Abuso sexual e pedofilia são tabus na sala de aula




Projeto inclui aulas contra a pedofilia na grade curricular das escolas municipais


Pedofilia e abuso sexual de crianças e adolescentes ainda são temas proibidos nos colégios da capital. De 20 escolas frequentadas pela classe média e média alta, consideradas referências e excelências em ensino na cidade consultadas esta semana pelo Jornal da Tarde, apenas duas se dispuseram a falar abertamente sobre como tratam esses assuntos com seus alunos dentro e fora das salas de aula. Na rede pública o cenário não é diferente.

“Realmente, ninguém quer falar sobre isso. O uso indevido da internet até é abordado, mas o abuso sexual ainda é um assunto tabu”, admite o vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), José Augusto de Mattos Lourenço. Especialistas no combate a esses crimes sustentam, entretanto, que as escolas têm papel imprescindível, tanto na prevenção quanto no enfrentamento dessas questões.

Para o psicólogo Angelo Motti, um dos idealizadores do programa Escola que Protege, apoiado pela Unesco e desenvolvido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), é no ambiente escolar onde mais facilmente pode ocorrer a identificação desses abusos. “A escola é o grande caminho. Infelizmente os estabelecimentos de ensino não estão preparados para identificar, prevenir ou combatê-los”, afirma. Na semana passada, diretor de uma escola particular de Marília foi indiciado por crime de pedofilia.

As alegações dos colégios para não responder à reportagem foram diversas. Muitos informaram, por meio de assessoria de imprensa, não ter interesse em falar sobre o tema ou que não tem projetos específicos para tratar desses assuntos com seus alunos.

Em pelo menos três casos, foi solicitado ao jornal que enviasse e-mail com as questões e, informado que, posteriormente, caso houvesse interesse, os colégios responderiam. Não responderam. Outros estabelecimentos disseram ainda que a temática é complexa e de difícil compreensão pelas crianças. Ou que orientam seus alunos em aulas sobre sexualidade. Mas nessas ocasiões não falam explicitamente sobre os cuidados que os estudantes poderiam vir a ter para se proteger de um abuso e nem os informam sobre os perigos que os rondam. Um único colégio revelou explicitamente ter “medo” de ser “mal interpretado” caso falasse sobre pedofilia e abuso sexual.



Na rede pública, o cenário não é muito diferente. Os temas não são tratados do ponto de vista pedagógico, mas como caso policial. Tanto a Secretaria Municipal de Educação quanto a Estadual informaram fazer parte de comissões de enfrentamento à violência sexual e exploração comercial de crianças e de adolescentes e afirmam capacitar seus professores a observar indícios que possam sugerir que os estudantes estejam sendo vítimas desse tipo de violência. O passo seguinte seria a comunicação do caso à polícia. Mas não informam quantos desses comunicados foram realizados até agora.

As escolas mantêm ainda mesas redondas para discutir o seu papel na rede de proteção à infância. Além de da violência sexual, a doméstica também é abordada, como o debate que vai ocorrer no dia 7 de abril, no Centro de Educação Unificado (CEU) de Paraisópolis, na zona sul, com técnicos da Secretaria Municipal de Educação. As duas pastas afirmaram ainda que a orientação direta aos alunos se dá por meio de convênio que ambas têm com a Secretaria Estadual da Segurança, executora do Programa Educacional de Resistência às Drogas e Violência (Proerd).

Segundo a assessoria da Secretaria Estadual da Educação, policiais que ministram essas palestras nas escolas também abordariam a questão da pedofilia e do abuso sexual contra crianças e adolescentes. A pasta da Segurança, entretanto, negou que esses dois assuntos, em específico, sejam abordados nessas ocasiões.

Para a professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Neide Noffs, o abuso sexual e a pedofilia não são tratados em classe porque, além de serem temas desconhecidos, são polêmicos. “Professores têm dificuldades emocionais, inclusive, de colocar esses temas em aula.”

Com o intuito de orientar os alunos a se protegerem da violência sexual, o vereador Toninho do Gloria apresentou projeto de lei que visa incluir na grade curricular aulas para a prevenção e orientação aos alunos das escolas municipais a cerca da pedofilia, "pois prevenção é a melhor forma de combater a pedofilia " , defende o vereador. O nome da aula será Não à pedofilia - Protegendo a criança através da educação.

De acordo com o vereador Toninho do Gloria, o projeto tem por objetivo alertar os alunos para esse tipo de violência tão comum e praticado muitas vezes por familiares. “É importante ter informações sobre o assunto para poder prestar ajuda à criança vítima desse tipo de violência”, diz.

O presidente da ONG MT contra a pedofilia, Toninho do Gloria, destacou que a ONG a qual ele presidente realiza um trabalho forte de combate à violência contra a criança e o adolescente, capacitando profissionais para atuarem com esse público. “É um crime que acontece comumente ao nosso lado e por isso, é uma luta de todos os pais, professores e comunidade. Só teremos êxito se todos se unirem para combater a pedofilia”, comentou.

Toninho destacou mais uma vez que situações de violência e de pedofilia devem ser denunciadas por qualquer pessoa que tenha conhecimento, para que a criança vítima de abuso seja encaminhada para atendimento médico e psicológico. A denúncia pode ser feita para o Conselho Tutelar, ou ainda, o informante pode discar o número 100 ou 197.

Primeiro semestre: Casos de pedofilia em Várzea Grande aumentam 17%

Conforme um levantamento do setor de estatística da PJC, somente em Várzea Grande foram registrados 41 casos de abusos sexuais a crianças e adolescentes na idade de 0 a 17 anos no primeiro semestre deste ano. Comparado ao mesmo período do ano passado, foram denunciados 35 casos na segunda maior cidade do Estado – um aumento de pouco mais de 17%. Já em Cuiabá, no primeiro semestre deste ano, as estatísticas indicam queda – foram denunciados 230 casos de pedofilia, contra os 261 que chegaram ao conhecimento da polícia no mesmo período de 2009. Mas os números não correspondem à realidade.

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