Boate Kiss foi processada em 2012 por manter jovem em cárcere privado


Casa noturna foi acusada de impedir jovem de sair após perder a comanda.
Justiça determinou que donos da boate pagassem uma multa de R$ 10 mil.

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A boate onde morreram 231 pessoas no Rio Grande do Sul foi processada no ano passado porque impediu uma jovem de sair sem pagar a comanda. A Justiça determinou que os donos da boate pagassem uma multa de R$ 10 mil por danos morais. As investigações sobre a tragédia entraram hoje no terceiro dia.

Os policiais já ouviram depoimentos, como o da estudante Gabriela Machado de Borba. Ela estava na festa junto com amigos e o noivo, com quem tinha planos de casar. “Eu não vi propriamente o fogo, mas vi um empurra-empurra e vi quando um dos seguranças passou, foram para a porta. Lá na porta eles fizeram uma barreira”.

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Gabriela tem uma mancha roxa no braço que, segundo ela, teria sido provocada pelos seguranças da boate, na tentativa de impedir a saída dos estudantes. “Eu consegui passar por baixo, mas eles estavam segurando, querendo que a gente pegasse a comanda. Dizem que meu namorado e os amigos que estavam com ele foram tentar sair por ali e não conseguiram e aí foram para dentro do banheiro e dali eles não saíram. Dizem que encontraram o Dudu de bruços assim, coitadinho”. O namorado de Gabriela morreu no incêndio, assim como os amigos dela.

A boate Kiss já havia sido condenada na Justiça, no ano passado, por impedir uma jovem de deixar o local por perda da comanda. A Justiça entendeu que a conduta adotada pela empresa foi abusiva, podendo ser considerada cárcere privado. Um funcionário chegou a confirmar que a orientação da empresa era de deixar os clientes esperando até que a comanda fosse encontrada. Os donos da casa noturna foram condenados a pagar R$ 10 mil por danos morais e recorreram da sentença.
Ontem a polícia decretou a prisão temporária de quatro pessoas. Dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo Santos e o técnico de palco Luciano Leão, e um dos sócios da boate Kiss, Mauro Hoffmann. Eles estão na Penitenciária Estadual de Santa Maria. O outro sócio da casa noturna Elissandro Spohr, está sob custódia num hospital de Cruz Alta, norte do estado. Ele está internado para tratar uma intoxicação causada pela fumaça do incêndio.
Um segurança, que não quis se identificar, disse que trabalhou pouco mais de um ano na boate Kiss, em Santa Maria. Ele afirma que durante todo este período jamais recebeu treinamento para prevenir incêndios e que não existem saídas de emergência adequadas na casa. “Pedi para ele me mostrar, me passar as saídas de emergência. Ele me disse que a saída de emergência era a porta de entrada. Eu perguntei para ele onde eram as janelas, os exaustores. Ele disse que não tinha. Ai eu ainda perguntei para ele ‘mas como é que tu conseguiu fazer, como é que tu fez para conseguir o alvará?’ e ele pediu para que eu cuidasse das brigas, que do resto cuidava ele”.
A Justiça decretou o bloqueio dos bens de quatro sócios da casa noturna. A polícia procura o computador que armazenava as imagens das câmeras de segurança da boate.

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