O discurso repetido com frequência de que vai deixar a carreira para cuidar da própria vida vai na direção oposta às ações de José Riva que se entrelaça a todos os setores capazes de definir uma eleição para governador.
Fernanda Leite / Cuiabá-MT
Ele responde a mais de 100 processos, mas parece que, nem isso vai fazer com que o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, José Riva (PSD) saia do poder.
Riva vem entrelaçando classes e entidades civis e públicas e aos poucos, todos os grupos estão se conectando com o cacique, a começar pelas Prefeituras onde o PSD teve o maior número de prefeitos eleitos nas últimas eleições.
São 39 municípios nas mãos do cacique.
Outra demonstração clara do poder de Riva é relativa ao próprio cargo. Riva se mantém há anos como presidente da Assembleia ou no revezamento como primeiro-secretário da Casa. No ano passado, para se manter no poder como presidente durante os quatro anos na Assembleia, Riva chegou a mudar a Constituição do Estado e o Regimento Interno da Assembleia, conquistando o direito de concorrer às eleições da Mesa Diretora, dentro da mesma legislatura o que, antes, era proibido pelo Regimento e pela Carta Maior do Estado.
"Vou deixar a carreira política; está na hora de cuidar da minha propria vida". Esta frase vem recheando entrevistas de José Riva quase em contraposição à carreira: foi o prefeito mais jovem do Brasil, em Juara e, na última eleição, foi o deputado estadual proporcionalmente mais votado do Brasil.
O discurso não se coaduna com a praxis. Riva busca articulação com todos os instrumentos de conquista do poder embora tal não se tenha verificada na seara dos movimentos sociais onde encontra forte rejeição.
Câmara de Cuiabá
O caso mais recente de sua força política foi constatado, claramente, nas manobras para a eleição da Mesa Diretora da Câmara de Cuiabá, que teve como presidente eleito no último dia 01 de janeiro, João Emanuel (PSD).
Ninguém duvida que Riva foi o manobrista desta eleição que resultou na vitoria de seu genro. Na articulação, até membros do partido da oposição compuseram com o grupo vencedor. O vereador Onofre Junior (PSB), que tinha uma candidatura própria, renunciou para fazer acordo com o presidente eleito.
Houve aqui um caso de traição por parte do Onofre Jr. que acabou na vice de João Emanuel, devido o próprio partido ter lançado candidatura própria em chapa encabeçada por Adilson Levante (PSB), uma iniciativa fadada ao desastre.
Riva passa a ter voz ativa, também, no Parlamento cuiabano, podendo, por exemplo, travar, ou constranger, o governo de Mauro Mendes, se esse for o desejo seu e de sua nova base de apoio, mas, disposto a concorrer a uma eleição majoritária, o deputado, com certeza, vai procurar mais somar que dividir. Até agora, ao que se verifica, esta é a forma de se conduzir.
Riva e trânsito livre
A vereadora por Colíder, Ismaili Donassan (PSD), foi eleita a nova presidente da União das Câmaras Municipais de Mato Grosso - UCMMAT, no final do ano passado. Para ter êxito ela contou com o apoio de Riva que, certamente, vai esperar retribuição política a seus planos futuros.
Já na Associação dos Municípios de Mato Grosso- AMM – até poucos dias quem presidia o órgão era Meraldo Sá (PSD) que se afastou do cargo para fazer parte do staff de Silval Barbosa (PMDB) na Secretaria de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar – Sedraf.
No Executivo Estadual, Riva tem boas relações com o Governo do Estado, tanto é que recentemente, a Assembleia blindou e negou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) autorização para processar o governador Silval Barbosa (PMDB). O governador é acusado pelo Ministério Público Federal - MPF de 6 crimes, supostamente cometidos quando ele era deputado estadual e primeiro-secretário da Assembleia, entre 1999 e 2002 em dobradinha com o atual presidente do Poder Legislativo.
Processos seriam obstáculo?
O empenho do deputado Riva em reverter uma decisão colegiada do Judiciário que o enquadrava na "Lei da Ficha Limpa" é um demonstrativo de intenções de preservar a sua elegibilidade e quem, supostamente, está disposto a encerrar a carreira não teria se engajado com tanta ênfase junto ao Tribunal Superior Eleitoral.
Quanto aos mais de 100 processos, indiscutivelmente, todos versam sobre os mesmos tipos penais e, independente do número, tais ações criminais poderiam converter-se num único processo até porque, em relação ao deputado Riva e os desmembramentos efetuados em relação a Silval Barbosa e Humberto Bosaipo, ambos com prerrogativa de foro no Superior Tribunal de Justiça, tornam a abordagem penal como crime na modalidade "continuidade delitiva" passível, tão somente, de agravamento da pena em uma eventual condenação.
Não é difícil supor que as mais de 100 ações sejam um expediente jurídico que tenha implicações políticas para fortalecer um possível discurso eleitoral contrário à candidatura Riva a um cargo majoritário.
A única situação que lhe torna possível preservar o "status quo" atual de manter-se à distância dos processos, embora não da prescrição, é manter-se deputado estadual ou governador do Estado já que numa suposta condição de senador e sob a vigilância da mídia nacional, poderia ser abatido em pleno exercício do mandato pela própria Casa Legislativa Superior onde seria novato e sem condições de articular uma absolvição em procedimento "interna corporis".
Daí a se inferir que o político se articula em várias frentes para a postulação que, inegavelmente, sempre foi o seu desejo por mais que a conveniência recomende não assumi-lo de forma ostensiva.
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