Mãe de menina assassinada acha que prisão é pouco

Mãe de menina assassinada acha que prisão é pouco


Tamanho da fonte: A- A+Mãe de Karla Jamile não conseguia esconder a dor e a revolta pelo crime cometido contra a filha





Rosimare Silva do Espírito Santo tem um olhar vago, distante, contemplando a todo momento o rosto da filha caçula, através de um pedaço de vidro num pequeno caixão. O esquife está colocado no meio da sala da casa, onde Rosimare mora com outros dois filhos, o marido e um irmão. De seus olhos escorrem lágrimas há quase três dias, como se fossem uma fonte sem fim de desespero, dor e revolta. Rosimare está assim desde a noite do último domingo, quando encontrou o corpo da filha caçula, Karla Jamile do Espírito Santo, de apenas 7 anos, escondido debaixo de uma cama de um dos quartos da residência.



No dia do velório de Karla, Rosimare falou ontem com a reportagem do DIÁRIO sobre o crime e o que espera que aconteça com o acusado, que é seu irmão.



Karla foi morta, segundo Rosimare e a polícia, pelo próprio tio, Nelris Silva do Espírito Santo. A menina apresentava várias escoriações pelo corpo, um ferimento na boca e marcas de estrangulamento no pescoço. Ela também estava nua da cintura para baixo e com sinais de ter sofrido violência sexual. Nelris escondeu o corpo da criança embaixo da cama onde dormiu, depois de passar quase vinte e quatro horas bebendo na companhia de outro irmão e do cunhado, o pai da vítima.



A mãe de Karla soube através de outra filha, de 9 anos, que antes de o crime ser cometido, Nelris tentou atraí-la com bombons para dentro do quarto onde estava, junto com Karla e o irmão de 11 anos. O garoto e a mais velha saíram correndo do local, mas deixaram a pequena Karla na companhia do tio, sem jamais imaginar o que poderia acontecer.



Rosimare recorda que Karla era uma criança brincalhona, que estava sempre rindo. “Era só alguém dar carinho pra ela que ela ia com a pessoa. Estava sempre achando graça. Brigava com ela e ela ficava rindo. Mas sempre conversei com meus filhos, porque a gente vê tanta coisa na televisão. Não converse com ninguém estranho, eu disse, e isso (o crime) veio acontecer na minha casa. O próprio tio. Uma pessoa dessa é um monstro”, desabafa Rosimare.



VIOLENTO



Nelris, diz Rosimare, vinha eventualmente até sua casa e sempre que bebia se tornava violento. “Ele não podia ver um gato que tentava matar o bicho. Se uma pessoa discutisse ou contrariasse ele, era a mesma coisa, queria brigar, matar. Mas nunca imaginei que ele fosse capaz de uma coisa dessas”, afirma Rosimare.



A companheira de Nelris, que mora em Barcarena, foi acionada no dia do crime por Rosimare. Ela relatou o ocorrido para a mulher e esta duvidou que Nelris fosse capaz de tal ato. “Ela me perguntou se eu tinha certeza se ele era capaz de fazer uma coisa dessas e eu respondi que sim. Pedi que ela ligasse para a polícia. ‘Avisa porque tu és mãe como eu. Hoje sou eu quem está passando por isso, amanhã pode ser você. Liga se ele aparecer’, mas depois não consegui mais falar pelo telefone com ela”, relata Rosimare.



Foi uma irmã de Rosimare que seguiu de carro para Barcarena e obteve algumas informações sobre o paradeiro de Nelris. Por meio de uma vizinha do suspeito, ela soube que a atual mulher do acusado disse que precisava fazer uma viagem às pressas, pois tinha um parente doente. Tudo leva a crer que ela estaria acobertando e protegendo Nelris. Mas a polícia está acompanhando o caso e espera prender o acusado o mais rápido possível.



Rosimare diz que tudo que espera daqui para frente é “que a justiça seja feita e que a polícia consiga prender o acusado. “A prisão para ele é pouco. Ele me destruiu também. Ele levou um pedaço de mim. Meus filhos são tudo pra mim”, disse emocionada.



Enterro foi marcado por forte emoção



“Porque ele fez isso com a minha filha?” Sob forte emoção, essa foi a frase proferida por Rosimare Silva do Espírito Santo, mãe de Karla Jamile, referindo-se a Nelris Silva do Espírito Santo, seu irmão. O desabafo foi feito instantes depois do sepultamento, ocorrido no final da manhã de ontem, no cemitério Girrassol, no bairro das Águas Lindas, em Ananindeua. Familiares e amigos também compartilharam desse triste sentimento.



Antes, na capela do cemitério, a tia e o irmão de Karla, de apenas 11 anos, preferiram o silêncio para expressar o a dor que os assolava naquele momento. Diante do corpo, mãe e familiares fizeram orações e classificaram Karla Jamile como um anjo, cuja alma estava sendo entregue a Deus. Como última homenagem, todos cantaram hinos religiosos.



Como o acusado de ser o autor do assassinato, Nelris Silva do Espírito Santo, tio de Karla Jamile, ainda não se apresentou espontaneamente à polícia, provavelmente a delegada Jaine Pastana, titular da Delegacia do Júlia Seffer - onde o caso foi registrado – irá solicitar à Justiça a prisão preventiva dele. Familiares de Nelris acreditam que ele pode ter fugido para Marituba e estar escondido na residência de parentes da mulher com a qual mantém um relacionamento amoroso.



Sociedade cobra punição rigorosa para o crime



Casos de violência contra crianças e adolescentes crescem a cada dia. Elas são vítimas dos mais diversos tipos de crime: espancamento, agressão sexual, afogamento, entre outros. E o mais agravante é que muitas vezes a violência parte de alguém da própria família.



O último caso noticiado, ocorrido com a pequena Karla Jamile, 7 anos, encontrada morta em sua própria casa, na última segunda-feira, tem como principal suspeito o tio, Nelris Silva. Há a suspeita de que a criança tenha sido vítima de abuso sexual. Diante de casos chocantes como este, fica a dúvida: existe algum meio de proteger as crianças de possíveis agressores?



Para Domingas Martins, coordenadora executiva do Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense, a situação da violência no Estado já atinge um nível alarmante. “Existem muitos casos de violência e alguns nem são noticiados. Aqui no bairro (Bengui) houve uma época em que era muito comum. Essa situação é absurda”, conta. Domingas aponta a impunidade como um dos motivos pelo elevado número de casos de violência. “Falta punição para os responsáveis. Se pagassem pelo crime, os números não cresceriam tanto”.



A coordenadora acredita que a maneira de punir os culpados também pode ser modificada. “A lei precisa ser mais rigorosa e punir de fato. É preciso uma punição educativa, com acompanhamento de psicólogos, orientação e educação. Se não, a pessoa sai da prisão pior do que entrou e volta a cometer os mesmos crimes”.



Mas, para tentar oferecer alguma proteção às crianças, Domingas afirma que o melhor caminho ainda é o diálogo. “A família precisa ter diálogo e a sociedade precisa discutir o assunto. A igreja e a escola também precisam trabalhar nessa orientação”. O padre Bruno Sechi, coordenador geral do Emaús, concorda que a orientação em casa e na escola são fundamentais. “Os pais precisam estar atentos ao comportamento da criança e tomar providências imediatamente caso percebam algo errado”, diz. (Diário do Pará)

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