Ação contra pedofilia precisa deixar preconceitos de lado e especificar formas de combate à doença
A atração sexual patológica por crianças e pré-adolescentes ganhou nome e atenção midiática nas últimas décadas. Deixou de ser um problema reservado às famílias para se tornar uma questão social e política, com implicações médicas e criminais. É a pedofilia. Em Mossoró, de acordo com Fabiana Nogueira, coordenadora do Centro de Referência Especializada em Assistência Social (CREA) na cidade, há um aumento "bastante considerável de casos nos últimos anos", embora os dados locais sejam pouco precisos quando se especifica o problema.
Há registros de denúncias quanto à exploração sexual infantil e aborto, cuja abrangência inclui a pedofilia. Em 2009, foram 56 casos; no primeiro semestre deste ano, foram um pouco acima da média: 33. E esses números são crescentes, diz Fabiana. A expectativa dos órgãos responsáveis é que esse número cresça ainda mais.
"Há dois fatores que atribuímos para esse aumento. Primeiro, é a questão do acesso à internet, que facilita a ação de pedófilos. Depois, temos que levar em consideração também o maior acesso à informação, que faz com que as pessoas percam o medo de denunciar", explica.
A coordenadora acrescenta que, aqui, não há bairros específicos em que haja uma quantidade maior de denúncias. "Como isso é um problema que, hoje, transpassa as classes sociais, a gente vê que o problema é bem distribuído nas regiões da cidade".
A psicóloga Heloísa Sousa, concluinte do mestrado de comportamento na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explica a pedofilia sob o ângulo profissional. "O que faz desse problema uma patologia é o fato de o indivíduo só atingir o gozo, o prazer sexual única e exclusivamente por meio do objeto escolhido, o fetiche. Esse é um dado importante: aquele que sofre de perversão sexual não consegue realizar seu desejo de outra maneira que não seja com seu fetiche", afirma, acrescentando que esse objeto pode ser qualquer coisa, por exemplo, uma bota, um olhar ou uma criança, como no caso da pedofilia.
A definição é importante, pois nem todo caso de violência sexual contra crianças se enquadra na pedofilia. "Um pai que chega bêbado em casa e estupra a própria filha não é um pedófilo se ele consegue ter relações sexuais e obter prazer com mulheres adultas", explica a psicóloga.
Na mesma linha, alguém que produza material pornográfico contendo crianças não necessariamente sofre de perversão, embora possa estar alimentando um público com a doença. Contudo, todos esses exemplos - o pai, o produtor e os clientes - hoje são criminosos perante a lei.
A psicóloga afirma que a pedofilia se tornou cerne de discussões poluidoras, extremadas. "Existem efeitos disso no trâmite legislativo, pois a força emocional e política do tema frente à opinião pública torna mais delicado para um parlamentar criticar e se opor abertamente a um projeto apresentado em nome dessa causa", acrescenta. "Talvez se analisarmos profundamente essa questão e afastarmos os mitos que a envolvem, possamos conseguir uma abordagem mais eficaz".
Para denunciar casos de pedofilia em Mossoró, a população pode ligar para a sede do CREA: 3315-4882. A coordenadora Fabiana Nogueira diz ainda que o órgão realiza rondas de sensibilização da cidade. "Temos nos esforçado para deixar a população bem informada sobre o assunto".
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