Amantes do samba ganham mais opções em Cuiabá


Gênero que é a cara do Brasil conquista cada vez mais admiradores e espaço na capital

Mary Juruna/MidiaNews
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Samba encontra cada vez mais adeptos em Cuiabá
DÉBORA SIQUEIRA
ESPECIAL PARA O MIDIANEWS
“Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba pra gente sambar”

A música eternizada pela cantora Alcione encontrou eco em Cuiabá com a proliferação das casas de samba, onde o público pode se deliciar com as várias vertentes do gênero, em especial, o samba de raiz. Novas gerações de músicos e frequentadores assíduos mais jovens começaram a se formar de uns cinco anos para cá.

O proprietário do Chorinho, Antônio Marinho de Souza Fortaleza, comenta que muitos jovens começaram a conhecer Chico Buarque, Nelson Cavaquinho, Geraldo Pereira frequentando o local.

“São músicas que não tocadas na mídia. Aqui além de formamos geração de músicos nas rodas de samba, tornamos o Chorinho em uma casa de cultura”, disse.

Além do Chorinho, há outros locais onde se pode ouvir um bom samba (e dançar, para quem gosta) como o Sinfonia Bar, Cuiabano Café Bar, Canela Fina, Pump. Há ainda outros locais onde são tocados samba de partido alto, samba-enredo, e também o pagode, que é visto como o primo pobre dos sambistas.

“O samba é poesia, o pagode é mais comercial. No samba você vê letras lindas, maravilhosas, letras com história de vida como Noel Rosa, Cartola, Ismael Silva, Adoniran Barbosa, você vê a riqueza. O pagode tem vida útil”, avaliou o proprietário do Sinfonia Bar, Aislan Honorato de Moraes, que também já tocou em bandas de pagode locais.

Ao lado de Raoni Ricci, Luciana Bonfim, Raul Fortes, dentre tantos outros, Aislan é um dos jovens da nova geração apreciadora do samba de raiz. Começou tocando nas rodas de samba do Chorinho até que resolveu abrir seu próprio local há quase três anos, não por necessidade, mas por hobby. “Esta não é a minha principal renda. Sou professor universitário, leciono em escola particular. Isso aqui para mim é um prazer”.

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Aislan e Kety se conheceram no samba e estão noivos
Foi por meio do Chorinho e do samba, é claro, que ele e a noiva Kety Preza Nogueira se conheceram. Ela, desde nova, aprendeu a gostar do chorinho.

O pai costumava reunir os amigos para tocar música do gênero. “Passei a gostar e fico feliz com o crescimento do samba em Cuiabá tanto em casas do ramo, como nos bairros”.

No Sinfonia, Aislan tentou manter as características de um fundo de quintal mantendo uma mangueira e sob os galhos estão as mesas e cadeiras. As rodas de samba são tocadas pela cantora Semites Marques Pessoa, do grupo Raízes do Samba.

“Quando comecei a cantar samba em Cuiabá eram poucos que tocavam. Acho que fomos um dos pioneiros aqui”, diz a rondoniense.

Ela lembra que a partir de 1988, com o Buxixo´s, o samba de raiz começou a ganhar adeptos e com o Chorinho no início da década de 90 passou a se consolidar. No repertório de Semites está Clara Nunes, Nelson do Cavaquinho, Demônios da Garoa, Cartola.

Casal assíduo

Faça chuva, faça sol o casal Valmir Molina e Sandra Molina vão para o samba todo final de semana.

“Sou carioca, o samba está no sangue”, brinca. Ele comemora o fato de Cuiabá abrir mais oportunidades além do lambadão e do sertanejo, com mais opções para os apaixonados pelo gênero musical.

“Aqui tem as casas tradicionais de samba, mas há outros locais que tocam o samba como o Top Fest, Casa de Bamba, Prefixo do Samba, Café do Porto e Fundo de Quintal. Há muitas opções de terça-feira a domingo. Isso é muito bom”, avaliou Valmir Molina.

Damas do samba

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As amigas Inez e Adelaide vão três vezes por semana no Chorinho
As amigas aposentadas Inez Silva, 66 anos, e Adelaide Pinto de Queiroz, 74 anos, são figurinhas carimbadas do Chorinho. Há 20 anos que, religiosamente, as duas frequentam o lugar acompanhadas pela galera delas.

O samba chegou à vida delas quase como terapia. Inez estava separada há três anos e praticamente vivia em casa depois de 18 anos de casamento.

“Na primeira saída após a separação fui ao Chorinho e tomei gosto. É o meu calmante, o meu antidepressivo. Meus filhos me dão apoio, aqui fiz amigos, tive paqueras também”, contou.

Adelaide também tem história semelhante. No começo ficaram tímidas, mas hoje são quase “sócias” do local. “Primeiro a gente vinha toda sexta-feira, agora nós frequentamos todas as quartas, sextas e sábado, sem faltar”.

Ela diz que após a chegada maciça de um público mais jovem no terreno da velha guarda, deixou os mais antigos ressabiados. Mas, com o tempo, passaram a gostar da interação com o novo tipo de público. “Hoje está tudo misturado. Eles têm o maior respeito pela gente, quando o local está lotado, abrem caminho para a gente passar”.

A nova guarda de sambistas e frequentadores de casa do gênero parecem também ter aprendido a lição da música Moleque Atrevido, de Jorge Aragão:

“E quando pisar no terreiro
Procure primeiro saber quem eu sou
Respeite quem pode chegar onde a gente chegou”
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