Demora em efetivar denúncia compromete a punição do agressor


Na maioria das vezes, o responsável pela violência sexual está dentro da casa da vítima ou é uma pessoa de sua confiança


A maioria das crianças e adolescentes que são abusados sexualmente demora a relatar o fato. A inocência, o medo e o temor de prejudicar a vida do agressor que, na maioria das vezes, está dentro de casa ou é uma pessoa de sua confiança é a razão de tanta resistência. Esse tempo de angústia e retração atrapalha as investigações da Polícia Civil, porque as provas materiais - como lesões e DNA do agressor - não podem mais ser identificados ou coletados.




“O maior problema geralmente é a falta de testemunhas, porque geralmente são crimes sexuais cometidos por parentes das vítimas, pessoas que a criança tem mais confiança. Pelo fato de a maioria dos autores serem da família, a criança tem vergonha de colocar a situação e só vai expor o caso cerca de cinco anos depois”, explica a delegada Iara França Camargo da Delegacia Especializada de Proteção da Criança e do Adolescente (Depca). A demora se deve também pela falta de conhecimento da vítima. “Normalmente, as crianças pequenas não entendem o que está acontecendo e acabam escondendo”, afirma.

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Uma pessoa que sofre qualquer tipo de abuso é encaminhada ao hospital para realizar exames e comprovar a violência. A denúncia feita muito tempo após o crime pode inviabilizar a produção de provas materiais, porque já não é possível coletar material para comprovar a agressão. “Dificulta muito a investigação quando não tem mais o DNA do agressor. Nesses casos, é necessário buscar outros fatores para tentar provar o crime”, diz Iara França.


Evidências


Segundo a delegada, o depoimento da criança é essencial quando não há as provas materiais. O comportamento do suspeito também é investigado e pode incriminá-lo. “Levantamos a vida pregressa do autor para ver que tipo de comportamento ele tem na sociedade. Geralmente, a pessoa que abusa de crianças é repetitiva e ligada à pornografia infantil. Também baseamos no depoimento do autor, que normalmente cria um álibi e cai em contradição”, comenta Iara França.


Mesmo diante de provas levantadas pela polícia contra o suspeito, normalmente os autores acabam esperando o julgamento em liberdade. “O problema é que fazemos da delegacia o pedido das prisões dos suspeitos e os juízes exigem provas mais consistentes para decretar a prisão preventiva. Mas isso é difícil pois, às vezes, temos apenas as palavras das vítimas. Em vários casos, o crime é denunciado apenas anos depois. Quando o fato é revelado no momento da agressão, é possível fazer a prisão em flagrante”, explica a delegada.


Para a coleta de provas materiais, sobretudo de material genético do agressor, o ideal é que a vítima seja submetida a exame pericial até 72 horas depois de consumado o abuso. É importante que a vítima não tome banho e mantenha sujas as roupas usadas quando o ato foi consumado. Isso garante a manutenção de vestígios de pele, unha, cabelo, ou mesmo sêmen - materiais que possibilitam a identificação do agressor por meio de exames de DNA.
http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/pedofilia/2012/05/18/noticias_internas_pedofilia,294958/demora-em-efetivar-denuncia-compromete-a-punicao-do-agressor.shtml