· Forças de Paz encarnam a Liga da Justiça – bravos sob a bandeira azul celeste e o escudo da legalidade desembarcando num inferno qualquer para restabelecer à força a humanidade perdida. Tudo corre bem para os que se deslocam velozmente em veículos brancos no meio da sujeira alheia. A ONU protege.
· Mas um lamaçal de denúncias ameaça manchar o sonho azul. Um despacho reservado de 2001 revelado pelo Wikileaks esta semana revela que 8 de cada 10 meninas da cidade marfinense de Toulepleu se prostituiu para soldados da ONU em troca de comida. Pelo menos 16 militares envolvidos no caso foram afastados.
· NNão é a primeira vez. Há dez anos, na Bósnia, os mesmos capacetes azuis zanzavam de braços dados com vítimas convertidas em prostitutas da ONU. No Haiti, foram os uruguaios que, de acordo com ONGs locais, estupraram um jovem de 18 anos, na semana passada.
· OOntem, ao abrir a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, a presidente Dilma Rousseff disse que é preciso não apenas se preocupar com a “responsabilidade de proteger”, mas também com a “responsabilidade ao proteger”, o que significa não apenas enviar forças de paz para proteger civis em perigo no mundo, mas garantir que estas forças não venham, por ação ou omissão, a piorar a sorte dos civis.
· TTrata-se de um recado claro a todos os que se entusiasmaram com a inacreditável ação da ONU e da Otan no Líbano. Embora o emprego da força tenha sido motivado por algo inicialmente nobre – evitar um massacre de civis – a coisa toda evidentemente se excedeu depois que as potências ocidentais se valeram de um mandato legal para cometer um grave crime: apoiar um grupo rebelde na destituição de um presidente.
· AAs brutalidades cometidas por soldados das Nações Unidas não estão restritas a crimes sexuais, nem a missões apoiadas em mandatos amplos e duvidosos, como na Líbia.
· QQuando estive no Haiti, em maio do ano passado, junto com o repórter fotográfico Thiago Queiroz, fui cercado por dezenas de estudantes da Faculdade de Etnologia da Universidade do Haiti, ao lado do palácio de governo. Eles nos levaram por um tour macabro no local onde, na mesma semana, o Exército Brasileiro havia se envolvido numa operação rocambolesca que terminou com uma longa lista de acusações de espancamento, tortura e assédio moral, tudo regado a um festim de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e disparos de munição real (leia mais sobre o caso aqui).
· OO episódio foi considerado "grave" pelo então porta-voz da ONU no Haiti, David Wimhurst, que mostrava uma expressão de real repugnância quando falava do assunto.
· FForças de Paz não são geneticamente ruins. E a ONU não é intrinsecamente cruel. Com todos os seus defeitos, o Capítulo 7 da Carta das Nações Unidas, que autoriza o uso da força para restabelecer ou manter a paz, ainda é o instrumento mais eficaz para evitar massacres como o de Ruanda, em 1995, quando 500 mil civis foram mortos de um dia para o outro sob o olhar cúmplice do mundo todo.
· QQuem vai como coronel volta como general. Quem vai como sargento, volta como capitão. Soldados agregam uma insígnia no uniforme, todos recebem soldos mais gordos e veem de perto – a uma distância normalmente segura – o famoso “teatro de operações”, que, até então só existia em quadros negros e jogos de guerra de mentirinha.
· MMas em nenhum momento é possível esquecer que as Forças de Paz da ONU são também uma força armada, que desempenha um papel político e pode, ela mesma, converter-se em algoz da humanidade que pretende defender.
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Fonte: OperaMundi
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