Brasileiro relata drama no Irã após cair em armadilha de clube de futebol

Lucas Alves, de 22 anos, deixou o Brasil para tentar a sorte em um time do país, mas acabou roubado, ameaçado e sequer disputou uma partida

Por SporTV.comRio de Janeiro
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Buscar oportunidades no futebol estrangeiro é a opção de boa parte dos jovens brasileiros que tentam trilhar a carreira de jogador profissional. No entanto, a empreitada em um clube fora do país pode se tornar um pesadelo quando a proposta, na verdade, revela-se uma armadilha. Mal orientados, muitos atletas viajam sem documento e com pouco dinheiro, se veem impedidos de voltar para casa e acabam com a sorte nas mãos de criminosos. Antes do drama, jamais se imaginariam vítimas do chamado tráfico internacional de pessoas.
Por tal experiência passou Lucas Alves, de 22 anos, morador de Cascavel (Paraná). O parananense deixou o Brasil em julho de 2011, ao lado de um amigo, em direção ao Irã. A oferta que haviam recebido para jogar no Persépolis, time da primeira divisão do Irã, soava interessante. Ao chegar em Teerã, porém, ambos foram enviados para Sari, a 250km da capital. Com a mudança, ficaram quatro meses treinando em um time que sequer estava no campeonato local.
- Eles gostaram da gente, no começo estava dando tudo certo. Depois sumiram com nosso passaporte, tentavam ameaçar de algum jeito, com algum artifício, alguma coisa - revelou Lucas.
Lucas e o colega nunca chegaram a disputar uma partida no futebol iraniano. Desacreditados, tentaram retornar ao Brasil, mas foram impedidos. Segundo eles, os "chefes" os acusavam de estar em situação ilegal no Irã e alegavam que poderiam ser presos se não cumprissem o combinado com o clube.
- Num país estranho, costumes totalmente diferentes, a gente só se falava pela internet. Então o dia em que ele não entrava na internet era porque tinha algo de errado - recorda a mãe de Lucas, Josane Alves.
Nos últimos quatro anos, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) registrou cerca de 50 casos de jogadores na mesma situação. A maioria sem dinheiro, com documentos retidos e sofrendo ameaças. Além da destruição de um sonho, a experiência configura um crime que, segundo as Organizações das Nações Unidas, movimenta U$ 32 bilhões por ano.
- É um termo muito técnico. Ninguém se vê como vítima de tráfico. Se veem como vítimas de um empresário de má-fé. Mas, tecnicamente, havendo fraude, dolo, engano, má-fé, é tráfico - explica a ministra Luiza Lopes da Silva, diretora do Departamento Consular do Itamaraty.
Lucas Alves foi vítima de um golpe no Irã (Foto: Reprodução SporTV)Lucas Alves foi vítima de um golpe no Irã
(Foto: Reprodução SporTV)
Os relatos mais frequentes vêm do Oriente Médio, Ásia Central e Extremo Oriente, de países como Turquia, Líbano, Síria, Armênia, Irã, Índia, Bangladesh, Indonésia, Cingapura, Malásia, Tailândia, China, Mianmar e Coreia do Sul. São nações distantes, tanto no idioma quanto na cultura, e onde a comunidade brasileira é pequena e o futebol ainda pouco estruturado.
Desde 2004, o Brasil é signatário do Protocolo de Palermo, que estabelece parâmetros para a criminalização do tráfico de pessoas. O Código Penal Brasileiro prevê de três a oito anos de prisão para os criminosos.
Preocupado com histórias como a de Lucas, o Itamaraty lançou uma cartilha que traz orientações para jogadores brasileiros que querem tentar a vida no exterior. O material oferece informações para impedir que esses atletas invistam suas fichas em uma aposta que pode terminar em exploração, constrangimento e trauma.
As principais recomendações são: viajar com visto de trabalho ou negócios; registrar a transferência na Fifa; ter conhecimentos de inglês; pesquisar sobre o clube e o país; apresentar-se à embaixada ou consulado brasileiro no destino assim que chegar.
- Nós fazemos o trabalho de prevenção no Brasil, campanhas de esclarecimento, fazemos o trabalho de assistência consular no exterior, ajudamos se for o caso o retorno, mas as redes de traficantes continuam completamente impunes - diz Luiza.
Lucas e o amigo já estão de volta ao Brasil. Com a ajuda dos familiares, conseguiram deixar o Irã após pagar um multa ao governo local. O companheiro não quer mais saber do sonho no exterior. Já Lucas, apesar dos riscos, mantém a ambição.
- Agora, como se diz, não sou mais marinheiro de primeira viagem. Agora dá para ir, a gente sabe o que fazer - declarou.

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