"Hoje a prostituição infantil está muito ligada à droga"

"Hoje a prostituição infantil está muito ligada à droga"

Hoje
"Hoje a prostituição infantil está muito ligada à droga"
Edgar Silva, actual dirigente do PCP, era nos anos 80 um jovem padre com experiência social em bairros problemáticos que denunciou casos de abuso sexual de menores e de prostituição infantil na Madeira. Acaba de lançar um livro, edição de autor, sobre a história desses anos, 'Os Bichos da Corte do Ogre Usam Máscaras de Riso': um alerta para a realidade actual
Sentiu necessidade de transpor para a escrita a experiência da Escola Aberta e do Movimento do Apostolado da Criança. Qual o objectivo?
O livro tem as duas componentes. O avivar da memória dos anos 80 e 90, de um tempo em que a Igreja teve medo da própria Igreja, e que incomodou em muito o próprio governo regional porque, a certa altura, as denúncias estariam a atingir lugares capitulares do próprio regime. Nesse sentido, o livro é explicativo.

Mas diz que é também um alerta. A quê?

Neste momento, vive-se uma outra realidade, as toxicodependências. Hoje os abusos sexuais e prostituição de menores já não são os "meninos das caixinhas" que andavam pelas ruas, crianças muito pequenas. Hoje são crianças-adolescentes dos 10 aos 13 que precisam de angariar dinheiro para o consumo diário. São factores novos.
Nos anos 90, havia uma inconsciência social sobre o abuso sexual de menores e prostituição infantil. O processo do Padre Frederico, o filme de Solveig Nordlund, Até Amanhã Mário, foram, de alguma forma, alertas. As pessoas acordaram com as imagens dos vídeos da Bélgica e com os processos de investigação da Polícia Judiciária, em 1997?
Nos anos 90 havia uma série de práticas que se viam despudoradamente... estava à vista de todos mas havia até uma certa condescendência social. Algumas famílias tinham alguma honra em ter um filho ou filha menores, contratados, pagos, por alguém de lhes proporcionava uma fonte de rendimento. A verdade é que hoje que isso mudou. A ideia que tenho que não haverá casos com crianças de quatro ou cinco anos. Hoje são crianças-adolescentes a partir dos 10-13 anos associado a um consumo precoce de drogas duras. A realidade é diferente.
Acha que se alteraram as causas mais profundas do problema?
Por vezes, aparece uma certa confusão conceptual e das realidades. Uma é a realidade da pedofilia, do abuso sexual de menores e isso pode acontecer independentemente do estrato social. Outra realidade é a prostituição infantil, filha directa da pobreza, sobretudo ao nível de crianças adolescentes.

Ainda se mantém alguma ligação ao turismo, por exemplo?

Sim. Há lugares de encontro em áreas. Mas é difícil pô-los a falar. Por um lado, o acompanhamento feito no tratamento da metadona permite alguma ligação aos serviços de saúde. Mas nos bairros sociais da Madeira, como da Nazaré da Nogueira, muitos encontram-se por fora destes circuitos da saúde. Faz falta um trabalho de permanência de rua. Seria bom que houvesse um movimento de voluntários que mergulhassem nestes lugares mais descalços da sociedade, independentemente das instituições a que pudessem estar ligadas. Mas para entrar nesse mundo é preciso muito trabalho, é preciso ganhar confiança... Mas não é impossível.

0 Comments:

Postar um comentário

Para o Portal Todos Contra a Pedofilia MT não sair do ar, ativista conclama a classe política de MT
Falta de Parceiros:Falsos militantes contra abuso sexual e pedofilia sumiram, diz Ativista
contato: movimentocontrapedofiliamt@gmail.com