Encontro de pais e filhos do Mohan promove debate sobre a hanseníase

morhan(Foto:Francisco Chagas)

Evento visa promover o reencontro, o resgate da cidadania e a discussão sobre a indenização para as vítimas do isolamento

O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase - Morhan, realizou na manhã de ontem , 6, o encontro entre pais e filhos que foram separados durante o isolamento compulsório dos pacientes com hanseníase.
O coordenador Nacional do Morhan, Artur Custódio Moreira de Souza, responsável pela iniciativa em todo o país, também esteve presente no evento. O promoveu o reencontro, o resgate da cidadania e a discussão sobre a indenização para as vítimas do isolamento. A iniciativa resultou em um dossiê preliminar entregue ao ex-presidente Lula e que já recebeu o apoio da presidente Dilma Rousseff.
Um levantamento sobre a situação de filhos separados dos pais por ocasião do isolamento compulsório de hanseníase resultou no dossiê ‘A história dos filhos órfãos de pais vivos’, entregue, em 2010, ao chefe de gabinete do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, e ao ministro de Direitos Humanos na época, Paulo Vanucci.
O documento relata a saga de crianças que, a partir da década de 30, foram separadas dos pais, levados à força para antigos hospitais-colônia de hanseníase em todo o país.
Em cada caso, uma história de sofrimento e superação
Francisca Elba Batista do Nascimento, 54 anos, é uma das inúmeras vítimas da doença. A dona de casa conta que quem descobriu que ela tinha a doença foi uma prima, enquanto brincavam  no seringal onde moravam.
“Começaram a nascer umas machas em mim e um dia, eu peguei um golpe de vidro e não senti. Aí  quando a minha prima olhou, me viu cheia de manchas no corpo; eu não sentia nada e aquelas manchas só se espalhavam pelo meu corpo”, conta a idosa sem conter as lágrimas.
“Eu peguei essa doença bem novinha, tinha uns 7 ou 8 anos. Ninguém queria que eu chegasse perto. As pessoas tinham tanto preconceito que nem tocavam nas coisas que eu pegava. Eles tinham nojo de mim. Uma vez eu ia passando na rua e alguém disse ‘não passem perto dessa mulher não, porque você vai pegar lepra’; e aquilo doía no meu coração. Um dia eu me internei e fui crescendo e com o tempo eu saí. Tempos depois eu tive meus filhos, mas eles foram separados de mim”, relata ela.
A idosa conta ainda que passar pela auto depreciação, pelas consequências  da doença e ainda pelo preconceito das pessoas não foi nada diante do que estava por vir. “A pior parte de toda essa história é que depois de cerca de oito anos eu reencontrei meus filhos e eles corriam por medo de mim. Eu fui rejeitada pelos meus próprios filhos. Quando o meu filho me viu deu uma carreira tão grande que caiu no chão com tanto medo de mim, acredita?”, indaga ela.
“Eu tenho uma filha que ainda hoje diz que não gosta de mim. Ela fala pra todo mundo que eu não criei ela, que ela foi criada pela minha irmã.Eu acho esses debates muito importantes, porque se na minha época tivesse essa conscientização, talvez a minha vida não tivesse sido tão dura, apesar de hoje a gente ainda sofre com o preconceito”, dispara.
“Outro dia eu estava no ônibus e uma mulher saiu de perto de mim e disse: ‘esse ônibus é cheio de bactérias! Gente doente não pode andar de ônibus, porque contamina as outras pessoas. Todos esses doentes são fedorentos’”, contou Francisca Elba esboçando sinais de indignação.
A doença que carrega com si o preconceito
A discriminação nacional ganhou o nome de “isolamento compulsório” e era imposta aos portadores de hanseníase, antigamente conhecida como lepra, que na época não possuía cura, como forma de separá-los do convívio de pessoas tidas como saudáveis.
Nesse procedimento, os doentes eram retirados do convívio social de forma repentina e internados em instituições fechadas, conhecidas como  “leprosários” ou hospitais-colônia.
Os filhos dessas pessoas eram levados dali, inicialmente para educandários ou orfanatos e outros simplesmente “desapareciam”. Muitos pais, depois de liberados dos leprosários, eram informados que seus filhos estavam mortos, mas não lhes apresentavam atestado de óbito.
Diversas crianças relatam ter sofrido violência, abuso sexual e ingestão forçada de drogas que podem ter deixado graves consequências à saúde mental.
No Brasil, a partir de 1924, o governo federal decidiu assumir o controle da hanseníase pela internação compulsória, com base no pressuposto de que, retirando o doente das ruas ou estradas, estaria salvando a sociedade sadia.
O indivíduo com suspeita da doença era caçado pela Guarda Sanitária e isolado compulsoriamente em algum hospital-colônia. Lá, essas pessoas eram mantidas presas, e muitas vezes, nunca mais chegavam a rever seus familiares.

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