Abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes precisam ser denunciados


A passagem do Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infanto-Juvenil - neste sábado 18 de maio - traz à tona uma constatação preocupante: a falta de denúncias relacionadas a esses tipos de crimes é uma prática comum, informou a psicóloga e coordenadora do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Joneize Selesque Costa.
"Percebemos que ainda há muito medo, vergonha. Há muita inibição para que façam a denuncia. As pessoas demoram muito tempo para conseguir denunciar, é realmente muito difícil. Uma pessoa vitimizada fica fragilizada e não tem condições emocionais de romper com algumas limitações impostas pelo agressor. É mais comum a falta de denúncia, infelizmente", disse Joneize a este Diário.
De acordo com a coordenadora do CREAS, não apenas as famílias vitimizadas, mas toda a população corumbaense precisa se conscientizar que a denúncia é extremamente fundamental para combater o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. "A denúncia é importantíssima. Essa data [18 de maio] marca o abuso de uma criança que foi morta e não houve punição. Queremos proteger nossas crianças", afirmou. A psicóloga salientou que é preciso ter um olhar preventivo e ficar atento ao comportamento das crianças e adolescentes. "Temos que pensar num cuidado preventivo. A criança quando tem alteração de comportamento é importante que chame a família. O comportamento [muda] é expresso por extrema estimulação sexual ou inibição extrema. É importante ficar atento a qualquer alteração e observar com olhar cuidador preventivo", alertou.
Com uma rede de enfrentamento à exploração e abuso sexual infanto-juvenil atuando integrada em Corumbá, a denúncia pode ser feita no próprio CREAS; no Conselho Tutelar ou na Delegacia de Atendimento à Infância; Juventude e Idoso (DAIJI). "A rede se conecta. Houve abuso registra na Delegacia, que notifica o Conselho encaminha para o CREAS. A rede funciona em conjunto, interligada para que todos possam abordar, na sua instância, e da forma mais delicada possível o problema", orientou a coordenadora do Centro de Referência Especializado.
Fotos: Anderson Gallo-Marcelo Fernandes/Diário Online
Coordenadora do CREAS explicou que casos devem ser denunciados para que víima e família tenham acompanhamento psicológico
A falta de denúncia é possível entender pela fragilização que vítimas e famílias sofrem, mas é preciso levar o caso a conhecimento das autoridades policiais - e da rede de proteção - para que os culpados sejam punidos e se estabeleça um freio para esse tipo de crime. "A família fica fragilizada, a vítima do abuso e agressão fica física e emocionalmente fragilizada, é muito difícil denunciar. Ela tem vergonha, medo e sentimento de culpa por achar que ela permitiu que aquilo ocorresse, ela perde forças para tentar denunciar. A vítima não acredita que algo possa mudar porque está abalada emocionalmente, pois perdeu a confiança nas pessoas e na vida de forma geral", complementou.
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social realiza um trabalho multidisciplinar visando a reconstrução da família e recuperação das vítimas. Oferece atendimento psicossocial com psicólogos, advogados, orientadores, assistentes sociais. São realizadas visitas às casas para entender a realidade social dessas crianças; adolescentes e famílias.
Agressor não tem perfil delineado; pena pode chegar a 15 anos
Joneize Costa alertou que os crimes de violência e abuso sexual acontecem em todo o lugar e não possui uma "cara" para identificá-lo e por esse motivo é preciso atenção aos sinais implícitos que crianças e adolescentes dão quando são vítimas de uma brutalidade. "Acontece em corumbá e em todo o lugar. O abuso sexual ocorre em qualquer instância; não tem classe social, região, cor, idade. Ocorre em qualquer lugar e de diversas formas possível. Essa data é para transformar a população em parceiros, cuidadores das nossas acrianças e adolescentes", argumentou completando que um sinal pode ser queda no rendimento escolar. "Uma criança agredida quebra o desempenho escolar; sua atividade social; quebra sua relação com as pessoas, perde confiança e se sente inferiorizada", disse.
Outra orientação é que o agressor não tem um perfil bem delineado e pode estar em qualquer lugar. Geralmente, ele tem proximidade com vítima e família. "Espera-se que o agressor tenha as características de ‘abusador', mas não é assim. Muitos desses abusos, as pessoas estão próximas, têm afinidade, boa apresentação, profissão, um núcleo com estruturação familiar. Se aproxima da vitima para fazer mal a criança e família. Muitas vezes estão muito próximos das vítimas, moram pertos, frequentam a casa e de certa maneira fazem parte da família", completou a psicóloga que coordena os trabalhos do CREAS.
Titular da Delegacia de Atendimento à Infância; Juventude e Idoso (DAIJI), a delegada Priscila Anuda Quarti Vieira explicou, de maneira bem simples e direta como a legislação trata abuso e exploração sexual infanto-juvenil.
"Abuso é quando é praticado contra menores até 14 anos. A lei trata como estupro de vulnerável, é crime hediondo. A pena varia de oito anos a 15 anos de prisão. A partir de 14 anos é enquadrado como exploração sexual, é quando alguém dá algo em troca para conseguir sexo. A pena varia de quatro a 10 anos de prisão", informou.