Um enfermeiro do Hospital de Santarém vai começar a ser julgado em Setembro por dois crimes de coacção sexual, cometidos no mesmo dia sobre duas pacientes que recorreram ao serviço de urgências.
O profissional, de 29 anos, foi denunciado por alegadamente ter colocado o seu pénis erecto nas mãos das queixosas, depois de lhes ter administrado um fármaco que provoca sono no tubo do soro.
O arguido encontra-se de momento suspenso de funções por ordem do Ministério Público (MP), e enfrenta também um processo disciplinar aberto pela Ordem dos Enfermeiros, cuja conclusão vai depender do resultado do julgamento.
Após a queixa, o enfermeiro deixou de fazer turnos no serviço de urgência e foi transferido para a enfermaria de homens.
O caso já é bastante comentado nos corredores do Hospital de Santarém, sobretudo depois de ter sido conhecida a suspensão de funções do arguido.
“Não acredito que isso seja verdade”, disse taxativamente ao nosso jornal um colega do enfermeiro, que pede reserva de identidade.
“Primeiro que nada, é alguém incapaz de fazer aquilo de que o acusam”, diz o mesmo profissional, acrescentando ainda que “é impossível uma coisa dessas ocorrer na urgência”.
Os factos remontam a 23 de Março de 2009.
A primeira doente deu entrada com fortes dores pelas 2 horas da manhã e esteve toda a madrugada em observações.
Por volta das 9 horas, segundo a acusação do Ministério Público (MP), foi levada para uma sala de tratamento isolada dos restantes doentes por cortinas corridas.
Antes de adormecer subitamente com a droga que lhe foi ministrada, a queixosa sentiu que tinha algo estranho na mão, apercebendo-se entretanto que se tratava do órgão sexual do arguido.
A segunda queixosa deu entrada no hospital pelas 14h40, acometida por uma forte dor, tendo sido levada para a sala de observação do serviço de urgência.
Enquanto se aguardavam por meios complementares de diagnóstico, o arguido, vestido com a bata de enfermeiro, ter-se-á aproximado da paciente e correu as cortinas de resguardo para proceder à recolha de sangue, e ligou-a a um frasco de soro.
Foi então, segundo a acusação, que terá aproveitado para induzir à doente a substância indutora de sono para obter satisfação sexual.
Ao adormecer, a paciente recorda-se de ter ouvido o enfermeiro perguntar-lhe se gostava de sexo oral e anal, tendo também sentido que agarrava o pénis erecto do arguido.
O enfermeiro, residente em Santarém, negou todos os factos que lhe são imputados quando foi ouvido pelo MP, na fase de inquérito, dizendo estar a ser vítima de uma tremenda mentira.
Confrontado com os factos constantes da acusação, o arguido disse ainda que um caso destes seria impossível de ocorrer no serviço de urgências, onde não há qualquer tipo de privacidade e o movimento de médicos, enfermeiros e pacientes é constante.
Segundo conseguimos apurar, só uma das queixosas identificou o arguido, e apenas pelo nome que tinha escrito na bata.
A segunda, entorpecida pelo fármaco, recorda-se somente de ter sido vítima do abuso sexual.
A acusação do MP não conseguiu determinar que substância concreta foi administrada às queixosas, para as adormecer.
“Se existem duas queixas em simultâneo, é porque alguma coisa se terá passado”, admite uma outra enfermeira do Hospital de Santarém, que, no entanto, assegura que o acusado “sempre mostrou ser bom profissional e ter carácter”, pelo que não acredita na denúncia.
“Acho inclusivamente que devia ter sido mais protegido pelas chefias, pois podemos estar a falar de uma calúnia que pode destruir-lhe a carreira e a vida”, acrescentou a mesma enfermeira.
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