| Autor(es): Por Gisele Paulino | Para o Valor, de São Paulo |
| Valor Econômico - 19/04/2013 |
Não há dados precisos sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil. Entretanto, a maior referência para o assunto são os números do Disk 100, serviço de utilidade pública para receber demandas relativas a violações de direitos humanos, como a exploração sexual infantil, implementado em 2003 pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH). Em 2012, o serviço recebeu 155.336 denúncias, das quais 77,5% (120.344) relacionadas a violações de direitos humanos de crianças e adolescentes. As denúncias são encaminhadas aos serviços da rede federal, estadual e municipal de atendimento à criança.
A cena de exploração sexual é típica das cidades de praia do Nordeste brasileiro. Turistas nacionais e internacionais cercados por meninas menores de idade são observadas por aliciadores. Incomodado com a situação, Jair Meneguelli, presidente do Conselho Nacional do Sesi envolveu a instituição em num programa com esse objetivo. Com o projeto Vira Vida, criado há quatro anos, colocou cursos do Sistema S à disposição de adolescentes em situação de risco. Com acompanhamento psicossocial, assistência médica, capacitação profissional, espera dar a esses jovens uma chance no mercado de trabalho formal. "Não estamos inventando a roda. Estamos trazendo o mundo empresarial para dentro do problema", diz Meneguelli.
O programa está presente em 23 municípios brasileiros. Neste período, atendeu 3,1 mil adolescentes, dos quais 1.640 concluíram seus cursos. Por meio de parcerias com empresas públicas e privadas, 1.078 estão empregados. O restante participa de processos seletivos e aperfeiçoamento profissional.
Ao entrar para o Vira Vida, o jovem ganha R$ 500 mensais, sendo que R$ 100 ficam na poupança que será resgatada no final do curso. O projeto acompanha o jovem por um ano. O investimento é de R$ 18 mil ao ano por adolescente ou cerca de R$ 1.500 por mês. "A maioria dos adolescentes foi explorada sexualmente dentro da própria casa, veio da rua ou teve envolvimento com drogas. Há grandes chances de que esse jovem se torne um infrator. E então vai custar ao Estado R$ 5 mil mensais. Não apenas R$ 1.500", diz.
Meneguelli trabalha para que o Vira Vida torne-se política pública. Um dos diferenciais do programa é sua metodologia com forte conexão com a realidade desses meninos. Quando idealizado, o projeto usou como base pesquisas de especialistas na área, entre eles, o trabalho de Maria Lúcia Leal, professora da Universidade de Brasília (UNB), que acompanhou por três anos a vida de 22 adolescentes.
Com apoio da rede local, ela fez uma análise sociocultural e comportamental desses jovens. Tentou entender os motivos pelos quais esses adolescentes rompem com suas famílias. "São vítimas de uma série de violências, inúmeros conflitos familiares, mães que sofrem com violência de parceiros, e pais que também trabalharam quando crianças." Em sua opinião, é fundamental fortalecer a relação com a escola, o atendimento à saúde e os arranjos na família. "Mesmo com o Estatuto da Criança e do Adolescente sendo uma das legislações mais avançadas do mundo, o Brasil tem muita fragilidade neste ponto. "Os projetos construídos nas últimas décadas não conversam muito entre si", afirma a professora.
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Projeto do Sesi ajuda jovens que sofreram exploração sexual
abril 19, 2013
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