Suspeitos de estupro em van vão a TJ do Rio para serem ouvidos por juiz


Delegada da Deam foi exonerada nesta segunda por Martha Rocha.
Outras cinco vítimas de roubo também procuraram a polícia.

Priscilla SouzaDo G1 Rio
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Wallace Aparecido Souza Silva, de 22 anos, e Jonathan Foudakis de Souza, de 20, deixaram a Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat), por volta das 17h desta segunda-feira (1º), em carro da polícia rumo ao fórum do Tribunal de Justiça do Rio, no Centro. Eles foram chamados pelo juiz para que um estrangeiro que foi vítima roubo e teve a namorada estuprada e também roubada dentro de uma van na Região Metropolitana do Rio, na madrugada de sábado (30), os reconhecesse em juízo.
O jovem, de 23 anos, foi espancado com uma barra de ferro, teve hemorragia no olho o fratura da face, e reconheceu os dois através de um vidro, sem que tivesse contato direto. Como a mulher, de 21 anos, que sofreu fratura no nariz, já deixou o país, a ideia do juiz era produzir prova antecipada, para o caso de o rapaz também sair do Brasil. Segundo a polícia, os dois são estudantes de intercâmbio de uma faculdade na Zona Sul da cidade.
“Conversamos com a promotora e o juiz concordou que fosse feita produção antecipada de prova. A vítima, que está no Brasil, vai ser ouvida em juízo e fazer o reconhecimento para que a prova seja mais contundente e forte. Para ele não voltar ao Brasil se não desejar”, explicou o delegado Alexandre Braga.
Mais cedo, policiais saíram em diligência, possivelmente para capturar o terceiro envolvido, cuja identidade a polícia não revela. Até a última atualização desta reportagem, ele não havia sido encontrado.
Delegada é afastada
Depois da divulgação do crime contra os estrangeiros, outra mulher, brasileira, de 21 anos,disse também ter sido estuprada. Ela já havia registrado queixa na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), no dia 23 de março e, nesta segunda, a chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, que conversou com a vítima pessoalmente, decidiu exonerar do cargo a delegada Marta Dominguez, titular da Deam de Niterói, "por entender que não foram adotadas as medidas necessárias de investigação".
Também foi exonerada do cargo a diretora Posto Regional de Polícia Técnico Científica (PRPTC) de São Gonçalo, a perita Martha Pereira, uma vez que ficou constatada a demora no atendimento à vítima, no Instituto Médico Legal (IML) do município. "A delegada Martha Rocha pede desculpas pela prestação de serviços e lamenta que a gestão dos dois órgãos envolvidos estivessem sob a responsabilidade de mulheres, justamente as que deveriam ser mais sensíveis em episódios como este. A chefe de Polícia determinou ainda que a Corregedoria Interna da Polícia Civil analise os procedimentos realizados", diz a nota enviada pela assessoria de imprensa da Polícia Civil.
'Festa do mal'
Para o delegado, os suspeitos presos não demonstraram estar arrependidos. “Jonathanconfessou o estupro. Wallace imputou aos demais a conduta. Ambos negaram terem estuprado a brasileira. Ninguém demonstrou arrependimento verdadeiro. A intenção do grupo era satisfazer a luxúria. Compraram inclusive com o cartão de uma das vítimas energético e bebidas alcoólicas porque possivelmente queriam fazer ‘festa do mal’", explicou o delegado.
Mais cinco vítimas de roubo
Nesta segunda, mais cinco pessoas procuraram delegacias para registrar queixa de roubo. Em todos os casos, a dinâmica é semelhante: as vítimas entram na van em Copacabana, na Zona Sul, e são assaltadas ou abusadas dentro do veículo.
Wallace, de camisa azul, e Jonathan foram presos na noite deste sábado (Foto: Lívia Torres/G1)Wallace, à esquerda, e Jonathan foram presos na
noite deste sábado (Foto: Lívia Torres/G1)
Um senhor que não quis se identificar prestou depoimento no início da noite desta segunda na Deat. Ele foi a quinta pessoa a reconhecer a dupla. Motorista de van, ele teve todos os passageiros roubados numa madrugada de fevereiro. O novo depoente reconheceu a dupla, que teria agido com um jovem "de aproximadamente 17 anos", graças às imagens da TV e à van utilizada no caso mais recente, que teria feito a cobertura da ação em que ele ficou refém.
"Eles assaltaram todos os meus passageiros e mandaram as pessoas descerem no [aeroporto] Santos Dumont. Esse branquinho [Jonathan] ficou apontando a arma para a minha cabeça. Isso é uma quadrilha perigosa", disse.
Outro assaltado, um professor de 32 anos, contou que no dia 3 de março pegou a van no bairro para seguir para a Lapa, assim como o casal de estrangeiros. O veículo transportava ao menos 15 pessoas e, na altura do Aterro do Flamengo, Wallace, segundo a vítima, mostrou uma arma e anunciou o assalto, roubou os pertences dos passageiros e os abandonou no Aterro, entre o Museu de Arte Moderna e o Santos Dumont. Segundo policiais, o professor também reconheceu os suspeitos pelas reportagens na TV e depôs nesta segunda na delegacia.
A Deat investigam se os suspeitos alugam a van para a prática de crimes no Rio há cerca de um ano. Está descartada a participação do dono da van utilizada no sábado, que foi alugada pelos suspeitos, no crime. O veículo tem autorização para fazer o trajeto São Gonçalo-Niterói. O delegado que vai abrir um novo inquérito para apurar os casos de roubo.
Imagens
Foram divulgadas imagens dos suspeitos abastecendo o veículo em um posto de gasolina de São Gonçalo, na madrugada de sábado. De acordo com policiais, a turista e o namorado estavam sob poder dos criminosos no momento que as imagens foram gravadas, como mostrou oFantástico deste domingo (veja no vídeo ao lado).

O namorado da vítima foi algemado, espancado com uma barra de ferro e roubado, assim como a mulher. Os dois foram liberados pelos criminosos em Itaboraí, após passarem cerca de seis horas em poder dos bandidos, da 0h às 6h. A identidade das vítimas não foi divulgada pela polícia.
“Eles se revezavam no motorista, na condução do veículo enquanto os outros dois atrás praticavam o crime de estupro e a violência contra o namorado da vítima com o veículo em movimento”, conta o delegado assistente da Delegacia Especial de Apoio ao Turista (Deat), Rodrigo Brant.
O delegado disse não ter dúvidas quanto a participação dos três suspeitos nos casos de violência sexual contra a brasileira e os estrangeiros. Segundo Braga, eles vão responder pelos crimes de estupro, roubo com três causas de aumento de pena — utilização de arma (eles usaram uma barra de ferro para espancar o rapaz), concurso de pessoas (quando há mais de uma pessoa praticando um crime) e privação de liberdade das vítimas por período relevante de tempo — e corrupção de menores. Segundo as vítimas, um menor de idade, que desceu no meio do caminho, trabalhava como cobrador da van. As penas somadas podem chegar a 29 anos de prisão.

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