Mauro Mendes: 100 dias na contramão

MM fez uma boa campanha. O marketing eleitoral levou às mídias, em particular ao Rádio e à TV, um personagem com aura de empresário bem sucedido e desejoso de retribuir à sociedade em que vive o êxito pessoal. Se era só boa intenção, vai ficar nisso


Itamar Perenha  / Cuiabá-MT


Cem dias na contramão.
Para quem imaginar que só se pretende escrever sobre trânsito pode ser até um bom começo. De reportagem.
Para citar a gestão caótica no setor de trânsito é suficiente lembrar que o titular da pasta é fruto de uma indicação política do deputado Emanuel Pinheiro cujos interesses são velhos conhecidos.
Não é por outro motivo que os acidentes aumentaram e os “amarelinhos”, já poucos, não conseguem gerir o fluxo de veículos nas vias alternativas esburacadas. O exercício diário de paciência em algumas situações acaba potencializando o stress de alguns motoristas e motocicletas que não raro interrompem o trânsito e vão a outras vias, as “vias de fato” onde quem pode mais chora menos. Não se está longe de um desforço pessoal acabar em tiroteio como já quase aconteceu na Av. Coronel Escolástico, próximo ao Monumento dos Bandeirantes, no último dia 11 (quinta-feira).
Sem alguma intervenção contrata-se agora o desastre futuro. Um sistema que se pretende moderno, como o VLT, gerido de maneira obtusa e antiprofissional.
Falta d’água
A Cia. Águas do Brasil – CAB – detentora da concessão dos serviços de água e esgotamento sanitário da cidade começou a mostrar as garras e a incompetência gerencial.
Nesta época em que o lençol freático é carregado, os sistemas isolados de fornecimento de água ainda dão conta do recado onde ainda não foram desativados e podem funcionar emergencialmente. E na seca?
Se agora já é comum Bairros ficarem até uma semana sem água o que pode acontecer na estação da seca?
Mauro manteve quadros escolhidos por Chico Galindo na Agência Municipal de Água e Esgotamento Sanitário onde algum dos predicados que despontam é a simples carreira na Universidade de Cuiabá – UNIC e uma demonstração clara de desconhecimento da função regulatória.
Que fazer?
Enxugamento da máquina
Na campanha Mauro Mendes verberou contra o excesso de pessoal e o elevado número de secretarias. Causou a nítida impressão de que iria promover uma reviravolta no organograma da Prefeitura, mas aumentou os quadros comissionados (DAS) e criou novas secretarias.
Prometeu acabar com o escritório de representação em Brasília e fez o oposto: incrementou a representação com mais um escritório incumbido de buscar recursos para projetos estratégicos.
O abandono do IPDU
Abandonar o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano com quadros qualificados de longa data, vivência dos problemas da cidade e já com uma cesta de projetos importantes é uma rematada tolice.
Esperava-se que um engenheiro fosse valorizar os quadros mais capazes da Prefeitura, porém o prefeito agiu de forma oposta ao buscar, mediante artifício, a contratação de profissionais para desenvolver projetos para a Prefeitura a partir de concepções individuais quando o ideal seria incorporar diretrizes de instituição orgânica do Executivo Municipal, a partir da cidade pensada em seu conjunto para, depois, contratar projetos por escritórios a partir das respectivas especialidades.
Gafes políticas
Na mais recente, em solenidade, Mauro Mendes trocou o nome de Roseli Barbosa, esposa do governador Silval, seu sócio no empreendimento que mantiveram na Mineração Casa de Pedra em Chapada dos Guimarães, por Therezinha Maggi, esposa de Blairo.
“Ato falho” diriam alguns adeptos da psicanálise freudiana, mas reveladora de sua preferência mais íntima quiçá pelos incentivos fiscais concedidos por seu benfeitor e que ampliaram consideravelmente a sua fortuna pessoal.
Mas a gafe mais importante e penosa do ponto de vista político foi a disputa pela presidência da Câmara Municipal onde travou uma queda de braço com o vereador João Emanuel (PSD) e perdeu feio por absoluta falta de habilidade política.
E nesses 100 dias pouco alentadores para uma campanha que prometeu muito sobrou a dilação de prazo para a peça-chave que animou seus programas eleitorais: o novo Pronto Socorro Municipal, com 240 leitos, em local já contestado na Justiça e sem verbas definidas para a sua viabilização.
Para o bem de Cuiabá espera-se que esse retrato inicial frustrante se modifique para uma gestão mais edificante e à altura das expectativas que criou.