José Riva, em apoio a Emanuel, que ganhou a presidência por 14 a 11.
    A derrota serve para Mauro refletir melhor sobre estratégias e ampliação do grupo de apoio. Aos poucos, ele deve adquirir habilidade política para isso. Na vida pública, não basta focar no técnico. O prefeito foi incisivo em afirmar que não se envolveria na disputa da presidência do Legislativo. Depois foi alertado de que precisaria eleger aliados para a Mesa com vistas a ter tranquilidade para tocar a gestão. Decidiu entrar nas articulações e cedeu ao blá-blá-blá do presidente Júlio Pinheiro (PTB), figura desgastada e desacreditada politicamente. Foi um calvário.
    Quando percebeu que o bloco seria derrotado, eis que lança de última hora o vereador estreante Adilson Levante, com componentes na chapa de diferentes partidos. O grupo erra de novo. Incluiu entre os candidatos Juca do Guaraná, que chega à Câmara com conceito negativo. Foi acusado de comprar voto e o seu irmão Nicássio, que era suplente de vereador, se envolveu em escândalo, sob acusação de atentado contra a vida do ex-petista e também suplente Sivaldo Campos para ficar com a vaga na Câmara. A mudança de chapa veio tarde demais. Riva já havia "empurrado" o genro João Emanuel quilômetros à frente nas articulações, ao ponto de levar o grupo para "confinamento" em uma pousada quase com uma semana de antecedência da eleição da Mesa.
    A oposição pretende dar trégua de 6 meses para o prefeito. Depois, a tendência é de fechar o cerco, numa linha dura, o que pode refletir nas eleições gerais de 2014. Mauro não será candidato a governador, mas corre risco de, dependendo do rumo de sua administração, não apresentar tanto peso ao candidato do grupo na corrida sucessória, mesmo sendo prefeito de uma capital.
    O socialista é daqueles que não levam desaforo para casa. É provável, então, que leve adiante a briga com Valtenir, com tendência de repercussão nacional e interferência da executiva, sob o governador Eduardo Campos (PE). Pelo visto, o clima de racha com os vereadores do partido Onofre e Faissal deve prosseguir. Com o poder da caneta, Mauro possa estar imaginando que "pode quase tudo".
    Enquanto o grupo do prefeito da Capital perde no embate na Câmara, o de Riva, que terá o genro no comando do Legislativo cuiabano, ganha e muito. Aos poucos, Riva está consolidando sua liderança na Capital. Independente dos modus operandi do deputado, ele tem sido inteligente em aproveitar as brechas e falhas de outros líderes políticos, como o próprio Mauro e o senador Pedro Taques (PDT), para ocupar espaço. Agora, Riva segue comandando a Assembleia, com forte influência no governo Silval Barbosa, tanto que terá até a mulher Janete de secretária de Cultura, e exercerá poder na maior Câmara Municipal do Estado, assim como acontece na União das Câmaras Municipais (Ucemmat), que representa os 1,4 mil vereadores mato-grossenses. Tem mais, Riva deve eleger o próximo presidente da Associação Mato-Grossense dos Municípios.