A menina de 5 anos que, segundo a Polícia Civil de São Paulo, foi estuprada em agosto por um morador de rua de 37 anos dentro da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Professora Ana Marchione Salles, na Zona Leste da capital paulista, não quer mais voltar a estudar no mesmo colégio. A criança está com medo e traumatizada, segundo informou ao G1 a mãe da vítima, a auxiliar administrativa Priscila, nesta quinta-feira (25). Ela pediu para não ter seu sobrenome divulgado.
Um desenho de um homem barbado, com traços infantis, feito à mão pela criança, e o depoimento assinado por ela mesma ajudaram na identificação do suspeito de abusar da garota.
O sujeito chegou a ser preso pela Polícia Militar no início de outubro, mas foi solto porque não havia sido detido em flagrante, como determina a lei eleitoral. Apesar de negar a autoria do crime, o desempregado foi indiciado por estupro de vulnerável. Ele responde em liberdade. O acusado dormia numa obra vizinha à escolinha, e teria entrado no local ao pular um muro.
Após o segundo turno das eleições municipais, o 24º Distrito Policial, em Ermelino Matarazzo, deverá pedir à Justiça a prisão preventiva do morador de rua até um eventual julgamento. O único problema será localizá-lo, já que o mesmo não possui residência fixa e telefone. Apesar de ter informado à investigação que morava perto de um viaduto, seu paradeiro é considerado desconhecido por moradores da região.
A criança contou na delegacia que no dia 10 de agosto ela brincava sozinha no pátio da escola, no Jardim Popular, quando o agressor a agarrou por trás, beijou sua boca e abusou dela. Ao chegar em casa, a mãe notou que a filha estava com a calcinha manchada de sangue e resolveu procurar os professores e a polícia.
Traumas
“Na escola, as professoras falaram que ela havia caído do escorregador e se machucou. Achei a história estranha porque minha filha me falou de um homem mau e fedorento que a pegou. Foi aí que procurei a delegacia”, disse Priscila, que obedeceu ao pedido da filha e a retirou da escola. "Ela está com medo de voltar para a escolinha. Agora faz aulas de balé e artes marciais. No próximo ano, vou colocá-la numa escolinha particular".
Segundo Priscila, a menina está traumatizada. “Ela mijou na cama, está tendo pesadelos. A psicóloga que a está atendendo falou que é um trauma que vai amenizar, mas não vai ser apagado da memória. O pior é saber que o homem que fez isso está solto e sabe onde a gente mora, mas a gente não sabe onde ele mora”, disse a mulher, que chegou a ver o suspeito do estupro na delegacia. “Estava nervosa e falei que ele era um demônio por ter abusado da minha filha. E ele só dizia com o hálito de cachaça: ‘não fui eu, senhora’”.
O delegado titular Marcel Druziani afirmou nesta quarta-feira (24) que investiga se funcionários falharam na segurança da menina. Procurada para comentar o assunto, a Secretaria Municipal de Educação (SME) divulgou nota informando que abriu procedimento para apurar o caso.
Laudo
Logo após prestar as declarações na polícia, a menina passou por exames no departamento de sexologia forense do Programa Bem-me-quer de Atendimento Especial às Vítimas de Violência Sexual, do Hospital Pérola Byington, onde apresentou “equimose arroxeada, com 1,5 centímetro de extensão, irregular” no ânus.
Laudo do Instituto Médico-Legal (IML) da Polícia Técnico Científica, feito no hospital, indicou que a criança “apresenta lesão anal compatível com a prática de atos libidinosos”. O documento, no entanto, não é conclusivo ao sugerir também que o ferimento pode ter sido causado de forma “acidental, automanipulação ou decorrente de alterações de hábito intestinal”.
Mesmo assim, a mãe da vítima contou à equipe de reportagem que, por precaução, a filha tomou coquetel anti-HIV e outros remédios contra doenças sexualmente transmissíveis.
Lei eleitoral
Em 4 de outubro, um homem com roupas sujas e com as mesmas características físicas da ilustração feita anteriormente pela vítima na delegacia foi reconhecido pela criança quando ela caminhava com avó em direção ao mercado. Ele foi detido pela PM e levado para o 24º DP, onde negou o crime. Mesmo assim, acabou indiciado por estupro de vulnerável.
“O desenho feito por ela, bem como seu relato preciso, o reconhecimento feito por ela e a ida dela com os investigadores até a escola, indiciando onde foi pega, o laudo do IML, enfim, todas essas provas formaram a convicção da autoridade policial para determinar o indiciamento do suspeito. Para se ter uma ideia, o suspeito chegou a ser colocado do lado de mais três homens, com as mesmas características dele e a menina voltou a reconhecê-lo. Não há dúvidas de que foi ele”, disse o delegado Marcel Druziani.
Para revolta da família da menina, no entanto, esse homem foi posto em liberdade na mesma data em que tinha sido detido pela PM, que em cumprimento à lei eleitoral só permite a prisão de suspeitos em flagrante. No dia 7 de outubro ocorreria o primeiro turno das eleições municipais. Nenhum eleitor pode ser detido ou preso cinco dias antes e 48 horas após o encerramento das eleições, exceto em casos de flagrante ou mediante sentença condenatória.
Fonte: G1-SP