Grupo de milícia do RJ liderado por ex-PM fatura por volta de R$ 3 milhões


  • Ex-soldado tem escolta de policiais, apesar de condenação e 14 mandados de prisão
  • Bando fatura R$ 3 milhões por mês e explora prostituição
ANA CLAUDIA COSTA (EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
SÉRGIO RAMALHO(EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
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Cartaz mostra foto e recompensa pelo ex-PM
Foto: Reprodução
Cartaz mostra foto e recompensa pelo ex-PM Reprodução
RIO - Era o início da madrugada de um sábado de fevereiro passado, quando uma patrulha da PM parou em frente a uma casa em Cosmos, bairro da Zona Oeste com cerca de 77 mil habitantes e um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da capital. A música em volume máximo não foi o motivo para a presença dos policiais. Eles faziam a escolta do ex-PM Toni Ângelo de Souza Aguiar.
Expulso da corporação há quatro anos, ele tem em seu nome 14 mandados de prisão e duas condenações na Justiça. Nada disso o impede de circular pela região e comandar a maior milícia em atuação no estado. Toni Ângelo ou Erótico — apelido que ganhou graças ao gosto por orgias com adolescentes — figura no topo da lista dos mais citados em ligações recebidas pelo Disque-Denúncia. No primeiro trimestre deste ano, o serviço registrou 613 chamados sobre milicianos na Zona Oeste e um aumento de 25,6% em relação às 488 denúncias do mesmo período de 2012.
Em muitas denúncias, são relatadas as relações suspeitas entre o miliciano e PMs da ativa. Para promotores da 20ª Promotoria de Investigação Penal (PIP) não resta dúvida de que Toni permanece em liberdade graças a conivência de policiais corruptos que atuam na região. Antes de ser expulso, ele foi lotado por quase cinco anos no 27º BPM, que cobre Santa Cruz, Paciência, Sepetiba, Guaratiba e Pedra de Guaratiba, onde o Papa Francisco celebrará missa. Os cinco bairros, onde vivem 497,8 mil pessoas, foram anexados recentemente à área da milícia.
Milicianos fizeram acordos com traficantes
A área de influência do miliciano inclui ainda Campo Grande, Inhoaíba, Santíssimo, Realengo, Bangu e Padre Miguel, além de Cosmos, bairro citado como reduto do grupo paramilitar. Passa de um milhão o número de moradores dessa região, onde Toni Ângelo dita as regras e cobra “taxas de segurança” para vans, ágio na venda de botijões de gás, agiotagem, gatonet e venda de filmes e produtos piratas. Toni, segundo investigações, também atuaria na exploração de casas de prostituição e produção de filmes pornográficos. O faturamento mensal do bando é estimado em R$ 3 milhões.
Esse valor pode ser ainda maior, segundo o delegado Alexandre Capote, da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco). Parte desse dinheiro alimenta o esquema de corrupção que garante a impunidade de Toni.
O miliciano age de forma diferente dos antigos chefes do grupo paramilitar: o ex-deputado estadual Natalino Guimarães e seu irmão, o ex-vereador Jerominho, que foram condenados e presos em penitenciárias federais fora do estado. A dupla não permitia a ação de traficantes no território da milícia. Já Toni, segundo investigações da Draco, teria feito uma aliança com traficantes das favelas de Antares e do Barbante. Pelo acordo, ele receberia um percentual do ágio pela venda de botijões de gás nas duas comunidades e as quadrilhas ficariam livres para negociar drogas. Caberia ainda aos traficantes sumir com os corpos de vítimas da milícia.
No último dia 10, a Justiça concedeu o 14º mandado de prisão contra o ex-soldado, acusado de envolvimento nos assassinatos de dois jovens que foram levados à Antares e teriam tido os corpos queimados.
Ocultação de corpos
A estratégia de ocultar as vítimas evita o aumento do número de homicídios na região, que em contrapartida apresenta o maior percentual de registros de desaparecidos da capital. Para o delegado Alexandre Capote, a milícia chefiada pelo ex-soldado da PM age como se fosse uma grande empresa criminosa, inclusive se associando à contravenção:
— Há indícios de acordos com o tráfico e com o jogo do bicho.
Procurado, o corregedor da PM, coronel Waldyr Soares Filho, diz que, de 2006 a 2012, 75 policiais foram expulsos por envolvimento com milícias. Ele disse que as Delegacias de Polícia Judiciária Militar (DPJMs) investigam dezenas de denúncias sobre envolvimento de policiais da ativa com a cobrança de ágio na venda de gás, transporte alternativo e grupos de extermínio. Ele disse que o crime de milícia é de apuração da Polícia Civil e que sempre colabora quando algum PM está envolvido nas denúncias.


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